aconteceu por volta das duas da madrugada
havia sangue na superfície da minha pele
em forma de explosões
como minúsculos cachos apareceram
entre uma porrada e outra
havia pouca luz
não conseguia imaginar como estava minhas mãos
e nem quem tinha mais marcas de dentes pelo corpo
mas tropeçava o tempo todo em roupas
e nada me fazia esquecer
que tínhamos bebido vinho de mais
que estávamos atraídos por de mais
havia na troca de olhares um acordo definido
como se fosse para parar quando não restasse força mais
como se isso aqui fosse tudo para ela e ali
enquanto grudávamos os lábios em cada pedaço de corpo
esquentava as palmas das mãos
o mundo se esquentava mais e mais
soava o céu caindo em folhas mortas o que restava de esperança
suicidas do outro lado da cidade escreviam cartas perdidas
brincávamos de erotismo como crianças brincam em comer amoras
como brincam de esmagar formigas
como brincam de lutinha no intervalo da escola
como brincam de descobrir o próprio corpo no do outro
como brincam sem medo da morte
a gente aprende a ter medo da morte
depois nos acostumamos a idolatrar o sobrenatural
eu conheço essa história toda
mais velha do que primeira masturbação
a gente tem que aprender a morrer com o outro
não como teste
mas como necessidade
lá fora o mundo se enruga a cada segundo
lá fora o mundo encouraçasse cada vez mais
fumando um cigarro de barata atômica no melhor restaurante vegetariano da cidade
e aqueles que sobrevivem não conseguem ver as almas atrofiadas
o cheiro de merda que eles usam para limpar o chão de suas casas
nem deus se encontra aqui
nem um exú sequer mostrasse compreensível diante as bestialidades
porque um texto sobre sexo causa vergonha e um esquartejamento público não?
uma chacina é mais bem vinda entre nossos irmãos
do que um belo banho de mar
do que o sorriso pós um belo gozo
é preciso idolatrar a violência é verdade
mas rompendo qualquer elo perto do que é terreno
do que é inventário de homens falsos
porque são deles que surgem tantas cartas do mesmo naipe
com o mesmo número
não criando nada de novo
nenhum jogo prazeroso
apenas uma pilha de iguais
uma pilha morta semelhante a judeus de final de segunda guerra
mas aqui eles andam por entre as ruas
mas aqui eles são aqueles que mataram antes
mas aqui eles se tornam objetos cortante de si próprios
enquanto lavava meu pau na pia de um banheiro qualquer
passando a palma da mão por onde havia porra
lembrava que fui criado a ter vergonha disso em momentos que estava só
e que retratar o fuzilamento de um homem era sinal de saber do que estava acontecendo
do que era de fato importante
eu diria que nada mais disso me importa
quando se sabe morrer mais de três vezes no mesmo dia
e saber que se pode renascer mais vezes ainda
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