quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

deu sede

acordei de ressaca e mais aquilo tudo que sei
que foi esquecido por expulsão passional
gravado em um corpo que despertava já excitado
rosando como criança que ensaia a futura nostalgia da vida

não era tão assim

na verdade estava com medo de me apaixonar
e desapaixonar de novo
ficar conformado com uma típica solidão
só por causa dela ou dele
enquanto a ordem do mundo segue

aquela pele mergulhada ao sol
funcionava como um imã sexual
todo o teu texto
aquele reflexo de tortura
poesia pagã declamada ao banho

misturado a isso
o fio da fumaça mergulhado no conhaque
os braços a metros de tempos
não relembrava e sim inventava

me metamorfoseava num banho de rio
no meio daquele bar daqueles olhares tolos e esquecidos
aqueles egos petrificados que não cantam a séculos
ali aqui lá neste lixo imenso
eu o super mosca em meio ao Tom e semitom
enquanto o amanhecer brincava de anoitecer
cinzeiro lotado e tirando onda de saia
via aqueles olhos negros me comerem
como se eu fosse um herbívoro suculento

é verdade que sou carnívoro
toco a ferida pela mistura de dor e prazer
enquanto Mozart trepa com sua prima na cozinha ou na sala tanto faz

enquanto isso eu ergia colunas de sangue branco
dentro daquela deusa hidratada pelo sol
que na mucosa acumulada
entre lapsos de desejos
o ensaio do encontro

veio a morte

acordei de ressaca com a barraca armada
e com muita sede
sede mesmo



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