sábado, 8 de agosto de 2015

sobre as esperanças de hoje

sobrevoo a terra inteira a dois metros e meio do chão
cento e quarenta, trezentos, dois mil, não há rastro do som que faço
cruzo a grande metrópole, a supernova da nossa era, que afunda um palmo a cada década
abro os braços e os dedos tentando tocar o que resta dos sorrisos
conheço a colônia como os meus maiores medos
ela vai perdendo as cores a cada dia
você sabe

sobrevoo a cidade batendo em cada cabeça que se mantém apontada ao céu
o som é oco, mas desprezível
lembra murro de mãe sobre caixão vazio de filho desaparecido
o som é oco, mas reconhecível ao mais infértil de nós
o poder das palavras vai se perdendo a cada dia
você sabe

sobrevoo o mar agora tocando de leve a ponta do meu pé esquerdo
brinco de cortar aquelas ligações atômicas que mantém o tapete aquoso
dou piruetas ao ar e investidas quase suicidas na água
refresco o corpo e deixo as más lembranças em algum lugar
porém ninguém fez isso
nem eu
nem você

e ambos sabemos

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