Era tudo tão suave e azul, calmo e sem insensatez criada ainda. O mundo inteiro estava nascendo. A Terra. Um tempo sem lugar. "Foi um sonho bom!" Acordamos. Ou seria que eu acordei? Quando cheguei ao Sol, nublado de tanto branco, estava em mim, vivo com todas as misérias possíveis. Tentei colori o cenário em minha volta. Mas não. Num jardim em branco e preto queria chorar de tão confuso. Sai andando pelo mundo, na chuva, enquanto tantos dormiam em chão firme.
Meu corpo, meu passado, era um objeto estranho. Sentia coceiras em todo corpo. Parecia que meu corpo estava todo vermelho prestes a se cobrir de feridas.Um grande pus andante foi o que me tornei naquela rua. Cidade inútil me cercava. Andava querendo não querendo chegar em lugar nenhum. Mas que lugar? Que quarto? De quem? Enquanto isso o corpo se transformava. Me tornei um grande nariz. Sentia minha massa epidérmica em formato de um grande pênis, que já não era mais meu, naquela mistura de cigarro e álcool barato crescendo em minha boca. Aquilo não era uma boca. Eu não era nada. Eu-nada. Um nariz desforme que via o seu próprio pênis sair de sua imagem inicial. O mundo fazia-se como uma abismo de luz. Eu via o céu se tornar um infinito azul monstruoso. Me invadia o mundo, enquanto eu notava que nada daquilo lá fora era válido. Percebi o sofrer-esgotado.
Diante daquele caminho que se ia fazendo sem objetivo, meu nariz renegava o meu cheiro inicial. Num piscar percebi meu resto de corpo. Minhas mãos me causavam asco. Fediam! Fediam por demais aquelas inúteis mãos! Cheiro laranja. Lixo tátil. Não podia lavá-las com água. Era necessário sangue, mas sangue não havia mais. Eu queria arrancar todos os membros e vê-los agonizando. Atirá-los naqueles buracos que nasciam naquela terra fria. A chuva-choro, naquele tempo-choro, corroía des-pensamentos. Desejei trocar minha vida pelo silêncio.
Num átimo de força desmaiei. Finalmente voltei a sonhar no oco. A criar o inventado. Misturei todas as minhas nuvens! As costurei num retalho de beijos de paixão. Entre mucosas roxas e rolas longínquas, colossais, inventei os pássaros mais coloridos para além de voar, nadarem! Criei meu novo chão com aquela pele branca tatuada nos meus ossos. Tudo de olhos fechados, cerrados, petrificados e mudos... Queimei todas as minhas esperanças e quebrei minhas pernas para não fazer meu caminho. Não seguir. Morrer em sonho. Desorganizar qualquer vontade. Desmentir a morte. Deixar de ser para não querer. Arrancar minha pele. Ver o mundo nascer e sentir sua dor.
Eu velejava em mares que tinham a areia branca
praia limpa que imitava a Lua como uma atriz de teatro erótico
mar que sempre anunciou o seu fim embora a praia mantinha-se infinita
hoje percebo que meu barco, embora possa nas estrelas chegar,
esta num novo mar, parado, sem vento, sem movimento
crendo apenas no amarelo do Sol
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