três metros do chão a janela. sempre apoiada no horizonte. centro de referência é o nascer do sol. e isso acontece todo o dia. não há falhas. na base do solo vermelho um calango. imóvel. refletindo. de estômago cheio não faz movimentos. a dois metros dele um pé de boldo caído devido a última tempestade. ventava e calango não gostava disso. dizia-se que não gostava do vento. repetia-se que do vento não lhe agradava. a três metros a janela aberta como a boca dele calango. espírito de pedra feito a moldes de esverdeado. chispava a todo instante que sola humana se aproximava. os animais sabem o que o homem é capaz. incluindo as fezes diárias e os surtos de vazio existencial. calango é provedor de coragens. desde sua infância recusou consciência da morte. calango é esperto. pela janela entra água da chuva e trabalho a fazer. janela fica aberta quando quer. se fecha em momentos revoltosos. medida de couro marrom. patriota na divisão de ambientes. calango é proteção. janela é resquício de dúvida. apreensão corta ar quando tanque negro se aproxima. objeto metálico voador. resistente a suicídios o cascudo é fonte de proteínas em terras longínquas. fura parede ao da janela. calango entediado o olhava. cascudo nasceu para amaciar mundo em plena luz. sola humana é feita para andar errantemente. cascudo não. calango não. janela nada. janela é a estranha da história. dorme sem remorso e sem dar pio. nem lagarto de borracha ousou trocar versos com alguma delas as janelas. elas não se sintonizam aqui. objeto misterioso a cascudo que atravessou ela em plena treva. busca bojo luminoso no quadrante da morada humana. amaciava paredes lajotas cadeiras mesas cantos. cascudos não apreciam cantos. preferem espirais. calango é de mata fechada e mosquito no estômago. janela só não gosta de muro e domingo. dia que mais trabalha. tanque escuro e metálico de menos de uma polegada rompe o ar do quadrante da morada dos humanos. amacia o ambiente com sua armadura ante suicídio. canta com as asas. sua postura heroica é confortante.
continua
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