A janela era toda dourada e um pouco estranha. Ela abria para baixo, de uma forma que a parte de cima da janela estava aberta. E o gato do vizinho estava de pendurado nela. Gato grande, bem alaranjado-dourado, acho que os olhos eram laranjas também. Lindo. Mas o filho da puta estava entrando. Usando uma vassoura bate no focinho do gato até ele largar a janela. Caiu para o lado de fora da casa. Olhei ele resmungar alguma coisa. Larguei a vassoura e me concentrei na janela de novo. Não havia jeito de fechar aquela puta. "Esta janela é muito estranha, não consigo fechar!" Gritei para Madame Gwen. Ela disse que era só levantar o vidro e fechar os pinos da ponta. Era de longe a janela mais estranha do mundo. E quando eu já estava suando de tanto trabalho a porra do gato apareceu de novo. Peguei a vassoura e quase quebrei o cabo batendo na cabeça daquele lindo gato do vizinho. Ela não conseguiu entrar. Nervoso fui pra rua chamar Madame Gwen. Expliquei o que havia acontecido. Na volta pra cozinha, vi o gato entrando pela janela e correndo para o interior da casa. "Filho da mãe!" Pensei na hora. "Ele entrou Madame Gwen!", disse para a dona da casa. Ela, numa resposta rápida e quase que automática disse: "Pegue-o!"
Não sou um apaixonado por gatos. Fiquei com medo que o gato pudesse ficar com algum remorso e querer me atacar pelas porradas que tinha lhe dado. Para me proteger da missão peguei a vassoura-amiga para ir atrás do lindo gato do vizinho. Entrei no quarto. Devagar, bem devagar, olhei para todos os cantos, com o cabo da vassoura levantei o lençol e... nada. O gato não estava ali. Fui para o banheiro. Lugar pequeno, não teria como um gato se esconder ou fazer qualquer coisa ali. Mas estava sim um gato, porém outro. No box! Um gato cinza-branco-sujo-meio-perebento. Parado me olhando. Gritei: "Madame Gwen tem um gato cinza aqui no banheiro!" Ela respondeu dizendo que aquele gato era dela. Bom, então não era este que eu teria que espantar. Fui para a sala. Lá encontrei outros três gatos. Agora cada um com uma cor diferente, mas mantendo o tom de branco e cinza sujo. Eram gatos feios.
- Madame Gwen! Tem mais três gatos aqui na sala. Nenhum deles é o laranja do vizinho!
- São meus também!
Surpreso pela resposta lancei uma pergunta:
- Afinal, quantos gatos a senhora possui?
- 14!
No que foi dada a informação de Madame Gwen, os outros 11 gatos apareceram na sala. Todos os 14 estavam lá, todos branco-cinza-sujos e feios. Andando em minha volta. Dois fizeram carinho em minhas pernas. Eu me espantei com tantos gatos ao mesmo tempo. Andando em minha volta. Começaram a fazer carinho em mim. Alguns mais ousados queriam subir em mim. Arranhavam a minha perna. Miavam. Fiquei mudo de medo. Imóvel pela surrealidade da situação. Os gatos começavam a subir pelas minhas pernas. Então comecei a bater nos gatos tentando me livrar deles. Quando jogava um gato ao longe de mim, um outro me arranhava o braço, ou a barriga, ou pulava em meu rosto. Era um ataque de 14 gatos que ronronavam sem parar.
Em meio aquele desespero que crescia, olhei para a janela da sala e vi aquele lindo gato alaranjado-dourado na janela, mas pelo lado de fora. Me olhava. Não aparentava expressão alguma.
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