Agora devo dormir.
Deve-se lembrar que é noite.
Um cachorro preto ronda minha
cama-navio. Navegando por entre réplicas ouço um poeta falar:
- Cuidado Poetinha, é noite de
temporal! Hoje não tem pesca. É noite.
Devo pensar em que? Em nada.
Chamarei o vento de qualquer maneira. Assoviarei baixinho. Será uma bela
despedida. As despedidas são sempre fortes e inesquecíveis. Meu sono é
colorido. Trabalhoso. Ainda não
descansei. Espero morte de gozo eterno. Sairei pelo mar de réplicas,
atravessarei solilóquios, sobre um mar imenso. Milhões de personas-afogadas.
Algumas eu irei acordar.
- Têm gente, Poetinha, que sai e
volta com as mãos vazias. Morre na beira da praia. Na areia branca, com o corpo
cansado.
Mas eu morrerei no verde do mar.
Nas ondas verdes do mar.
Sonho em ser um afogado. Tornarei-me
Poeta deixando de ser.
- Eu ficarei aqui. O mar é bonito
de se ver. Vou te ver lá.
Ficarás me olhando. Eu irei me
afogar e você não conseguirá fazer nada. Ficarás parado.
Dirás baixinho, olhando para as
ondas, para o bem longe, tentando me achar em tanto mar, dirás baixinho:
- Morreu. Morreu.
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