Sobressalto. O impulso vem do meio do peito, com a força de um soco em
direção ao
teto. Ele estava deitado em sua cama quando o alarme tocou. O corpo reagiu de forma brusca. Ele não havia colocado os calçados e o relógio já ditava a primeira ordem. Sobressalto, mais uma vez. Ele olhava pela janela entre aberta do quarto e revia o céu. Revia aquela cor linda que o dizia: "Está na hora de acordar. Está na hora de voltar a reviver tudo, mais uma vez." Aquela cor indicava que não era mais noite, porém não era ainda dia. Sobressalto. Os olhos piscam rapidamente. Irritação nas órbitas oculares. Lembrança do último choro passa rapidamente em sua cabeça. Assim como a ideia vaga e infantil que ele tem de vida. Coça os olhos. Eles doem. Sobressalto, novamente. Peito dá solavanco no ar em
direção ao
teto. O alarme tocou pela segunda vez. O susto é sempre grande, por dois motivos: 1) o silêncio em seu quarto é infernal, e todo som é mais audível no silêncio; 2) o silêncio é reconfortante e
tranquilizador, qualquer alternância repentina o causa irritação, ainda mais se o que causa a mudança repentina na altura de sons no ambiente for um alarme, a irritação e o susto é maior. Por tanto: sobressalto, numa repetição
matutina. Sempre duas vezes. Ele estica seu braço esquerdo, pega o alarme , e com os olhos irritados por ter coçado desliga-o tendo certeza de que não irá tocar pela terceira vez essa manhã. Mais uma vez olha pela janela. Ainda tem algumas estrelas, poucas. Os pássaros começam a trabalhar lá fora. Nesse momento ele aperta os olhos. Franze um pouco os lábios. Contrai alguns músculos dos braços e das pernas.
Abdômen. Solta toda a musculatura. Mais uma vez. Retira devagar o lençol branco-sujo de sua cama. Senta na beirada da cama. Olha seus pés. Mexi alguns dedos. Coloca as mãos nos joelhos. Respira profundamente. Mais uma vez. Coloca os chinelos e vai em
direção ao banheiro.