ela dormia com o rosto coberto
enquanto uma árvore imensa
fazia sombra em seu corpo
que se fundia com o verde
o pai dela
soturno e senil
chegou
rígido
entrou em casa
me dizendo que levaria ela embora
sai
não havia vento na rua
nem canto qualquer
nem de pássaro
nem grilo
nem pedra
me aproximei da mulher
que agora acordada falava comigo
mas me recusei olha-lá
até então era uma estranha
porque a levaria?
tudo calmo
suspenso
manhã macia
com um sorriso
ela falava coisas que eu não entendia
talvez falou de uma viagem a praia
citou a palavra sossego
repetiu a expressão "seria bom" algumas vezes
mas no total era incompreensível
projeções difíceis
para tal momento sereno
sem compromisso algum
porém
na minha cabeça a separação
o olhar de Minerva
o sorriso do pai satisfeito
mas não tinha depois
era ali
a beijei
por algum impulso
mais para calá-la do que outra coisa
eu beijava de olhos abertos
mirando o chão verde
fechei os olhos e me entreguei
ao abrir os olhos
a vi pela primeira vez
não tinha nome
não era de verdade
ninguém se parecia com ela
mas estava ali
me lembro dos lábios e do cabelo
a árvore ao fundo
e um infinito azul celeste
o céu estava limpo
o Sol devia estar castigando
não é certo
mas ali a sombra tornava a vida
gostosa e amena
eu havia experimentado
primeiro a separação
e depois o romance
me acordei apaixonado
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