quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Ao inverso

ela dormia com o rosto coberto
enquanto uma árvore imensa
fazia sombra em seu corpo
que se fundia com o verde

o pai dela
soturno e senil
chegou
rígido
entrou em casa
me dizendo que levaria ela embora

sai

não havia vento na rua
nem canto qualquer
nem de pássaro
nem grilo
nem pedra

me aproximei da mulher
que agora acordada falava comigo
mas me recusei olha-lá
até então era uma estranha

porque a levaria?
tudo calmo
suspenso
manhã macia

com um sorriso
ela falava coisas que eu não entendia
talvez falou de uma viagem a praia
citou a palavra sossego
repetiu a expressão "seria bom" algumas vezes

mas no total era incompreensível
projeções difíceis
para tal momento sereno
sem compromisso algum

porém

na minha cabeça a separação
o olhar de Minerva
o sorriso do pai satisfeito
mas não tinha depois
era ali

a beijei
por algum impulso

mais para calá-la do que outra coisa

eu beijava de olhos abertos
mirando o chão verde

fechei os olhos e me entreguei

ao abrir os olhos
a vi pela primeira vez

não tinha nome
não era de verdade
ninguém se parecia com ela
mas estava ali

me lembro dos lábios e do cabelo
a árvore ao fundo
e um infinito azul celeste

o céu estava limpo
o Sol devia estar castigando
não é certo
mas ali a sombra tornava a vida
gostosa e amena

eu havia experimentado
primeiro a separação
e depois o romance

me acordei apaixonado

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