sábado, 13 de abril de 2013

Tempo-choro 4

Velho carro de força rondando a madrugada. Há corpos suados cheirando cocaína em banheiros. Somos todos combatentes. Velhos meninos brincam. Quem possui todos os dentes é o covarde do bando. Calejar os dedos da mão e a garganta. Platina nas narinas. Sofredores de bandeira a meio mastro. Olhos vermelhos chega como sendo um soprano-rápido. Canta pornografia, canta sêmen coagulado. Pêlos nas mãos e na axila feminina. Aqui cada um tem um preço. Mas ninguém anda com dinheiro, eles sabem que é preciso manter a dignidade mínima. Ciúme de braço carnudo entre aqueles dois na beira da mesa três. Depois da policia, o maior inimigo é a abstinência.
E a vida escorrega na brecha da mão. Desenho com cuspe na calçada. Dez reais por meia hora de trabalho. 8 segundos apenas no cavalo-craque de hipertensão é luxo para poucos. Equivale a viagem a Lua, deitado sobre o lixo. Restos de camisinhas perto da árvore do parque. Um crivo emprestado é sinônimo de amizade.

Descobrimos a benção dos sem nomes. Do futuro furado. Do presente barato e etílico. O ar de corrupção é  nicotina para todos. Gozo primário de um gesto psicológico. Todos longes do domínio de si. Mas aqui é outro país. Não temos mais papel algum. Os cães da amargura uivam por uma carreira a mais. Como a primeira vez, retornar a esse contanto com o divino. Enquanto isso, as mãos de queimadura nas mãos aumentam. A boca vermelha de brasa curta. Todos aprumadinhos para o Paraíso Terrestre. Será mentira?

Mas longe é o Céu. E as nuvens passam sem sabermos para onde elas vão. Todos comendo e cagando enraizados na mesma terra. Irmãos primitivos de reprodução sexuada. Desprovidos de natureza. Não é o coração que dança, é o estado de falência geral. Mesmo movimento que faz as baratas andarem sobre o armário próximo. Logo o Sol da melancolia vai nascer. Todos desejam que o amanhecer se torne um eterno anoitecer. Seguros com seus medos. Longe do Céu. Como vermes celebram a grande vitória da vida, atentos para não perderem o seu copo-porto-seguro.

E eles amam o bar na rua, como um solitário um puteiro. Amam, como os melhores dos românticos, tudo o que cheira a vômito, cada ato de violência dançado como um ballet. 
Mas eles sonham como os limpos. Sentem medo além do que duvidam. E dormem como crianças. Sem consciência sonham e acordam sem memória. Tristes acordam, outros os veem como se estivessem sempre dormindo, com o choro preso. A garganta queimada, dentes amarelos com camada de fumo, rosto inchado, fígado afogado, rim esburacado, ânus sangrando...
As facas se mantém afiadas. Os espelhos sujos. Irmãos órfãos de uma noite reprimida. A triste dança da arte do desencontro espera outra noite começar.

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