Textos, escolhas, cenas e ações. Eu deveria descrever o blog. Mas necessito de algo mais...
domingo, 16 de novembro de 2014
retorno
fiz a barba como tentado mudar de vida. cara nova, mas feições conhecidas, repetições em desejos e falsetes. no espelho observava a pele vermelha do sol e o cansaço escorrendo pelos olhos. você vai ficando mais resistente. mas ao que? lá fora agora é noite. logo vai ser dia de novo. haverá sol bem cedo, desânimo de sempre e uma tristeza diferente. a tristeza agora que sinto é destonante das outras. uma novo colorido, agora cercado de sol. imagino inúmeras vezes um deserto em minha volta. deserto bíblico. não acho ruela alguma para mim. vejo apenas avenidas. repletas. cheias. nenhuma delas obstruída, mas sim de passagem livre a um sem número de solidões. infinitas em qualidades. todos iguais e decaídos. o mundo se mostra deslizando ralo a baixo. felicidade aqui é um dia de folga. marcada em números: dia 5. o dia do pagamento. não deixa de ser triste não. o problema se mantém nas formas de orgulho que se apresentam. vejo dia a dia a pobreza, o sofrimento, o trabalho quase escravo, a não vida que não se leva em troca de uma camiseta empresarial, tudo isso é motivo de orgulho. o trabalho por horas e horas. inclui feriados, dias festivos, faltas em encontros familiares. tudo jogado ao lado. deslizando avenida a baixo. um sonho mal feito dentro do sacolejo de um ônibus. todos os problemas reunidos ali. sacos de lixo sentados, ratos em pé, porcos se esfregando. a carne mais barata é encontrada ali. apodrecendo em pleno sol, antes mesmo das sete da manhã. dona cida vende espetinho e cerveja. nunca dorme. esta sempre se encontra ali: beira de canal urbano, repleto de asfalto, a ida, a passagem, a volta, todos retornam ali. a vejam, se vejam, se esfregam. o suor diário do rosto ao ânus. senhora ao meu lado está triste desde o início do dia. mãos não aguentam o inchaço do calor. sente dores no joelho e come espetinho de linguiça. tem dificuldade de mastigar o que acontece a volta. deseja apenas dormir bem esta noite. todos querem isso. eu também. virada de esquina faz quase todos caírem ou acordarem no ônibus. queria que chovesse mil dias seguidos. que houvesse barcos e inúmeros feriados. peixes enormes cruzando a avenida brasil. como num sonho uma enorme rede cruzando o céu da cidade. resgatando os sonhos que ficam perto do céu. devemos aceitar que a fé é o pouco que sobrou. que a chuva de insetos faz de todos uma praga perpétua. estátuas ambulantes, autômatos com sangue, máscaras faciais de desengano, suspeita, desinteresse, cansaço, dor, assustado, de espera, desânimo, perda, invasão, roubado, tristeza, ausência, desilusão, não vou falar dos olhares. outra parada. sempre há uma parada. desejo comum aqui, ali, é descer num lugar diferente e ver se a vida muda. se há um outro lugar para morar, para viver. talvez haja depois de duas ou sete quadras uma bela praia. um tempo mais ameno, um lugar onde a pele não resseque e nem se desfaça antes dos quarenta anos. cachaça da boa. companhia da boa. mar do bom. agora, como se existisse em tempos como esse um depois, um breve vento fresco. ele parece acalmar os ânimos. o mundo aqui parece descasar em paz depois de um tempo. todos os dias são felizes. devemos pensar assim.
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