segunda-feira, 1 de junho de 2015

desconstrução poética

invadiram a minha casa
não
assim eu não posso começar
invadiram a casa ao lado
errado
sou marionete de mim mesmo
como narrar algo que saia de minhas palavras
que saia do que já havia previsto

teria, tenho, terei um dia um corpo
um lugar, firme como o chão vermelho da cidade
um espaço físico para ser
mas não posso
não sou
recomeçarei pelo desejo
deve haver algo ali

com um bilhete nas mãos espero o trem
isso já foi dito
de outra maneira
de maneria melhor
fracasso de novo

ensaio para um novo fracasso
desconstruindo-me em palavras
atrás de um começo digno
uma morte real que me deixe além das palavras

achando, cavando, desmembrando qualquer início
qualquer tentativa
como se eu fosse um alpinista em rumo ao topo
mas não há topo
estou preso numa colina cujo cume é um enorme campo
cortado
não há nada ali
nem em outro lugar
não estou me movendo
nem preciso ficar parado
não há corpo para isso

mas onde estou
quem sou ou o que gostaria de ser se tivesse uma opção
repetição pura
não há nada de novo

invadiram uma estação de trem
descarrilharam todos os trens que chegavam
fazendo uma pilha de metal diante do guichê de partidas
as pessoas estavam paradas aos montes
eu com a cabeça, invento um corpo para isso, encostada ao peito
os braços pendentes ao longo do tronco curvado
semblante de dor
a pilha de metal serviu para aquecer a noite

noite
soa falso
soa como sempre foi escutado a palavra noite
mas não é noite que quero dizer
mas tenho que dizer noite

não sei como começar
diante de tantos prólogos universais
e não sendo dono desse princípio
não direi que será fácil
tendo então inventado o tempo
achar assim um fim

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