sou feito de cinzas
acumuladas em copo plástico de conhaque
acompanhado pelo silêncio
jaz em qualquer lembrança
meu corpo
mar urbano me causa náusea
cotidiana
não tenho tempo para dormir
assolado pelo sol
e por olhos castanhos
nunca vago
sempre presente
dizem que ando bebendo demais
fumando demais
mas faço isso para não atirar
nos homens que enchem as ruas
Schubert arranca meu teto agora
lembra princesa que me abençoou
com inúmeros dias felizes
e que como esses homens da rua
que tantos se suicidam sem ninguém saber
encho a boca para provocar ilusões
em mim mesmo
matando o que sobrou
hipnotizado pela Lua e pedindo a ela
que em vez de me fazer feliz
de me deixar em harmonia
que regue em calmaria a vida da quem tanto me fez feliz
que a faça subir em acrobacias ao céu
que tenha devaneios dentro da felicidade
mesmo que isso custe minha sanidade
minha solidão em mais um bar
repleto de homens solitários
mesmo que só reste baganas e filtros em meu ser
desalojado da vida
imundado
repartido
desfragmentado por minas terrestres nesta terra tropical
que queimem minhas reservas de fulgas da realidade
mas que mantenham
mesmo que lá no fundo
entre destroços de minha carne e pensamento
nas ruínas de minhas esperança
o pequeno jardim que mantenho em seu nome
que ele floresça
não pelo orgulho ou pela solidão
mas pelo seu sorriso
Textos, escolhas, cenas e ações. Eu deveria descrever o blog. Mas necessito de algo mais...
domingo, 16 de novembro de 2014
retorno
fiz a barba como tentado mudar de vida. cara nova, mas feições conhecidas, repetições em desejos e falsetes. no espelho observava a pele vermelha do sol e o cansaço escorrendo pelos olhos. você vai ficando mais resistente. mas ao que? lá fora agora é noite. logo vai ser dia de novo. haverá sol bem cedo, desânimo de sempre e uma tristeza diferente. a tristeza agora que sinto é destonante das outras. uma novo colorido, agora cercado de sol. imagino inúmeras vezes um deserto em minha volta. deserto bíblico. não acho ruela alguma para mim. vejo apenas avenidas. repletas. cheias. nenhuma delas obstruída, mas sim de passagem livre a um sem número de solidões. infinitas em qualidades. todos iguais e decaídos. o mundo se mostra deslizando ralo a baixo. felicidade aqui é um dia de folga. marcada em números: dia 5. o dia do pagamento. não deixa de ser triste não. o problema se mantém nas formas de orgulho que se apresentam. vejo dia a dia a pobreza, o sofrimento, o trabalho quase escravo, a não vida que não se leva em troca de uma camiseta empresarial, tudo isso é motivo de orgulho. o trabalho por horas e horas. inclui feriados, dias festivos, faltas em encontros familiares. tudo jogado ao lado. deslizando avenida a baixo. um sonho mal feito dentro do sacolejo de um ônibus. todos os problemas reunidos ali. sacos de lixo sentados, ratos em pé, porcos se esfregando. a carne mais barata é encontrada ali. apodrecendo em pleno sol, antes mesmo das sete da manhã. dona cida vende espetinho e cerveja. nunca dorme. esta sempre se encontra ali: beira de canal urbano, repleto de asfalto, a ida, a passagem, a volta, todos retornam ali. a vejam, se vejam, se esfregam. o suor diário do rosto ao ânus. senhora ao meu lado está triste desde o início do dia. mãos não aguentam o inchaço do calor. sente dores no joelho e come espetinho de linguiça. tem dificuldade de mastigar o que acontece a volta. deseja apenas dormir bem esta noite. todos querem isso. eu também. virada de esquina faz quase todos caírem ou acordarem no ônibus. queria que chovesse mil dias seguidos. que houvesse barcos e inúmeros feriados. peixes enormes cruzando a avenida brasil. como num sonho uma enorme rede cruzando o céu da cidade. resgatando os sonhos que ficam perto do céu. devemos aceitar que a fé é o pouco que sobrou. que a chuva de insetos faz de todos uma praga perpétua. estátuas ambulantes, autômatos com sangue, máscaras faciais de desengano, suspeita, desinteresse, cansaço, dor, assustado, de espera, desânimo, perda, invasão, roubado, tristeza, ausência, desilusão, não vou falar dos olhares. outra parada. sempre há uma parada. desejo comum aqui, ali, é descer num lugar diferente e ver se a vida muda. se há um outro lugar para morar, para viver. talvez haja depois de duas ou sete quadras uma bela praia. um tempo mais ameno, um lugar onde a pele não resseque e nem se desfaça antes dos quarenta anos. cachaça da boa. companhia da boa. mar do bom. agora, como se existisse em tempos como esse um depois, um breve vento fresco. ele parece acalmar os ânimos. o mundo aqui parece descasar em paz depois de um tempo. todos os dias são felizes. devemos pensar assim.
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