Textos, escolhas, cenas e ações. Eu deveria descrever o blog. Mas necessito de algo mais...
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
um carteado
estão tomando o caminho inteiro, meu amigo. estão vindo de todas as partes e não é de hoje. o solo já foi aterrado só por pés, só por estes que veem das proximidades ou de mais longe que se possa imaginar. estão vindo aos montes. cegos. bêbados. tomados de cheio de lata. suas depressões foram acostumadas a serem tragadas com belas doses de cerveja. nada parece impedi-los de seguir. todas vão ao ponto inicial. lá onde antes tinha um santo que curava todos e que hoje tem um homem sem camisa com os olhos bem abertos, esbugalhados mesmo, que atira em que se aproxima dele. e todos querem tocar os seus pés. querem ver até onde este é capaz de continuar a realizar o mesmo mantra assassino dele. estão tomando as cercanias. há cachorros mortos por fome, não há mais restos para estes. e os cachorros que comeram os primeiros cachorros mortos, morreram com infecções. o cheiro está em todos os lugares. nas esquinas, nas mãos dos homens, nas galerias de artes - vazias -, nos túneis do metrô. túneis e túneis repletos de pedaços e pedaços de homens e mulheres. estes que construíram tudo o que nos cerca. este é o fim, meu amigo. há crianças transando com as próprias mães e filmam cada arrepio maternal, cada gozo santo daquelas que os colocaram no mundo. sim. que horas são? ainda aguardam, alguns apenas, numa fila bem organizada ao lado de poucas flores. seguem o trajeto de asfalto até a próxima praia: um imenso buraco sem água com marcas dizendo para qual lado as ossadas são maiores, para qual lado o oxigênio é escasso, para qual lado há humanos canibais, para qual lado é o lugar de onde vistes. não distinção mais de onde vieram cada qual. há muito vinho nos olhos de todos, crianças suicidas nascem e se reproduzem desde a década passada. é, meu amigo, falta mais uma cerveja antes que tenhamos que sair desta casa. falta mais trinta minutos para que o relógio perca sua bateria. que o sol perca a sua bateria. que acabe de vez a velha bola de fogo pendente no céu qualquer. haverá salvas de palmas para o fim desse inferno, dessa divisão cruel entre um dia e outro. haverá motivo para ter medo agora. "lembra-se do dia que o sol apagou? sim, tivemos a certeza que não haveria um novo dia." daríamos as mãos por pouco tempo é verdade, mas voltaríamos a secar o que tivesse de rio, a jogar fora o esqueleto do gato preferido morto por falta de mantimentos e que endoideceu por falta de carinho. e você, meu amigo, voltará a me dizer que é este o jeito. que é deste feitio que somos formulados. que o café nunca foi o principal e sim o pão. que há mais vento por aí do que sombras. eu vou concordar: é este jeito mesmo, meu amigo. viraríamos o último gole, talvez de sempre. baixaria minhas cartas viradas para a mesa e veria seu rosto crescer de alegria vendo que ganhou o jogo dessa vez.
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