domingo, 1 de setembro de 2013

Madame Gwen e seus gatos

Estava almoçando na casa de Madame Gwen. Comíamos no quintal de sua casa, muito bonito o lugar. Todo madeirado, sabe? Tipo cabana, tipo inveja pra qualquer um. Sem falar que havia comida suficiente para umas dez pessoas, mas tinha em torno de cinco, não lembro. Estava gostando muito purê de batata, muito mesmo. Até que Madame Gwen escutou um barulho vindo da cozinha. Ela falou que era o gato do vizinho tentando entrar na casa pela janela da cozinha. Pediu, com educação elevada, para mim fechar a janela. No mesmo tom não recusei. 
A janela era toda dourada e um pouco estranha. Ela abria para baixo, de uma forma que a parte de cima da janela estava aberta. E o gato do vizinho estava de pendurado nela. Gato grande, bem alaranjado-dourado, acho que os olhos eram laranjas também. Lindo. Mas o filho da puta estava entrando. Usando uma vassoura bate no focinho do gato até ele largar a janela. Caiu para o lado de fora da casa. Olhei ele resmungar alguma coisa. Larguei a vassoura e me concentrei na janela de novo. Não havia jeito de fechar aquela puta. "Esta janela é muito estranha, não consigo fechar!" Gritei para Madame Gwen. Ela disse que era só levantar o vidro e fechar os pinos da ponta. Era de longe a janela mais estranha do mundo.  E quando eu já estava suando de tanto trabalho a porra do gato apareceu de novo. Peguei a vassoura e quase quebrei o cabo batendo na cabeça daquele lindo gato do vizinho. Ela não conseguiu entrar. Nervoso fui pra rua chamar Madame Gwen. Expliquei o que havia acontecido. Na volta pra cozinha, vi o gato entrando pela janela e correndo para o interior da casa. "Filho da mãe!" Pensei na hora. "Ele entrou Madame Gwen!", disse para a dona da casa. Ela, numa resposta rápida e quase que automática disse: "Pegue-o!"
Não sou um apaixonado por gatos. Fiquei com medo que o gato pudesse ficar com algum remorso e querer me atacar pelas porradas que tinha lhe dado. Para me proteger da missão peguei a vassoura-amiga para ir atrás do lindo gato do vizinho. Entrei no quarto. Devagar, bem devagar, olhei para todos os cantos, com o cabo da vassoura levantei o lençol e... nada. O gato não estava ali. Fui para o banheiro. Lugar pequeno, não teria como um gato se esconder ou fazer qualquer coisa ali. Mas estava sim um gato, porém outro. No box! Um gato cinza-branco-sujo-meio-perebento. Parado me olhando. Gritei: "Madame Gwen tem um gato cinza aqui no banheiro!" Ela respondeu dizendo que aquele gato era dela. Bom, então não era este que eu teria que espantar. Fui para a sala. Lá encontrei outros três gatos. Agora cada um com uma cor diferente, mas mantendo o tom de branco e cinza sujo. Eram gatos feios.
- Madame Gwen! Tem mais três gatos aqui na sala. Nenhum deles é o laranja do vizinho!
- São meus também!
Surpreso pela resposta lancei uma pergunta:
- Afinal, quantos gatos a senhora possui?
- 14!
No que foi dada a informação de Madame Gwen, os outros 11 gatos apareceram na sala. Todos os 14 estavam lá, todos branco-cinza-sujos e feios. Andando em minha volta. Dois fizeram carinho em minhas pernas. Eu me espantei com tantos gatos ao mesmo tempo. Andando em minha volta. Começaram a fazer carinho em mim. Alguns mais ousados queriam subir em mim. Arranhavam a minha perna. Miavam. Fiquei mudo de medo. Imóvel pela surrealidade da situação. Os gatos começavam a subir pelas minhas pernas. Então comecei a bater nos gatos tentando me livrar deles. Quando jogava um gato ao longe de mim, um outro me arranhava o braço, ou a barriga, ou pulava em meu rosto. Era um ataque de 14 gatos que  ronronavam sem parar. 
Em meio aquele desespero que crescia, olhei para a janela da sala e vi aquele lindo gato alaranjado-dourado na janela, mas pelo lado de fora. Me olhava. Não aparentava expressão alguma.

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