domingo, 23 de agosto de 2015

eu fico aqui pensando

veio a nova notícia de um ser aí
de algo que tenho que nomear como ele pretende

na dúvida eu fico
não queria ser dado a nomes
e pertencer a família das pedras
num formato que durará muito tempo
até que alguma outra mão
me faça ser outra coisa qualquer

uma pressão que seja

na dúvida eu fico
em frente ao espelho
não achando nome a essas idades que se aproximam
e nem quais de minhas rugas
é a mais nova

uma pressão para fora
empurrando o solo  em direção ao céu

a notícia ali ganha proporções maiores
um grupo se aproxima
como se fosse um novo ser nascendo

quem dera que aquele que se nomeou soubesse
que na hora do nascimento todos estão ali
que na hora da morte, e esse é o segundo momento de fato,
que todos estão ali

entre os dois
são os nomes que temos
que nos dão
são esses formatos de tecidos, de pedras,
esses ventos que esculpem nossos contornos
esse horizonte sempre novo
desgastando e cansado qualquer vista
qualquer sentido vivo

é isso que tomara de assalto a solidão
que o invadirá quando essa coragem
tola de se autodenominar
passar

porque tudo passa
e a coragem é muito pesada
deixa a cabeça exausta depois de um tempo

fazendo cair o queixo
afundando o chão a sua frente
tapando os ouvidos com terra
ou resto de cimento
o impedindo de ouvir
o nome que proclamasse

mas aí já será tarde demais

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

passageiro

não quero aqui me tornar um mero passageiro seu
se eu for realmente um dessa espécie
que seja um desses marginais com a insignia de estrangeiro
de uma pessoa que venha a morar um tempo num lugar
em você
para te consumir em tudo o que eu possa ter
não como um turista conhecendo os mesmos lugares que os outros
os mesmos sorrisos divididos com esses otários que circulam por aí
não
quero, a partir de ti, tornar esse passageiro do mesmo trajeto de sempre
mudando de lugar
trocando da janela da frente para o corredor do fundo
indo ao lado de sua direção
de seu controle
o meu desejo é aquele que arrepia a sua pele
meu descontrole se move quando você troca o próprio trajeto

não quero aqui me tornar um simples passageiro
seria incomodo
seria difícil tento já em mim marcado sinais que vem de você
já constituindo em minha bagagem traços seus
de abraços, de falas precisas e olhares perfeitos

quero permanecer
quero trocar de identidade e fazer com você minha morada
onde possamos trocar passos pela noite
de degrau em degrau alcançar as praias desertas
tocar o mar e descobrir teu sexo até onde eu me perder

te encontrar numa falésia
tocar seus lábios e lembrar que a vida me esqueceu longe de você
te abraçar totalmente nu em seu corpo como o meu
eu vou te encontrar
vou dividir esse sorriso com você
e diante de tantas pedras de tantos silêncios e de ilusões
dividiremos canções solitárias
e notaremos que no fundo
nem eu nem você
se tornou um passageiro para o outro

texto possivelmente surrealista ante o tabagismo

é incrível como os telhados meus vizinhos como são me surpreendem por serem tão brasileiros. telhados de brasil. ligados acasos e casa de maneira tão sutil. e ao lado de minha janela homens pintam a casa do lado, tentando renovar o velho móvel. sim. devemos. como um exercício existencial, pré-socrático para os tarados, cuidando de si, limpar a casa. renovar a gaveta e pintar o portão. isso me lembra que devo te esquecer. devo te deixar para o outro lado, uma coisa passante. mas o problema se encontra ai. não é fácil te deixar em qualquer canto e sem memória alguma. levarias umas parte minha terra a baixo. e essa parte aqui do meu sorriso teria que ir junto. essa forma de olhar para aquele lado enquanto levanto meus braços dessa maneira, deixariam de existir. essa é dificuldade. pior que parar de fumar. mas não vou mostrar meus poemas eróticos. com todas aquelas palavras que fala sobre bunda. cu, buceta e coxas. não teria como olhar para você, assim tão doce, que nem um adeus pode apagar.
os gatos estão aumentando. tem dias que parece que há dez na minha casa. mas são só dois. e sou só eu que nada parece apagar essa minha lembrança de que eu estou descolado de você. que estou impotente diante muitos pedaços de horizontes. esse sou eu, matéria prima em termos de inferioridade própria. se eu tivesse um slogan seria: atira-se da ponte ou na sua cabeça, atira-se! ´[e preciso as vezes acabar com qualquer coisa. dinamitar-se na beira de algum lugar limítrofe! um abismo ou canto de balcão do bar.
nada deveria existir depois das oito da manhã. do crepúsculo. do meu começar a respirar ou notar o que aparece diante dos meus olhos, a tona. por favor, retirai de mim este tentar persistir sempre, enquanto como um pedaço de carne qualquer com mostarda e um copo de cerveja de trigo, imaginando que sim! estou nos meus melhores tempo!! mentira! é só virar a esquina que me lembro que estou sozinho. sozinho para sempre. porque a linha está muda. o desenho está em preto e branco. o sexo é entre eu e eu mesmo. algo sucinto. atrofiado e rápido. como para não ter vergonha de si mesmo, como para não injetar na cabeça a ideia de que o que me cerca é a náusea pura. não. nunca mais isso.

me vejo diante de uma parede enorme de rocha. escuto nada. apenas a altura de meus pensamentos. se eu parasse de pensar escutaria a chuva ou o pedido de ajuda acima da falésia a dez metros de minha cabeça. mas não. estou costurado em meu umbigo imaginando a cor de meu caixão. imaginando quem irá erguê-lo e quem jogará no chão. na verdade o número que estará na placa é mais indagador. não quero meu nome. não quero viver como alguém que deixou algo. quero viver como alguém que viveu com os outros. se eu morrer que levem a metade do mudo comigo, porque não vivi tudo isso sozinho. vivi tudo isso sempre com alguém na mente. você.

sábado, 8 de agosto de 2015

sobre as esperanças de hoje

sobrevoo a terra inteira a dois metros e meio do chão
cento e quarenta, trezentos, dois mil, não há rastro do som que faço
cruzo a grande metrópole, a supernova da nossa era, que afunda um palmo a cada década
abro os braços e os dedos tentando tocar o que resta dos sorrisos
conheço a colônia como os meus maiores medos
ela vai perdendo as cores a cada dia
você sabe

sobrevoo a cidade batendo em cada cabeça que se mantém apontada ao céu
o som é oco, mas desprezível
lembra murro de mãe sobre caixão vazio de filho desaparecido
o som é oco, mas reconhecível ao mais infértil de nós
o poder das palavras vai se perdendo a cada dia
você sabe

sobrevoo o mar agora tocando de leve a ponta do meu pé esquerdo
brinco de cortar aquelas ligações atômicas que mantém o tapete aquoso
dou piruetas ao ar e investidas quase suicidas na água
refresco o corpo e deixo as más lembranças em algum lugar
porém ninguém fez isso
nem eu
nem você

e ambos sabemos

terça-feira, 4 de agosto de 2015

ato falho 1

a novidade, a tal da novidade, instalou-se primeiramente através do aparelho de televisão. eu via aquela luz que saía daquela máquina atingir tudo que estava na sala. as vozes que que anunciavam a novidade, uma felicidade tamanha, saiu pela janela, derrubou a porta e imundou a rua inteira. no outro dia, a novidade, havia deixado inúmeros móveis boiando rua abaixo, caindo no campo de futebol. havia alguns corpos embaixo de algumas árvores, jacarandás lindas por sinal. a novidade, a tal da novidade, primeiros fez com que poucos fossem vistos como os traidores. sabonetes foram entregues em massa para a população. era necessário fazer uma boa higiene das mãos, daqueles poucos que ainda poderiam comer. havia um silêncio torto pelas ruas. desviava palavras de esperança. era difícil se desvencilhar da novidade, a tal daquela novidade. ela estava pregada no altos dos postes e nos pescoços de alguns que tinha o privilégio de repartir aos outros isso em plena calçada, que graças a poucos não era mais livre para qualquer um ou uns. o aparelho televiso já não transmitia qualquer sinal. ficava a deriva em qualquer onda.

uma menina caminhava por entre os bosques e acabou se perdendo. impressionante os acontecimentos da vida, a menina acabou se deparando com o mar. reluzia fortemente toda a luz do sol. a menina olhava tudo. ou o que conseguia em silêncio mudo. ficou cega. depois de conseguir chegar em casa as crianças do bairro foram a ver. preocupados escutavam ela narrar porque estava cega. depois daquilo guiava todas as crianças pelo bosque. nunca as levou para ver o tal do mar que refletia a luz inteira do sol. embora cega, era a menina que viu o mar que comandava todas as outras. morreram no bosque seco.