sábado, 17 de outubro de 2015

ensaio para uma fala ao ouvido

mira o sol que me acompanha nesses últimos meses
como se não fosse só ele que me acompanhasse
e não preciso mais repetir o que eu fazia a muito tempo atrás

uma leve oração para me encontrar
para desejar dividir este mundo com alguém

mas já esta tarde demais para eu estranhar o sol
assim como para te chamar
porque gritar em meio a multidões
se meus dedos estão entrelaçados nos teus

seria estúpido da minha parte
acreditar que me constituo sozinho
que retornei a caminhar numa velha pinguela
tendo aquele antigo medo de viver
(e me pergunto hoje porque disso)
abaixo de meus pés

mira o vento que entra em correntes pela janela
limpando esta minha poluição de certezas
estas teias enrugadas entre meus músculos
que empoeiram qualquer coisa de vivo em minhas gavetas

é este sopro novo que vem
retirando todo o sangue e estilhaços de ferimentos
que criei por mesquinhez própria
dentro desse poço-umbigo
quando ainda acreditava valer só de mim
para ser qualquer coisa alegre

mira o sol e verás que assim como ele
te acompanho em eterno brilho
admirando cada andar seu
amando até mesmo a silhueta de sua sombra
porque se olhar para o corpo
volto a ficar em silêncio novamente

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