fiquei nu
com o deserto no meu bolso
e o relampejar quebrado no teto de minha sala
estou só
com dores no corpo
comendo farinha e assinando papéis para daqui dois anos
o ano já passou aqui
o próximo está engavetado
fedendo a mofo
percebo pelo sol que brota no canto de minha cama
não durmo por causa das dores dos outros
não me escuto por que os outros gritam mais alto
não como porque preciso alimentar esse absurdo de dentro deles
me regulo pela náusea
a mesma que cresce nas estrias das costas da lesma que invade meu quintal
dia sim e dia não
como vai
indo em direção a última rua do bairro
despencando sobre o acolchoado
com a sola dos pés em vermelhidão
quando a luz apaga
o sol não nasce e a água vaza
queria inventar palavras e fugir dessa minha prisão
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