Mesmo sentado nessa cadeira de rodas, impossibilitado de mover o meu corpo do pescoço para baixo, vivo. Acredito que se uma pessoa vive um dia de sua vida, com toda a grandeza e entrega que deveria fazer isso, ele poderia ficar na minha mesma situação por todo o tempo possível. A memória, a lembrança de vários momentos de minha vida me ocupam. Quando canso desse exercício de consciência perante ao absurdo, me oculto. Fico oco. Fora de mim. Não sou de acreditar em magias, crenças, dogmas, nem nada disso, aliás se Deus realmente existe ele é um mau Todo-Poderoso. Deve ter um senso de humor filha da puta, e se me visse nessas condições, numa cadeira de rodas, provavelmente me perguntaria: "Porque a galinha atravessou a rua?" Eu diria que para chegar do outro lado, para comer... e, só para continuar o seu humor, diria: "Porque ele podia!" Crueldade estar aqui? Assim? Foi o que me aconteceu. E tenho algumas regalias por causa disso. Enfim... O que meu filho realmente queria vindo até aqui para falar comigo? Pensei que estava sem dinheiro. Por incrível que pareça ainda controlo meu dinheiro só com o olho direito. É a tecnologia de hoje. Me deram um computador que funciona através do olhar. Mas não gosto disso. Quero contemplar o que posso nessa condição. Agora mesmo, duas moscas transam no vidro da janela a minha frente. O ciclo não vai parar por causa minha...
Nenhum comentário:
Postar um comentário