um dia não voltarei
estarei esperando em alguma praça desta cidade
ou de outra qualquer
que ao virar de esquina a praia se faça
tocarei a areia com meus pés
escreverei meu nome na beira da praia
e olharei a água a engolir
assim são muitos de meus dias
assim se seguirão os meus dias
um eterno apagar-se
mas sou surpreendido
como esses ventos do litoral que me abraçam
sejam em dias de verão ou de inverno
pegando meu corpo todo e me fazendo sorrir
há um encontro que não devo faltar
será numa praia quase deserta
quase intocável
estarei lá vários minutos antes do horário marcado
ansioso e querendo muito que alguém chegue
que você chegue
escreveremos nosso nome
mas não na areia
escreveremos nossos nomes na primeira onda que chegar
olhando lá para última
será difícil
mas faremos juntos
pois somos bons nisso
Textos, escolhas, cenas e ações. Eu deveria descrever o blog. Mas necessito de algo mais...
sábado, 26 de setembro de 2015
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
descendo a algum lugar
aconteceu por volta das duas da madrugada
havia sangue na superfície da minha pele
em forma de explosões
como minúsculos cachos apareceram
entre uma porrada e outra
havia pouca luz
não conseguia imaginar como estava minhas mãos
e nem quem tinha mais marcas de dentes pelo corpo
mas tropeçava o tempo todo em roupas
e nada me fazia esquecer
que tínhamos bebido vinho de mais
que estávamos atraídos por de mais
havia na troca de olhares um acordo definido
como se fosse para parar quando não restasse força mais
como se isso aqui fosse tudo para ela e ali
enquanto grudávamos os lábios em cada pedaço de corpo
esquentava as palmas das mãos
o mundo se esquentava mais e mais
soava o céu caindo em folhas mortas o que restava de esperança
suicidas do outro lado da cidade escreviam cartas perdidas
brincávamos de erotismo como crianças brincam em comer amoras
como brincam de esmagar formigas
como brincam de lutinha no intervalo da escola
como brincam de descobrir o próprio corpo no do outro
como brincam sem medo da morte
a gente aprende a ter medo da morte
depois nos acostumamos a idolatrar o sobrenatural
eu conheço essa história toda
mais velha do que primeira masturbação
a gente tem que aprender a morrer com o outro
não como teste
mas como necessidade
lá fora o mundo se enruga a cada segundo
lá fora o mundo encouraçasse cada vez mais
fumando um cigarro de barata atômica no melhor restaurante vegetariano da cidade
e aqueles que sobrevivem não conseguem ver as almas atrofiadas
o cheiro de merda que eles usam para limpar o chão de suas casas
nem deus se encontra aqui
nem um exú sequer mostrasse compreensível diante as bestialidades
porque um texto sobre sexo causa vergonha e um esquartejamento público não?
uma chacina é mais bem vinda entre nossos irmãos
do que um belo banho de mar
do que o sorriso pós um belo gozo
é preciso idolatrar a violência é verdade
mas rompendo qualquer elo perto do que é terreno
do que é inventário de homens falsos
porque são deles que surgem tantas cartas do mesmo naipe
com o mesmo número
não criando nada de novo
nenhum jogo prazeroso
apenas uma pilha de iguais
uma pilha morta semelhante a judeus de final de segunda guerra
mas aqui eles andam por entre as ruas
mas aqui eles são aqueles que mataram antes
mas aqui eles se tornam objetos cortante de si próprios
enquanto lavava meu pau na pia de um banheiro qualquer
passando a palma da mão por onde havia porra
lembrava que fui criado a ter vergonha disso em momentos que estava só
e que retratar o fuzilamento de um homem era sinal de saber do que estava acontecendo
do que era de fato importante
eu diria que nada mais disso me importa
quando se sabe morrer mais de três vezes no mesmo dia
e saber que se pode renascer mais vezes ainda
havia sangue na superfície da minha pele
em forma de explosões
como minúsculos cachos apareceram
entre uma porrada e outra
havia pouca luz
não conseguia imaginar como estava minhas mãos
e nem quem tinha mais marcas de dentes pelo corpo
mas tropeçava o tempo todo em roupas
e nada me fazia esquecer
que tínhamos bebido vinho de mais
que estávamos atraídos por de mais
havia na troca de olhares um acordo definido
como se fosse para parar quando não restasse força mais
como se isso aqui fosse tudo para ela e ali
enquanto grudávamos os lábios em cada pedaço de corpo
esquentava as palmas das mãos
o mundo se esquentava mais e mais
soava o céu caindo em folhas mortas o que restava de esperança
suicidas do outro lado da cidade escreviam cartas perdidas
brincávamos de erotismo como crianças brincam em comer amoras
como brincam de esmagar formigas
como brincam de lutinha no intervalo da escola
como brincam de descobrir o próprio corpo no do outro
como brincam sem medo da morte
a gente aprende a ter medo da morte
depois nos acostumamos a idolatrar o sobrenatural
eu conheço essa história toda
mais velha do que primeira masturbação
a gente tem que aprender a morrer com o outro
não como teste
mas como necessidade
lá fora o mundo se enruga a cada segundo
lá fora o mundo encouraçasse cada vez mais
fumando um cigarro de barata atômica no melhor restaurante vegetariano da cidade
e aqueles que sobrevivem não conseguem ver as almas atrofiadas
o cheiro de merda que eles usam para limpar o chão de suas casas
nem deus se encontra aqui
nem um exú sequer mostrasse compreensível diante as bestialidades
porque um texto sobre sexo causa vergonha e um esquartejamento público não?
uma chacina é mais bem vinda entre nossos irmãos
do que um belo banho de mar
do que o sorriso pós um belo gozo
é preciso idolatrar a violência é verdade
mas rompendo qualquer elo perto do que é terreno
do que é inventário de homens falsos
porque são deles que surgem tantas cartas do mesmo naipe
com o mesmo número
não criando nada de novo
nenhum jogo prazeroso
apenas uma pilha de iguais
uma pilha morta semelhante a judeus de final de segunda guerra
mas aqui eles andam por entre as ruas
mas aqui eles são aqueles que mataram antes
mas aqui eles se tornam objetos cortante de si próprios
enquanto lavava meu pau na pia de um banheiro qualquer
passando a palma da mão por onde havia porra
lembrava que fui criado a ter vergonha disso em momentos que estava só
e que retratar o fuzilamento de um homem era sinal de saber do que estava acontecendo
do que era de fato importante
eu diria que nada mais disso me importa
quando se sabe morrer mais de três vezes no mesmo dia
e saber que se pode renascer mais vezes ainda
um carteado
estão tomando o caminho inteiro, meu amigo. estão vindo de todas as partes e não é de hoje. o solo já foi aterrado só por pés, só por estes que veem das proximidades ou de mais longe que se possa imaginar. estão vindo aos montes. cegos. bêbados. tomados de cheio de lata. suas depressões foram acostumadas a serem tragadas com belas doses de cerveja. nada parece impedi-los de seguir. todas vão ao ponto inicial. lá onde antes tinha um santo que curava todos e que hoje tem um homem sem camisa com os olhos bem abertos, esbugalhados mesmo, que atira em que se aproxima dele. e todos querem tocar os seus pés. querem ver até onde este é capaz de continuar a realizar o mesmo mantra assassino dele. estão tomando as cercanias. há cachorros mortos por fome, não há mais restos para estes. e os cachorros que comeram os primeiros cachorros mortos, morreram com infecções. o cheiro está em todos os lugares. nas esquinas, nas mãos dos homens, nas galerias de artes - vazias -, nos túneis do metrô. túneis e túneis repletos de pedaços e pedaços de homens e mulheres. estes que construíram tudo o que nos cerca. este é o fim, meu amigo. há crianças transando com as próprias mães e filmam cada arrepio maternal, cada gozo santo daquelas que os colocaram no mundo. sim. que horas são? ainda aguardam, alguns apenas, numa fila bem organizada ao lado de poucas flores. seguem o trajeto de asfalto até a próxima praia: um imenso buraco sem água com marcas dizendo para qual lado as ossadas são maiores, para qual lado o oxigênio é escasso, para qual lado há humanos canibais, para qual lado é o lugar de onde vistes. não distinção mais de onde vieram cada qual. há muito vinho nos olhos de todos, crianças suicidas nascem e se reproduzem desde a década passada. é, meu amigo, falta mais uma cerveja antes que tenhamos que sair desta casa. falta mais trinta minutos para que o relógio perca sua bateria. que o sol perca a sua bateria. que acabe de vez a velha bola de fogo pendente no céu qualquer. haverá salvas de palmas para o fim desse inferno, dessa divisão cruel entre um dia e outro. haverá motivo para ter medo agora. "lembra-se do dia que o sol apagou? sim, tivemos a certeza que não haveria um novo dia." daríamos as mãos por pouco tempo é verdade, mas voltaríamos a secar o que tivesse de rio, a jogar fora o esqueleto do gato preferido morto por falta de mantimentos e que endoideceu por falta de carinho. e você, meu amigo, voltará a me dizer que é este o jeito. que é deste feitio que somos formulados. que o café nunca foi o principal e sim o pão. que há mais vento por aí do que sombras. eu vou concordar: é este jeito mesmo, meu amigo. viraríamos o último gole, talvez de sempre. baixaria minhas cartas viradas para a mesa e veria seu rosto crescer de alegria vendo que ganhou o jogo dessa vez.
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
sobre essa quinta
ando mais triste e solitário em alguns dias
me chamam de barba pela rua
sou um ponto isolado para referência alheia
e os mortos seguem andando em suas calçadas sujas
em seus caminhos esburacados
com o concreto sangrando pequenas plantas rasteiras
como tudo aqui é rasteiro
a fala do outro é rasteira
seu olhar imita o mesmo padrão
e o desejo de mudar arrasta-se da mesma forma
arranhando-se no que resta do cimento compactado na calçada disforme
mas tudo bem
tudo segue muito bem obrigado
perante o homem ou a mulher que andam ereto
com dores e problemas nas costas
mas em si eretos com o olhar a esse embaçado horizonte
com essa tola intolerância com o por vir da morte
mas não dando a mínima para o próximo amanhecer
são características que se fazem
enquanto isso
os insetos voadores invadem minha cozinha
perdem suas asas e se arrastam pela casa
meus gatos os comem
eu como meus gatos
e espero com uma xícara de café na porta da frente
aparecer um imenso peixe metálico para me engolir
a vagareza de algumas coisas me deixa com náusea
me chamam de barba pela rua
sou um ponto isolado para referência alheia
e os mortos seguem andando em suas calçadas sujas
em seus caminhos esburacados
com o concreto sangrando pequenas plantas rasteiras
como tudo aqui é rasteiro
a fala do outro é rasteira
seu olhar imita o mesmo padrão
e o desejo de mudar arrasta-se da mesma forma
arranhando-se no que resta do cimento compactado na calçada disforme
mas tudo bem
tudo segue muito bem obrigado
perante o homem ou a mulher que andam ereto
com dores e problemas nas costas
mas em si eretos com o olhar a esse embaçado horizonte
com essa tola intolerância com o por vir da morte
mas não dando a mínima para o próximo amanhecer
são características que se fazem
enquanto isso
os insetos voadores invadem minha cozinha
perdem suas asas e se arrastam pela casa
meus gatos os comem
eu como meus gatos
e espero com uma xícara de café na porta da frente
aparecer um imenso peixe metálico para me engolir
a vagareza de algumas coisas me deixa com náusea
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