domingo, 30 de setembro de 2012

Professor Ricardo - parte I

Tranquilamente tomava meu café. Estava frio dentro da cafeteria. Uma senhora muito feia na mesa ao lado me causava mais desconforto ainda naquele lugar. Eu queria apenas relaxar. Tomar um café quente, fumar cigarro e comemorar. Era um dia muito importante para mim. Finalmente fui efetivado. Seria professor universitário. Ninguém acreditava que um zé ninguém como eu conseguiria. O único da família que conseguiu terminar alguma coisa. Ao mesmo tempo que me sentia feliz, um certo desconforto existia. Não havia ninguém para dividir aquilo. Mas não me importava no fundo. Aliás, naquele momento no café a única coisa em que eu realmente queria era que minha torta de chocolate com maracujá chegasse de uma vez e que a mulher feia da mesa ao lado fosse embora. Eu era um professor de história, mas não precisava passar por aquilo. Ao chegar a torta levemente peguei um pedaço dela e levie a boca. Suavemente o mastiguei. Era uma delícia. Era meu brinde. Meu momento. Ali eu cuspia em todo mundo. Quando o telefonei tocou:
- Alô. Senhor Ricardo?
- É este mesmo. Quem fala?
- Aqui quem fala é Renata da Santa Casa. Estou telefonando pois sua irmã Paula, acaba de dar a entrada no hospital.
O diálogo com a moça seguiu. Fiquei irritado no primeiro momento. Se o atendimento não foste tão horrível naquela cafeteria, eu já teria acabado a torta e recebido o telefonema na rua. Mas não. Justamente no começo da torta me ligaram. Eu deveria me apressar? Ou acabar a torta? Estava uma delícia. A mistura de chocolate com maracujá sempre me agradou. Trufa de maracujá é algo delicioso. Mas já não podia comer em paz a minha torta. Eu deveria andar ir para o hospital. Minha irmã tentou se matar. Não sei quantas consequências esse ato que ela teve vai resultar. O primeiro: estragar o gosto da minha torta, o gosto de minha vitória pessoal. Sai bem devagar da cafeteria. Chovia. Eu andava perto das paredes dos prédios para não me molhar. Havia muitas pessoas fazendo o mesmo. Cada vez que me aproximava do hospital, mais me irritava.