deixei de lado o que me constituía
aquilo que preenchia minha boca
que saltava meus olhos em prol de avançar
de abrir concretos deste mundo hostil
e poder andar para onde eu quisesse
(mesmo que seja com os pés sujos de lama
ou em cadáveres de todas as nacionalidades)
já era no final da tarde quando me sentei na sala
observei meus gatos parados e relaxados
sem qualquer sinal de preocupação pelo noticiário
e mesmo assim dividindo o mesmo mundo comigo
então voltei para mim ao lembrar de meu esquecimento
de como fui deixado de lado e de como sou esquecido
de como sou exigido e de como avançam sobre meus pés
pisando com a força de um patada de cavalo
em minha nuca para eu ter certeza de que isso acontece
(mesmo que eu esteja feliz em maior parte do tempo
ou que aceite com um sorriso amarelo no rosto
de que falta pouco para este mundo acabar)
tudo no abandono ao anoitecer perto da mesa
no silêncio da vizinhança ao longe algumas pessoas choram
em voltas de velas e flores fúnebres
desejei depois de muito tempo
morrer na porta de qualquer igreja
sem pronunciar uma palavra
sem ter qualquer nacionalidade
sem gerar motivo algum para uma guerra
sem proclamar salvação para qualquer um dos meus
sem se quer entrar em alguma estatística
sem nenhuma trilha sonora específica
apenas no silêncio
com esse olhar petrificado que me deparo
não só diante do mundo
mas do que acabei me tornando
ao ponto de me esquecer
Nenhum comentário:
Postar um comentário