estamos numa outra mesa-mirante
com o vinho apontado para dentro de nós
saí do mar de cães e ele de um jardim de cerejeiras
no decorrer de tudo
o passado em cinza, meu, virava um quadro inimaginável
olhávamos aquela exposição mantendo humor
afinal sempre há um tempo para isso
tentar entender a dança fria dos dedos das Moiras
madrugada a dentro os dedos se trocaram
pintávamos o espaço a volta
planejando as esculturas de nossa própria vida
levei um tempo para entender que só eu
somente eu
posso, a partir de meus escombros,
esculpir a galeria de minha vida
era isso que os olhares dele revelavam
seu exército de estátuas
que não estavam armadas para meu pequeno e ingênuo ateliê
mas de braços abertos e olhos atentos
tentando aprender mais uma nova canção
estamos numa outra mesa-mirante
cruzando a grande metrópole
uma supernova explodindo em meu universo
e de novo uma dessas surpreendências da vida
confirmando que qualquer caminho não se faz só
mesmo que a mesa-mirante flutue
mar a dentro
ou noite a fora
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