quarta-feira, 4 de junho de 2014

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Rompantes de trovões no céu se confundiam
Com balas do tamanho de cabeças de bebês
Perfurando qualquer zé ninguém de qualquer canto nenhum

Meu país de origem em cima de uma mesa quebrada
Era servido como um tomate verde frito com fígado cru

Um príncipe dinamarquês morde o lábio que não fala mais nada
Entre jontex, sempre-livre, latas vermelhas, a um deslize da próxima página
O rei nu virou um grito de gol

Estamos nos tornando uma imensa periferia

Tirando o resto
Eu me encontro diante deste teto de estrelas imaginárias
Vazio e farto
Entre gente chata, oca e
Triste e faminto
Com água até o tornozelo e sedado 

Tenho que sair daqui
Tenho que matar pessoas
Não tenho que fazer nada
Não tenho 

Não gosto de minha tristeza
E isso não significada nada

Porém...

Naqueles mesmos lugares
De esquinas e canções
Desviava de conhecidos para sorrir a ela
Ali: Princesa da Noite
Destruindo todas a vontades e desejos em mim
Fazendo deixar apenas uma

Ela entoava uma canção
Cercada de muitos
Aos seus pés
 Olhos atentos para qualquer gesto
A guardavam para o presente
Tornando-a temível, é claro
Chuva caia em tom-primavera

Eu, ser moribundo, imbecil total
Que nunca almejou algo a mais do que ser atropelado e acabar com vida-quase-rastejante
 Revoltado infantil
Me fascinava com ela
Dobrava minha cabeça, alguns graus e observava atraído

Retraído em meu mundo, como recusa do tal mundo real, andava a esmo e num silêncio. Conhaque. Muito conhaque. Havia aquele círculo enorme em volta dela, a pequena lua terrestre. Orgulhosa, mas carente de mimo. Sempre tive quedas por mimar a lua. Ali estava. Peito meu balançou. Minhas antigas asas, enferrujadas, se mexeram. Houve música e árvores. Sempre mudei minha paisagem. E com ela ali, o que eu queria enfim apareceu. Desenhei todo o mundo. Mudo paisagens. Cidade cinza é copo vazio. Conhaque demais. Ela ali dançava. Não como outras. Seu próprio ritmo. Ela mostrava que vinha de outro lugar. Do lado de lá. Daqueles lugares em que buscamos em pensamentos. Os desejos voavam. Num rompente atômico, criou-se conexões. Acima fomos. Música e árvores. Sem pensar, como sempre é, estávamos no mar. Tínhamos certeza de morrer ali no infinito terrestre. Deus aguado. Na água é que ela gosta de estar. E fundo fomos... Quando em estralo de tempo me acordou. Deprimido. Acordei em quarto vazio bem longe. Pensei que outra vez havia sonhado o mesmo. Mas ali estavas. Olhando em meus olhos. A distâncias de dizer qualquer fonema. Qualquer ruído. Ainda confundo o real. É pura invenção. Carnal. Selamos beijo de boa vida; eu sei. A transformei numa pequena flor. Plantei aqui dentro. Somos hoje jardim.

Eu sei.



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