sigo sem te ver
pensando que estou que estou bem
eu filho único
andando pelos destroços da cidade
com as ruas cheias de lixo urbano e humanitário
como órfão de algo que não serve para nada
espero alguém que me peça uma boa companhia para esta noite
mas é pedir demais
pedir demais para tempos como esses
sigo sem te ver
imaginando você me pedindo que eu te acompanhe
pelas ruas alaranjadas
mas somos feios demais
queremos matar meio mundo
matar meio verão
andando meio vivo
então ninguém me pede nada
nem eu
o incrédulo
e faltam seis minutos
para o fim do mundo
eu exagero no conhaque como sempre
exagero na sua lembrança como sempre
teremos perdido tempo?
os outros nos atrapalham?
será que metros em escala mil foi o problema?
então não te vejo a muito tempo
deves estar deitada no seu quarto
no mesmo lugar a cima dos ombros de qualquer inverno tropical
eu estou nem isso
afogando a eternidade em si mesma
e pensando naquelas frases não ditas
numa varanda qualquer
com o clima de praia noturno
e eu falei
faz tempo que não te vejo
mas não ando bem com isso
não ando bem com essa cabeça acima de meu corpo
nem pra morrer eu tenho coragem
mas não precisas saber de mim
entendo os realces
entendo as flores que nascem
as chuvas esparsas
os desbravamentos sobre o futuro
os muros de rezas e a perfuração que a morte faz
4h48 de sempre rompendo a tarde
em meio a um copo de conhaque quente
num dia maçante
numa vida errante
e eu sigo sem te ver
imaginado você num quarto
no seu
ou melhor
no meu
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