segunda-feira, 4 de maio de 2015

não tenho vontade de escrever assim


satolep se torna passado
lá não vou morrer
nem que o calango tussa

agora o peito está nu
belo exemplar de pneumonia
fumo escondido os cigarros tortos do lixo

meu pau está inchado
eu o agarro as duas da manhã
olhando o infinito

e você fica aí
esperando alguma palavra que o engrandeça
eu sou assim
mas não hoje

hoje estou provocador
encharcando barrigas lisas
flutuando a dois palmos
mordendo lábios que não são meus
tocando um piano inimaginável

e minha cidade natal se acinzenta
ela vai decaindo
no meio envolto mitológico
reparem e vejam

fazer o bem aos outros
gera maiores alegrias
que as tristezas feitas ao bem egoísta

o homem de cabelo cacheado
italiano que falo inglês em solo tupiniquim
repete versos de antigos testamentos

e eu aqui
assolado pelos últimos acontecimentos
negando os mortos de fome
por um gozo admirável

refém do bem
do belo carnudo

perfeito
perfeito demais
para seguir assim

a garrafa de um litro vazia na cozinha
é a nota de rodapé desse título inexistente
cuja capa minha
é a briga entre minha lápide e minha data de nascimento

duas coisas que não tenho ideia
do que seja


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