domingo, 12 de maio de 2013

Terra mansa do Cafundó!


Sobraram muitos lugares no trem. O velho trem da alegria que partia para Cafundó, metrópole cafona. Mas os poucos que foram estavam a elegancé (acho que é assim que se escreve “nos trinques” em francês). Camisas repletas de frutas, casacos coloridos, sapatos em 3D, animais silvestres e alguns políticos-de-nome como bichos de estimação, quase nenhum levava malas. E a grande maioria era maior de idade. Acima de 70 anos, eu diria. Mas não vou falar isso.
A partida do trem era marcada por um som de trompete. Um velho senhor de cabelos ruivos e bigode negro, com a camisa repleta de palmeiras, chamava-se Jodel. Ele que tocava a “Flauta mágica da Rússia”, assim ele chamava o trompete. Ou simplesmente de “Jane”. Ele tocou “A rã”. Era isso que chamava todas as excentricidades para pegar o trem, para Cafundó.
Quando os poucos entravam no trem se estranhavam com os gritos de “Água!” que o moço do bilhete exclamava. Assim todos assumiam o papel da leveza. E também percebiam que estavam parados, ou que iriam parar. A palavra para seguir o trem era “Ahiê!”, referência a estação de Cafundó. Lugar repleto de mar. De luar inconfundível. Espaço musical possível de se tocar o céu com os pés no chão. Terra de Mamãe, próximo do trabalho de papel, com cheiro de maracujá. Praias brancas, areia-veludo, água-mar-requeijosa, calor-aquoso, nuvem-invísivel, sombra-voluptuosa, bares-sem-vergonhas, e outras coisas inrefletidas e inventadas. Mas parada necessária antes de Cafundó.
O grande fundador de Cafundó é Emoriô. Negro alto, que andava com um piano nos braços, de Chuí a Amapá, antes mesmo de existir Portugal. Viveu mais que muitos anos. Conheceu Xangô! Batizou Macunaíma! Dançou com Botafogo! E sambou com Vinícius! Homem arretado, de fala mansa, de passos firmes de tango, com o maior sorriso do mundo. Dizem até que conhecia o amor! Que tinha o calor do Sol no paladar!!! Nossa, isso tudo foi demais! Todos devem ir para “Ahiê!” Terra de mar! Mar cerca da Lua! Lua namorada de homem vivo. Saudade de amor à pino para quem quiser lembrar a base da água ardente! Que lugarzinho bom de inventar!!!
O trem deve sair daqui a pouco. Logo mais o cheiro de maracujá tomará conta do trem. Atravessando o Mar Grande, o mar de prata, a mata verde, o Tietê, Espírito Santo, o Maracatu-pós-atômico, o mato grosso, a gafieira verde e rosa, a cama inteira do Sr. Maranhão, e o que mais você quiser... Além de qualquer saudade o trem vai partir.
Mas parece que alguém sem passagem no trem quer entrar!
Quem será?

Nenhum comentário:

Postar um comentário