segunda-feira, 23 de novembro de 2015

sobre abandonos

torci os dedos, cruzando-os em sinal de prostração
dediquei algum tempo depois em pensar o porque me coloco sempre nessa necessidade de um futuro
e normalmente isso se me faz querer algo que esteja relacionado ao tempo
a necessidade de minutos, horas, paz
um silêncio descomunal entre mim e o mundo
que haja chuva, música alta, ou ataque de caminhada no centro da cidade
mas ainda será silêncio
entre mim e o mundo

descompromissado

de qualquer efeito
penso na vida monástica
tirando a ideia de ficar longe de uma vida sexual ativa e de longas bebedeiras
o resto me agrada e muito
silêncio em primeiro lugar
a cada passo que dou para o ano que vêm para meu próximo aniversário para minha próxima apresentação acadêmica que ninguém irá ler e se interessar porque é um mar de publicações
mais me canso de conversa
que não são diálogos
e que são sim solilóquios
quem acha que isso é recurso de teatro antigo é porque não está com os ouvidos atentos e se mantém nessa mesma cadência de fala
para si sobre si querendo que o outro seja o si mesmo deste mesmo si
verborreia total
primeiro ponto então seria esse não falar
o não ser necessário me justificar aos outros
e nem mesmo ser precavido com qualquer palavra já que não falaria nada
ao contrário daqui, no mundo livre S/A, que sua opinião é exigida, mesmo para algo que você nunca ouviu falar
em segundo
não precisaria pagar ou comprar nada para manter qualquer aspecto visual
não digo status porque não me interessa há tempos
porém sei que alguns  momentos isso significa algo
isso corresponde um raciocínio que tenho quando percebo que minhas roupas possuem mais de quatro anos
e não correspondem com algumas necessidades minhas
como lavá-las e ter outras para usar
é questão de higiene
saí de um lugar frio para morar num lugar quente
algumas malhas me irritam
terceiro
cuidado de si conhecimento de si desprendimento de si
viver num sentido de outro alcance pessoal me chama muito atenção
a futilidade de necessidades aqui no mundo de babel me incomoda
causa asco
e principal justificativa para a bebida

agora cansei de escrever
cansei de ter que permanecer em necessidade como concluir um texto
e nunca podê-lo construir ao longo de dias meses
ou abandoná-lo




domingo, 15 de novembro de 2015

sobre detalhes importantes de hoje

como um objeto a ser usado em momentos avulsos
deixei de lado o que me constituía
aquilo que preenchia minha boca
que saltava meus olhos em prol de avançar
de abrir concretos deste  mundo hostil
e poder andar para onde eu quisesse 
(mesmo que seja com os pés sujos de lama
ou em cadáveres de todas as nacionalidades)

já era no final da tarde quando me sentei na sala
observei meus gatos parados e relaxados
sem qualquer sinal de preocupação pelo noticiário
e mesmo assim dividindo o mesmo mundo comigo
então voltei para mim ao lembrar de meu esquecimento
de como fui deixado de lado e de como sou esquecido
de como sou exigido e de como avançam sobre meus pés
pisando com a força de um patada de cavalo
em minha nuca para eu ter certeza de que isso acontece
(mesmo que eu esteja feliz em maior parte do tempo
ou que aceite com um sorriso amarelo no rosto
de que falta pouco para este mundo acabar)

tudo no abandono ao anoitecer perto da mesa
no silêncio da vizinhança ao longe algumas pessoas choram
em voltas de velas e flores fúnebres

desejei depois de muito tempo
morrer na porta de qualquer igreja
sem pronunciar uma palavra
sem ter qualquer nacionalidade
sem gerar motivo algum para uma guerra
sem proclamar salvação para qualquer um dos meus
sem se quer entrar em alguma estatística
sem nenhuma trilha sonora específica

apenas no silêncio
com esse olhar petrificado que me deparo
não só diante do mundo
mas do que acabei me tornando
ao ponto de me esquecer 

terça-feira, 10 de novembro de 2015

fiquei nu
com o deserto no meu bolso
e o relampejar quebrado no teto de minha sala

estou só
com dores no corpo
comendo farinha e assinando papéis para daqui dois anos

o ano já passou aqui
o próximo está engavetado
fedendo a mofo
percebo pelo sol que brota no canto de minha cama

não durmo por causa das dores dos outros
não me escuto por que os outros gritam mais alto
não como porque preciso alimentar esse absurdo de dentro deles
me regulo pela náusea
a mesma que cresce nas estrias das costas da lesma que invade meu quintal
dia sim e dia não

como vai
indo em direção a última rua do bairro
despencando sobre o acolchoado
com a sola dos pés em vermelhidão

quando a luz apaga
o sol não nasce e a água vaza

queria inventar palavras e fugir dessa minha prisão