segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Levi Brasileiro - segundo anúncio

Você não precisa fazer isso. O melhor movimento a se fazer é acreditar em uma angústia possível. Criar uma a altura de uma boa verdade. A crença na dor é maior que a da felicidade. Até porque a validade entre eles é totalmente distinta. Mas aqui estou eu: frente ao hospital da cidade. Hospital extremamente antigo, mas não o suficiente para me enganar que eu nasci ali. O máximo é que eu morra ali. Mas minha morte será planejada. Está planejada. Passei minha vida inteira vivendo a favor do acaso. Nunca tomei uma decisão premeditada. Sempre aceitei o caminho daquilo que eu sentia naquele exato momento em que eu não tinha controle de mim. Nunca tive. Repeti a palavra nunca inúmeras vezes na minha vida. Grande parte dela estava relacionada a problemas de saúde. Prefiro morrer do que permanecer em coma ou ligado a uma máquina que me alimente, enquanto agonizo e não faço nada da minha vida. Sem falar nos meus familiares me olhando com aquela cara de compaixão e pena. A semelhança deste estado com o qual estou agora é gritante. Todos nós somos miseráveis. Frágeis ao ponto de sermos animais que querem comer um ao outro. A vida para mim é um eterno afogamento em bando: sempre tem alguém querendo subir em você para ele sobreviver. Não são todos assim. Mas não é um só. Se for ele deve estar matando alguém. Agora mesmo, talvez ele seja aquele homem branco ali na esquina. Sim! Ele mesmo, que sofre de dores agudas no peito. E nesse exato momento ele pensa o mesmo que eu: as dores tem adjetivos musicais. A dele é aguda. A minha é uníssona, bem ao centro do peito. Ou da cabeça. Não sei ao certo. Nunca sei nada. Mas este homem sabe. Ele planeja entrar no quarto de sua ex-esposa. Ela vai estar com a cabeça enfaixada, foi aonde ele bateu com mais força. Ela vai estar sedada, não conseguirá gritar, nem falar nada, já que a faca que ele a atingiu entrou um pouco embaixo de seu peito esquerdo. "Você não precisa fazer isso!" Foi o que ela disse antes dela a atacar. Mas os maridos nunca escutam as mulheres. É o dito popular. Perfeccionista como ele é, assim como todos os seus colegas cobradores de ônibus, ele vai terminar o que não conseguiu. Ele não consegue dormir, coitado. Ninguém consegue dormir. Quem dorme num calor desses? Com todas essas dores que sentimos? Deixo o homem em paz, assim como a mulher dele, ali na terceira janela da esquerda para direta, segundo andar, com a cortina branca. Na frente do hospital me divirto um pouco. Vejo a vetustez em si. Perceberam a palavra que usei? Vetustez! Aprendi uma nova palavra sobre a velhice. Eu gosto da velhice! Gosto destes seres que é visível a qualquer idiota que a morte está muito perto. Olhar uma criança correndo no parque é bonito, mas não passa disso. Não instiga a ninguém a pensar na morte. A velhice é relativa. A sabedoria é relativa. A vida não. Nem a morte. É isso que me intriga. Como aquele sujeito que entra no hospital com uma bala de calibre 38, ou qualquer outra coisa que mata, não entendo de armas, embora seja alvejado todo o dia. Todos nós! A sangue em nossos dentes. Se você ficar de olhos fechados e escutar o mundo, pois nunca há silêncio, você notará o sangue escorrendo na parede do nosso tempo presente. Não quero dizer que o tempo existe! Quero dizer que a vida já está manchada de sangue. É natural. Como tomar chá de sene para peidar ou cagar. Mas aquele sujeito levou um tiro porque disse ao seu sogro que ele seria avô. O homem velho, não, velho não, homem cansado, tinha quarenta e dois anos, mas já está cansado desde os quinze, pegou uma arma e apontou para o sujeito. "Você não precisa fazer isso!" É o que todos repetem. Isso cansa, sabe? Eu vou parar de escrever, embora algo me diz que não devo fazer isso de novo. Mas estou cansado, com dor no peito e nas costas. Luto diariamente com meus pensamentos e ideais. Já deixei a muito tempo de acreditar em mim mesmo. Não aturo mais pensamentos. Quero histórias. Mesmo que sejam curtas. De preferência sonhos, não desejos, mas sonhos, como estes que me dominam e me inventam quando fecho os olhos e durmo. Ontem sonhei que estava fugindo de uma guarnição do exército islâmico. Não sei ao certo o país, mas vestiam roupas de Aladim. Usavam metralhadoras. Conseguia fugir depois de achar uma motocicleta e correr nela pelo campo a caminho da fronteira. Era bonita a imagem. As imagens!

Nenhum comentário:

Postar um comentário