sobrevoo a terra inteira a dois metros e meio
do chão
cento e quarenta, trezentos, dois mil, não há
rastro do som que faço
cruzo a grande metrópole, a supernova da nossa
era, que afunda um palmo a cada década
abro os braços e os dedos tentando tocar o que
resta dos sorrisos
conheço a colônia como os meus maiores medos
ela vai perdendo as cores a cada dia
você sabe
sobrevoo a cidade batendo em cada cabeça que se
mantém apontada ao céu
o som é oco, mas desprezível
lembra murro de mãe sobre caixão vazio de filho
desaparecido
o som é oco, mas reconhecível ao mais infértil
de nós
o poder das palavras vai se perdendo a cada dia
você sabe
sobrevoo o mar agora tocando de leve a ponta do
meu pé esquerdo
brinco de cortar aquelas ligações atômicas que
mantém o tapete aquoso
dou piruetas ao ar e investidas quase suicidas
na água
refresco o corpo e deixo as más lembranças em
algum lugar
porém ninguém fez isso
nem eu
nem você
e ambos sabemos
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