terça-feira, 10 de abril de 2012

O menino que morreu no carnaval

"Abaixa essa merda! Não quero escutar essa bosta!"
Sua mãe gritava com ele assim. Ele escutava Erik Satie. Menino estranho e diferente. Apanhava na escola por causa disso, normal. Não há porque ter pena, aliás, dependendo da situação você bateria nele também - nós sempre criamos motivos ou discursos para nossas ações. Quando sua mãe dava a ordem ele obedecia. Ficava no silêncio. Olhava seu pai que via na televisão moças com roupas pequenas, ou sem nem isso. Entediava-se. Voltava ao seu som e colocava o cd a tocar. O cd que havia ganhava de um primo que a família chamava de louco e relaxado (não cortava o cabelo). A mãe dele gritava novamente:
"Puta merda! Tu sabe que eu não gosto que tu escute isso. Isso é triste vai te fazer mal!"
Fazia mal pra ele é o que sua mãe dizia. Naquele momento, pós desligar o som, no seu silêncio e com os olhos revirados para dentro, as palavras de sua mãe não saiam de sua cabeça. Naquele momento a bala passava pela sua cabeça. Uma. Duas. Três. Chovia balas em sua cabeça. Ele via sua mãe em pé ao seu lado, o braço direito esticado, o dedo travado no gatilho. No fundo Erik Satie. Era carnaval, seu pai estava na sala vendo moças com pouca roupas. Aquilo entendiava e muito. Aquele menino era estranho, devia apanhar. A gente tinha que bater nele. Na sua mãe também. No seu pai. E nas moças da televisão.
O menino foi apertar o play novamente. Sua mãe abriu a gaveta. O pai não previa nada. Era apenas carnaval.

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