deflora sem demora
que melhora aquilo que molha
que consola
de mola repouso de cabeça
em espessa cola de dor que não devia ser escola
que de marola em marola nos engloba
nos namora
embora não pareça
como gigante sacola
que rola agora
beira de hora em hora
ao peso de uma tora
explodindo como bola fora
a dor jogada em tom de jangada afora
que em pele branca em pura nau cora
o lábio em amora
em multi cor e dor
de um amor-aurora
1
Minha roupa está grudada em meu corpo. Causando asco higiênico. Num ataque de horror mordi a língua e cuspi um pedaço dela. Saltou da minha roupa no meio da sala que não tenho. No chão que não há um pedaço meu agonizava. Eu olhava, não indiferente. Via como quem vê algo em espreita. Como uma sessão de cinema não paga. Tirei as meias e pouco de pele se foi. Pés em pus. Olhei-os como a parte mais distante fisicamente de mim. Sem-mim. Da janela que já não há um mundo em cantiga para acordar. Misteriosamente tocaram a campainha. Em forma de telepatia abri a porta e o tempo apareceu. Me convenceu de tomar uma dose lá fora. Mas lá fora eu tenho medo. Vivo em tempos de braços presos, eu disse. Nada como trocar a escova de dente, respondeu. Choveu dentro da não sala. Sempre chove, deveria. No resto da língua que sobrou um gosto de cinzeiro revigorou. Nojo de mim eu olhava de fora. Grudado no silêncio, viciado em dizer mil coisas e não dizer nada. Apanhei o pedaço da língua e engoli sem mastigar. Digiro apenas a tristeza na rua, mas apenas para elaborar contos. Nunca digo nada com nada. A minha palavra serva como escape, fumaça negra de cigarro em diesel. Parágrafos em tripas roxas. Clube dos açoitados pela noite não aceitou minha entrada. O tempo parou na porta e disse outra vez que vivo em tempos de secura. Insistia para eu beber. Tempo bandido. Palavras miseráveis, sentidos ladroados, calejo, espuma nos dedos. Ninguém nasceu para mim, pergunto ao tempo. Olhe pro céu, abismo de luz, e pro chão, infinito por qualidade, e me digas: como irás partir. O tempo já passou da hora por ele mesmo. Travessuras por travessuras, melhor trocar de pernas. Arranco-as de mim e as jogo no chão. Digiro a situação. Lembro do ventilador no painel do táxi, da imagem da praia milenar vivendo além de qualquer bobagem minha. Não há olhos que tomem conta de mim. Como irei partir. Minha roupa está grudada em meu corpo.
Outro
esse que fala não sou eu esse que aponta para ali onde aqui parece ser distante não é nada nada esse que lê novamente não tem olhos que vêm algo alguma coisa ponto qualquer pó que me interroga porque qualquer gesto é inútil indiferente perante qualquer miséria riqueza de céu solitário em noite cinza abarrotado meu peito minha voz que não é minha que diz que não vou não estou não ou não fora de mim vejo alguém mexer minhas mãos objeto animal oco alguém grita lá dentro em eco uníssono no lume da faca não sou eu que percebo o gosto da pele na boca de céu gritante chove imunda muda fala que não é minha que me chama por um nome que não sou eu mas que distante de mim escuta aquilo que rebate na parede fria do quarto vazio em tempos de choro
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