quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

acordo de súbito

devido a um trovão as 4h48min da manhã
dois terços da cidade acorda comigo

batidas secas de corpos caindo são sentidas
vindas de todas as direções
meu espelho cai como resposta

e então vejo a porta se abrir
um enorme corredor se forma
ando sobre corpos caídos
machucando os pés com o contato
com suas
clavículas
ombros
joelhos
dentes
bacias
unhas
"carne vai bem com carne" sussurram

e vou subindo a pilha
tendo nos pés sangue coagulado

faz o maior Sol de todos os tempos
chove moscas
balé de urubus
aroma de urina e etc

avisto o mar depois de um bom tempo
o sol cai a noite aparece e faz frio

acordo de súbito as 7h30min
com o corpo dolorido e olhos semi cerrados
subo no ônibus pela rua repleta de árvores roxas
cadáveres me esperam lá dentro
não me olham
avistam o mundo lá fora
o fim pela janela

"quantos anos você tem amigo?"

e o coletivo salta e se remexe sem esforço
carnes feitas de gordura e farinha
industrializados do nome aos sonhos

nunca durmo
e você deveria dormir
acordar só para comer
dormir
mais que as paredes do quarto
suas melhores amigas
dormindo
esnobando o fim

são 4h48min que acordo de súbito
por causa de um imenso trovão
com susto e medo de morrer
arrepiado de tão vivo

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