1
Deveríamos de início escolher o local para ser enterrado. Nada de clichê neste momento. Ousadia! Sepultamentos em grupos, duplas, trios, deitados, em pé, dobrado, sim! A posição do corpo seria importante. Fotos de poses de yoga podem ajudar os preguiçosos. Eu escolheria ser enterrado em algum lugar bem longe de qualquer centro urbano. No meio do mato não. Mas embaixo de uma pedra sim. Uma pedra grande e quadrada numa beira de estrada. Algum andarilho se sentaria nela, logo em mim, para descansar. Não haveria nenhum sinal de que eu estaria ali. Porque haveria? Outra alternativa seria ser balsamado e guardado na entrada de minha casa. Dessa forma poderia proteger o lar de minha família e de meus entes queridos, mesmo depois de morto. Deveria estar nu. Esta para mim seria a melhor opção, pois além de gerar segurança para a casa, seria pedagógico a qualquer estranho e as crianças: aproximando a relação delas com a morte.
2
Então você se sente totalmente inchado, ocupando mais espaço que o seu corpo suporta.
Então você tem vontade dormir, estás cansado demais, envelhecendo demais, escutando as mesmas coisas de sempre, mas não consegues dormir.
Então a única nostalgia que tens é dos momentos em que estavas sozinho.
Nesse momento vês que nem silêncio se faz.
Nem agora.
Então imaginas quando ficarás velho.
Caquético. Tremendo num ritmo estruturado pela doença fatal. Esquecendo o próprio nome e sendo definido pela demência senil. Enrugado e insatisfeito.
Esperando pela indesejada. Sozinho. Não tendo aceitado a vida até agora.
Numa vida de tantas falhas, de tantos fracassos, você só pensa que até sua própria morte irá falhar.
Como agora.
3
Um dia falarei tantas coisas travadas e presas, que minha voz não será só minha, será de todos os outros.
Principalmente aqueles que bebem perto da porta para que quando caírem seu corpo seja notado.
Falarei para aqueles que criam contos e poemas em suas cabeças o dia inteiro por não estarem fazendo aquilo que gostariam.
Para grande parte da população que enlouquece com inúmeros cavalos sendo espancados todos os dias.
Sobre essa nação de homens, mulheres, crianças e idosos de rua que tanto cresce entre nós.
E quando eu falar aquilo que eu quero, me repartirei em inúmeros pedaços.
Deixarei a atmosfera em linhas azuis acompanhado pelo sorriso do Sol.
Meu corpo será julgado e serei enforcado.
Mesmo neste momento, meu corpo saberá quem eu amei.
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