sexta-feira, 26 de junho de 2015

Sobre Nebulosa

prólogo

todos os filmes são os mesmos utilizam-se as mesmas fitas antigas empoeiradas que esperam uma mínima faísca para queimar o cinema queimar a televisão a casa o resto do que eu espero e não realizo e a menina diz no nó de minha orelha entre aqueles fungos que cultivo que todos um dia irão aprender algo que eu não levarei nem três vidas para supor enquanto tomo outra coisa qualquer entrincheirado nos campos de velhos desejos eu me matarei quando houver outra sexta como esta me matarei novamente quando souber quando a memória não falhar quando calcular ao certo ou supor por acaso que estou atrasado que estou sob uma marquise iluminado pelas luzes falsas exibindo em grande vermelho que assalta a escuridão o seguinte letreiro fechado fechado piscando para chamar atenção aos poucos cuidadosos de sua vida onde eu não me enquadro não mesmo sou este aquele um dos outros dois três dez entre milhões de tantas línguas diferentes mas que tem em comum essas mãos cruzadas nas costas o olhar pensativo na árvore iluminada ali na esquina alaranjada na noite e amarelada ao dia que todos cruzam sem saber seu nome sem saber como ainda esta viva e quantos anos tem eu sou como aquela árvore no mar do tanto-faz-como-tanto-fez que os outros a afogam que me embebedam nunca deu pé para mim nessa vida e acredito que nas outras eu nunca tive outra opção

prólogo inventado

saíram aos bandos unidos por um corpo fora do corpo normal além de suas penas acima das nuvens de todos os territórios resplandecendo a desnecessidade de uma nacionalidade ideologia ou nome se quer eles os belos pássaros dançando naquele velho tom de oboé entre pequenas mãos acariciando o ar na frente de uma mesa verde que um sábio designa as notas em que eles dançam voam na solidão que lhes é necessária do plano de voo de vida que segue afrontando as estrelas o menor dos galhos ou dos insetos subterrestres escondidos como todas as carcaças humanas lá embaixo que se protegem da menor das chuvas do menor sinal de falha conjunta da folha em branco do olhar que se desvia e da promessa de fim de dia e recomeço de mais um dia inútil os bandos de pássaros estão além dessas e outras vicissitudes humanas dessas suas surpreendências tão maquinais tão sistemáticas tão repletas de eternas reprises de si mesmas eles voam os pássaros enquanto os homens patinam no mesmo lugar desde sempre mirando qualquer arma qualquer pedra para qualquer pássaro idiota que cruze o seu olhar

1

o braço palpita tranca o ombro peito
o sol nasce na soleira da janela de metal
o veículo segue rangendo de dor
o tremor do lábio em pelos ruivos
eu sou aquele sentado
o incompreendido
mas quem seria diferente
aquele dali aquelas duas
em ponteiros adequadamente programados
representando uma época
remota
uma época remota de um país distante
de uma pessoa distante
um ausente em carne e álcool
perdendo para si mesmo
no tremor palpitante morto adormecido
de um órgão em medo

2

Aguardo o chamado enquanto olho as paredes
manchadas de novos medos

eu vou tentando
mudando os trajetos
contornando estrelas numa noite fria
pisando firme no seu pescoço
e descendo com as palmas úmidas
até as palmas úmidas

lançando uma flecha vermelha em pleno ar



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