Textos, escolhas, cenas e ações. Eu deveria descrever o blog. Mas necessito de algo mais...
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
a casa queimada
No auge do sono um calor tomou conta de meu corpo. Pingava a suor. Delirava dentro daquele sonho que era o mais colorido e alto de todos. Quando estava mais alto que acima do além, naquele calor gostoso, acordei com o corpo em perigo: minha cama estava em chamas. Em um átimo de tempo estava ereto na cama olhando as chamas se espalharem da minha cama até as paredes. Parecia que o fogo iria me abraçar a qualquer momento num movimento de turbilhão. O desespero só não fez meu coração parar, pois percebi que minha roupa estava totalmente encharcada de água. Eu simplesmente pingava a água. Secava os olhos para poder ver melhor aquele pequeno inferno íntimo. Não havia mais armário e nem escrivaninha. Era somente a cama-fogareiro e eu. Corri em direção a janela e pulei. Mesmo cortando o braço direito e sangrando muito, não havia dor. Estava elétrico por demais. Via a minha casa, que conhecia tanto pegando fogo. "Como pode acontecer isso?" Aquela imensa fogueira não me passava a dor de perder tudo, mas sim o estranhamento de que ela estava, em si, pegando fogo. Tratava a casa como algo vivo. Pulsante por si e em si. Mas nunca como autodestrutiva. Fui andando para trás sem perder os olhos da casa. O fogo era lindo. Cada labareda me lembrava um abraço de amor: quente e perigoso. No meio da hipnose do fogo uma das minhas agulhas se mexeu em meu peito. Gritei. O som não saiu. Tentei gritar de novo e nada. Silêncio total. Só o movimento do fogo é que fazia som. Virei o corpo no desespero e me petrifiquei. Não havia nada. Tudo havia queimado ao redor da casa, para não dizer até onde a vista alcançava. O chão era carvão moído, escuro e sujo. Notei que já estava seco. Corri. Sem saber pra que ou pra onde, corri. Era como se estivesse de olhos fechados. O chão era extremamente plano, não havia nada. O céu estrelado me abafava. Depois de muito correr cheguei em outra casa pegando fogo. "É a minha casa?" Pensei. "É!" Voltei correndo. Depois de um tempo cheguei a minha casa de novo. Corri para outra direção. Depois outra e outra. Mais uma. Corria reto, dobrava para a direita em um determinado momento. Andava de costas. Girava em torno de meu eixo e tonto corria. Nada. Sempre voltava para a minha casa. Minha roupa estava suja. Eu estava fedendo. Cansado resolvi entrar em minha casa. Tudo queimado. Cinzas e mais cinzas. Não havia janelas nem portas. O cheiro era horrível. Imóvel fiquei durante um tempo. Não passou nada pela minha cabeça. Olhei para cima. O céu estrelado continuava lá. Havia muitas estrelas. Era visto a mancha da Via Láctea. Era uma cúpula enorme na minha cabeça. Fazia frio agora. Tinha sido uma noite muito longa. Fechei os olhos de saudade e ao abrir de novo vi a chave pendurada na parede. Estava limpa e ainda dourada. Peguei ela. Senti tanto afeto pela chave que a apertei na minha mão. Apertei tão forte que só parei quando o vermelho de sangue pingou no preto do chão.
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