Textos, escolhas, cenas e ações. Eu deveria descrever o blog. Mas necessito de algo mais...
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
Ensaio para um Fiasco - 03
O tempo nunca volta. E isso resume grande parte da vida. Um barco navegava pelo mar. O mar o velejava. O vento o velejava. Eu buscava alguém para velejar. Mas o tempo nunca volta. A violência de uma decisão é assustadora. No mais simples dos casos, temos duas opções. Às vezes, para não dizer sempre, tomamos a decisão errada. O pior é que a decisão não tomada nos persegue. Ela continua como uma sombra, que nos vigia pronta para dizer: "Olhe aqui o que você perdeu!" Mas é discurso furado. Nenhuma das opções seria a melhor. Nenhuma mesma. As duas causam inúmeras ações, efeito dominó. E o pior é que levamos todas elas juntos. O tempo nunca volta. O senhor está sentado na praça. Ele olha para a sua netinha que brinca com as pombas. Num assobio do vento ele faz retornar todas as esquinas que ele dobrou. Os momentos onde o vento e o mar o velejavam. Suas mãos tremem. O coração fraco ainda mantém o ritmo da vida. Ele queria voltar a uma certa manhã em um certo dia da semana numa época longínqua. Retornar a uma velha cidade, pequena e nunca lembrada. Mas ele lembra: "Eu quero brincar com você." Era isso que ele queria dizer. Ele com o rosto virado para árvore. Vê sua amiguinha brilhando como um Sol, correndo em torno da casa para se esconder. Este jogo é eterno, todos sabem. Para ele, olhar a sua netinha é como olhar a Lua, é formular perguntas, é reformular a vida. Sua amiga, Ela, se esconde. E tem um certo momento em que ele não a acha. Ele revira o quintal, as árvores, a pequena cidade, cada canto de sua memória. Nada. Ele sente falta. Ele queria ver ela brincando com ele, d'ele, durante muito mais tempo. Mas há um vácuo estranho. O tempo nunca volta. Uma mania estranha essa do tempo. E Ele não tomou decisão alguma. Agora está velho demais. Leva a maior parte do tempo pensando nela caída no chão como criança, como Sol e Lua. As grandes nostalgias. O delírio do amor e pensando que ela ainda irá surgir. Por mais que tudo se desvie, que nada se encontre, indo contra o ritmo da vida, Ele sabe que justamente naquela época nasceu uma pequena flor em seu peito-jardim. Naquela época seu peito-jardim era enorme. Hoje... Bom, restou os perfumes. Restou as imagens, não só desta flor, mas de tantas outras que vieram depois. O tempo nunca volta. Mas a lembrança sim. E hoje foi o dia desta primeira flor. A única sem nome. Naquele tempo não se dava nome a nada. Mesmo não tendo nome, Ele sonha com seus cabelos negros e, andando nas ruas, Ele relembra do perfume, pra que em meio de tantas escolhas não feitas, de tantas vidas não vividas, Ele possa reencontrar um dia Ela.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
que bonito esse fiasco. =]
ResponderExcluir