Jogaram uma pedra de fogo em cima de minha casa, isso foi seu sonho?, sim, Paulo. Quem jogou, não ficava evidente, mas tinha corpos, entendo, um cheiro forte também. Isso acontece comigo às vezes, como assim?, Paulo, essa penumbra do cotidiano esse atraso do porvir, eu devia saber: respirar sempre, sem expectativas. Mas como acabava o sonho?, não acabava e nem acaba, queria um café, acordo antes do fim com a camisa molhada e o vidro da janela suando. Seus olhos estão vermelhos, você já disse isso, duas vezes, mas estão demais, Paulo. Meu nome é, pedi um café para nós dois, eu devia saber: tudo o que eu invento se torna enfadonho para mim logo após. Você não deve dizer isso. Acordei com muito sono, não sonhei nada, não sonho mais, você tem certeza? Vou direto para o banheiro e só me lembro que tenho que cortar o cabelo. Mas e os corpos do sonho? Eu viro o rosto sempre, estou falando do sonho, ah, sim!, se parecem comigo, até os mais velhos, as mulheres também. Se houvesse animais, açúcar?, não, eles, por favor, seriam maiores que os homens. Compreendo: nem sempre quero ouvir um igual a mim.
- Ah, você de novo. Não se incomode com esse balanço. Milimetricamente posto aqui. O raio de Sol não me incomoda nem um pouco. O que? Não quero compromissos.Você não mora no nono andar? Eu acordei com os lábios roxos.
O café está frio; eu sei. Ficasse olhando a rua, estava procurando algo, o que?. Sabes quando alguém o chama, garçom!. exige algo de você, por favor, um prazer barato em troca da estase que se encontra?, meu café está frio e o prefiro quente, que queres dizer com isso?. Eu tenho uma vida melhor do que esta encostada em vidro de café, devias sair, dois, semana por semana amarrado, calibre pequeno. Não entendi. Seu café vai derramar, Paulo, sou um filha da puta com pós-graduação em canalhice, falas isso por que sábado, compreendo: abrir a boca para uma mente vazia é alfinetar com ferrão o estômago em vez de lamber o mel de um Belo-ânus. Você é asqueroso, amigo é para isso isto. Obrigado, quero um doce, todos querem, o que, todos querem queriam, o papel caiu, uma pílula vermelha, vermelha?, ou era azul?, do que se trata?, gozado o café, gozada a vida. não me lembro, não, deslize de imagem ou memória furada, vaza a cor: vermelha ou azul?, Paulo?.
- Está aqui. A verdade. Faça o que você quiser. Estou pelo colarinho. Outra: faz tempos que você não vê. Sei que é óbvio: me tornei obtuso. Mas só um pouco de... Eu tive um sonho: bebíamos algo preto com outra coisa preta recheada de algo gelado. O gosto lembrava que eu havia escrito sobre a morte; Engraçado, eu sei. Minha barba fedia a asco. Me tornei barato sem estar a venda. Claro que você fechou a porta. Tonto.
Acabou?, garçom!, preferia que estivesse chovendo, pronto, agora sim! E se todas as medidas estivessem erradas?, já dissertamos sobre, não há parâmetro para algo: não há parâmetro, medida, relação a nada. O ponto inicial, dois cafés sim, inicial, referência é invenção, cinco?, estamos cercados por um vazio de cor bege. Paulo, vamos? Admiraria demais os outros se tivesse em representação de si mesmos: ontem naquela esquina, sim, homem trajado de verde, ali da farmácia, né?, cala a boca, me perguntou informação irrelevante, idiota, deu!, percebeu depois de um tempo, pega o seu casaco, Paulo, que eu não ouvia o que ele dizia. O pior, como se houvesse algo a ser o contrário, as unhas de minha mão crescem conforme o meu humor, é que eu mantinha um sorriso debochado, você é assim, um olhar tedioso, escrúpulo, tens costume de pintar no rosto dos outros a fisionomia da decadência: isso nunca foi estranho a mim. Ele, o cara?, o homem, eu fecho, tchau, ficou sem chão, sem vontade de seguir, olha o carro, Paulo! Quase. É sempre quase. É sempre quase. Era isso que eu via nele!, o quase?, depois do quase tem o que?, como vou saber?, que pergunta é essa? O quase é defeito nosso, nosso, deles, orgulho, presentificação da fé. Gostei!: o quase é a presentificação da fé. Acabasse comigo, como assim, Paulo, o carro está ali, sou ateu. Era. Mas você morria no sonho?, não, quer dizer, não sei dizer. Havia uma mulher no sonho, não?, sim! Mas dentro de minha cabeça. Ela tinha um ferro no peito, já sei, recheada de sangue. Quase: não.
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