I
Chuva-chorada caía na cidade
e no meio de milhões de gotas
uma pequena-flor branca se protegia
Eu, homem-tédio, tocava meu falso trompete
(como manda meu itinerário)
em busca de outro conto imaginário para formular
Tudo ao contrário
Mas fazia o meu tipo
Tudo ardia
Pequena-flor de olhos vivos me desfez
de mil memórias onde saiu o velho desejo
que chuva-chorada caía em prata desta vez
e com meu olhativo tentei te dar um beijo
Rua-poetisa soava música em homenagem
ao nosso encontro de silêncios-filetes
dançando em meio ao nosso humor-boa-viagem
Pequena-flor exaltava perfume em minha tosca face
e eu tentava seduzir com velhos cacoetes
II
Nunca uma estrada vazia se fez tão bela
Nunca tinha sido tatuado
Marca de beleza-rainha em meu andar
Não houve fim, mas um eternizar
III
E hoje a chuva-chorada não está
em seu lugar chove-choro
dias assim não estou de bem com a vida
não passa na alma afogar-me em conhaque
Queria virar borboleta jogada de vez
em vez de fazer votos em versos para aquilo que tanto rasurei
O passado ilumina tudo o que vejo aqui
quarto-mirante de sonhos que me faz lembrar:
"Eu velejava em você!"
Rosto seu aparece em mar e em Lua
Nadando em mar-poema feito a dois
Porém, hoje me afogarei sem renascer
IV
Doses triplas de Aldir Blanc
Penso na miséria da tristeza e da saudade
Como para sentir suas andorinhas em mim
Teu amor-andorinha fez ninho eterno aqui
Canta em meio ao jardim de Pequena-Flor
Onde brincamos de crianças, amantes, acrobatas
Querida querubim molhada de terra branca
Submersa em nuvens a luzir, lembro-me que
Nosso amor nunca foi barato
e que tua ausência é extremamente irritante
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