segunda-feira, 12 de maio de 2014

A música

Diante do imenso mar, em plena noite, consigo distinguir as nuvens do mar. Minha visão, desde pequeno, se acostumou com a escuridão. Vejo aquela leve silhueta da nuvem, todas elas se tornaram uma só. Nisso uma bola de luz surge do horizonte, pelo lado esquerdo de minha visão. Ela pula de uma nuvem a outra. Ela me faz crer em outras nuvens ali. Pula de uma em uma iluminando o céu e o mar de laranja. É bonito. Tenho a vontade de ser aquela luz que me hipnotiza e que no segundo momento some em direção ao céu. Lá em cima. Numa abóboda que não vejo mais. Numa cúpula que me engolia quando eu era pequeno. Pra lá a luz foi. Penetrando o firmamento. Destruindo o fio que segura toda essa ilusão chamada de terra-vida. Aonde meus pés descalços estão agora: tocando a areia da praia. É frio e estou deprimido.
O barulho do mar me toma. Sinto o peito afundando no vazio. Diante da escuridão do mar-céu que retorna, percebo o contrário do amor: o eu. A paisagem tenta me extorquir. Me aniquilar. Não deixo por orgulho. Lembro de relance, pegando na orelha do pensamento, daquela terça-feira. Não me lembro o dia mês sequer ano. Mas sei que era terça-feira, havia tormenta. O céu representava seu rosto. Falavas comigo através deles. Meus ossos roíam. Dizias que não gostavas de me ver em silêncio. Escutava em voo o que falavas. Me transformava em outro naquele momento. Como pedra te respondi a tua falsa fala. Casca de kiwi em vez de língua. Choravas em rua. Conseguisse, como agora, transformar céu e terra na mesma cor. Tudo ficou cinza. Lindo. Meu peito se abriu como canto de Urutau. Quando a vi flutuando para baixo lá do céu. Brincavas de pingo. Tentavas amar o chão que a negou no último momento.
O infinito hoje se tornou um sumidouro. Penetro neste velho espelho que me lembra você cravada em mim. Me volto ao carro, ou a bicicleta. Ou simplesmente a estrada. Não lembro. Não sei. Estou com sono. Muito sono.  

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