nas portas da américa o dito
pablo neruda presente
ahora y siempre
da única maneira que se pode ler
em grito acanhado
com choro em vistas
o sangue escorre da cordilheira
espalhando o vermelho do grande rio amazonas
até o pampa esquecido
até as malvinas roubadas
na silhueta do nado frio que se faz no sulino estreito
ahora y siempre
mesmo entre a velha história que se repete
entre as nossas esperanças já conhecidas
que fica registrada em fotos amareladas
tarjas de desaparecidos
- velho manto que cobre os sonos de tristes mães -
ahora y siempre
no bater dos corpos bonitos
que caem pela bala teleguiada
um por um
nos rastros de prestes
nos desejos de bolívar
no andar inalcançável de allende
no uivo rouco de guevara
fuzilado como um perro
entre as catacumbas prateadas de potosí
ahora y siempre
diante das portas da américa
no silêncio mortal do senhor brasil
Textos, escolhas, cenas e ações. Eu deveria descrever o blog. Mas necessito de algo mais...
terça-feira, 31 de março de 2015
taça
palma da mão
rastros da juventude diante da infinitude do futuro
o vir a ser
e aquele amargo que vai se acumulando
aos poucos
devagar com cada fixar diminuto
e tudo fica roxo
inchado
me torno pedinte daqueles velhos presentes
quando acordo vejo o corpo inchado
as mãos
minhas
solitárias
abertas para qualquer adeus a ser dito
repetido
preciso parar com esse vício
essa repetição do som de chuveiro ao fundo
e a secura que me mata
relembrando o velho giro da vitrola da saudade
cantarolando
a música da saudade
palma da mão
pequena
repleta de infinito em estado maior
dos dedos apenas aquela névoa
escura e densa
do que não virá a vir
do que não irá se repetir
do repeteco insosso
esqueci um cálice de vinho
cujo fiapo de sangue banha o vidro rachado
rastros da juventude diante da infinitude do futuro
o vir a ser
e aquele amargo que vai se acumulando
aos poucos
devagar com cada fixar diminuto
e tudo fica roxo
inchado
me torno pedinte daqueles velhos presentes
quando acordo vejo o corpo inchado
as mãos
minhas
solitárias
abertas para qualquer adeus a ser dito
repetido
preciso parar com esse vício
essa repetição do som de chuveiro ao fundo
e a secura que me mata
relembrando o velho giro da vitrola da saudade
cantarolando
a música da saudade
palma da mão
pequena
repleta de infinito em estado maior
dos dedos apenas aquela névoa
escura e densa
do que não virá a vir
do que não irá se repetir
do repeteco insosso
esqueci um cálice de vinho
cujo fiapo de sangue banha o vidro rachado
sábado, 28 de março de 2015
réquiem para um sábado taciturno
andarilho dos asfaltos noturnos segue sem resquício de Panacéia
um Zé Ninguém
um Exú imperial do Lugar Nenhum, quer dizer, da Polônia, do Brasil
recheado de fome, babando em fome de tudo aquilo que se derrama nas brechas de suas mãos
de todos os seus lados segue o silêncio primordial
e qualquer teoria para ele é balela
é anúncio pobre de algum programa sensacionalista de fim de tarde
e a matemática é superficial, as teorias da física, da química, de qualquer projeto racional é nada
uma mera rima de um toque de telefone em plena madrugada
do outro lado da linha uma voz cansada
cujo juízo se resplandece de uma insônia incurável diante da grande e eterna pergunta:
"o que hei de fazer?" "por favor, o que hei de fazer?"
e o andarilho ri como um velho fantasma que colhe velhas flores de um jardim já esquecido
a memória de seus melhores momentos!
tudo se relaciona para ele com esses lapsos de acaso onde todo o seu ser se resumiu ali
ele se apega a essa rainha do tempo, glória de sua miserável existência, para não mais tratar seu espírito como ídolo único
as vitórias dessa vida são desestimulantes
o que é vencer depois que se nasce nesse lugar que não passa de uma ponte entre o ventre e o túmulo?
isso não é novo, qualquer idiota sabe disso, mas não são todos que sabem de sua verdade
e o andarilho segue a viagem tentando voltar a um daqueles lugares que se prende
quer retornar ao velho rio onde um mar de vaga-lumes o cobre
onde se faz um céu em plena terra
e como uma velha criança ele tentará com um simples pote de vidro
caçar um desses vaga-lumes
sem dar pé sempre
- ele está acostumado a isso, ele vê as pessoas na rua com água até o pescoço, isso a milênios! -
ele cata o vazio escuro em busca de uma mísera prova de que ainda poderá se tornar um belo revoltado
entre a fumaça que sai de suas mãos
consciente de que seu mal é direcionado apenas para si
se direciona para sua missa semanal
diante do palácio, maior que qualquer coluna grega remanescente, uma bela dose de conhaque barato
no banheiro o mijo alaranjado de quem não come nada de verdade a dias
sua existência é comprovada
sua podridão, sua ausência de gotícula, a menor possível que seja, de deus em si
é comprovada
com uma faca, banhada em amor, com aqueles ridículos amores que todos estão acostumados a cultivar,
ele apunhala o peito diante daquela pequena pia suja
com os pés em banho maria em merda e mijo humano
retira daquela caixa óssea sua alma
"mas como pegá-la?'"ela existe?"
e como símbolo concreto pega seu coração
o sangue derrama, corre em passos solitários, numa dança sombria
até o rio pincelado de vaga-lumes
e sai pelo bar, que agora é um bar com rostos tristes e preocupados
sua pele é funda
seus olhos não veem nada que esteja perto ou longe
e mesmo para aqueles que não esperam mais nada
que não limpam suas próprias casas de pele e osso
para todos que dizem que tudo está perdido
"diante da grande Lua dos pobres" inalterada
que o faz lembrar ainda daqueles olhos castanhos
[daquele sorriso infantil na respiração suspensa
dos pequenos traços em contorno aos doces lábios
de uma beleza que o levou sempre a morte]
e selando um beijo com outra mulher
um beijo que o aliviará um pouco mais
e olhará mais uma vez para aquele mar de bêbados
de felizes por ilusão
"vejam todos! eles estão sozinhos!"
e ele oferecerá seu coração
sem saber o nome de ninguém
sem rever qualquer um
e se sentará na mesa sozinho
como faria em sua casa
ao lado da morte
sua fiel namorada
que dirá "está tarde"
e partirá
partirá para todo o sempre
um Zé Ninguém
um Exú imperial do Lugar Nenhum, quer dizer, da Polônia, do Brasil
recheado de fome, babando em fome de tudo aquilo que se derrama nas brechas de suas mãos
de todos os seus lados segue o silêncio primordial
e qualquer teoria para ele é balela
é anúncio pobre de algum programa sensacionalista de fim de tarde
e a matemática é superficial, as teorias da física, da química, de qualquer projeto racional é nada
uma mera rima de um toque de telefone em plena madrugada
do outro lado da linha uma voz cansada
cujo juízo se resplandece de uma insônia incurável diante da grande e eterna pergunta:
"o que hei de fazer?" "por favor, o que hei de fazer?"
e o andarilho ri como um velho fantasma que colhe velhas flores de um jardim já esquecido
a memória de seus melhores momentos!
tudo se relaciona para ele com esses lapsos de acaso onde todo o seu ser se resumiu ali
ele se apega a essa rainha do tempo, glória de sua miserável existência, para não mais tratar seu espírito como ídolo único
as vitórias dessa vida são desestimulantes
o que é vencer depois que se nasce nesse lugar que não passa de uma ponte entre o ventre e o túmulo?
isso não é novo, qualquer idiota sabe disso, mas não são todos que sabem de sua verdade
e o andarilho segue a viagem tentando voltar a um daqueles lugares que se prende
quer retornar ao velho rio onde um mar de vaga-lumes o cobre
onde se faz um céu em plena terra
e como uma velha criança ele tentará com um simples pote de vidro
caçar um desses vaga-lumes
sem dar pé sempre
- ele está acostumado a isso, ele vê as pessoas na rua com água até o pescoço, isso a milênios! -
ele cata o vazio escuro em busca de uma mísera prova de que ainda poderá se tornar um belo revoltado
entre a fumaça que sai de suas mãos
consciente de que seu mal é direcionado apenas para si
se direciona para sua missa semanal
diante do palácio, maior que qualquer coluna grega remanescente, uma bela dose de conhaque barato
no banheiro o mijo alaranjado de quem não come nada de verdade a dias
sua existência é comprovada
sua podridão, sua ausência de gotícula, a menor possível que seja, de deus em si
é comprovada
com uma faca, banhada em amor, com aqueles ridículos amores que todos estão acostumados a cultivar,
ele apunhala o peito diante daquela pequena pia suja
com os pés em banho maria em merda e mijo humano
retira daquela caixa óssea sua alma
"mas como pegá-la?'"ela existe?"
e como símbolo concreto pega seu coração
o sangue derrama, corre em passos solitários, numa dança sombria
até o rio pincelado de vaga-lumes
e sai pelo bar, que agora é um bar com rostos tristes e preocupados
sua pele é funda
seus olhos não veem nada que esteja perto ou longe
e mesmo para aqueles que não esperam mais nada
que não limpam suas próprias casas de pele e osso
para todos que dizem que tudo está perdido
"diante da grande Lua dos pobres" inalterada
que o faz lembrar ainda daqueles olhos castanhos
[daquele sorriso infantil na respiração suspensa
dos pequenos traços em contorno aos doces lábios
de uma beleza que o levou sempre a morte]
e selando um beijo com outra mulher
um beijo que o aliviará um pouco mais
e olhará mais uma vez para aquele mar de bêbados
de felizes por ilusão
"vejam todos! eles estão sozinhos!"
e ele oferecerá seu coração
sem saber o nome de ninguém
sem rever qualquer um
e se sentará na mesa sozinho
como faria em sua casa
ao lado da morte
sua fiel namorada
que dirá "está tarde"
e partirá
partirá para todo o sempre
segunda-feira, 23 de março de 2015
ao som de me dá a penúltima
e já vejo você dizendo que ando bebendo e fumando demais
que costumava usar palavras mais aveludadas
enquanto te respondo dizendo que as tuas não passam de bordado de babador
e ficaríamos jogados na mesa do bar, cada qual no seu silêncio
como cinzas esquecidas na mesa de um velho adeus
pedirei naquela rouquidão que ando me acostumando
uma dose de conhaque a mais para poder achar palavras mote
e algum estranho vai se aproximar e me lembrar o quão chato
me torno quando estou seco e como atraio estranhos a meu mundo
você vai rir por que o bom senso impera na minha presença
vou no banheiro dirás e colocarás aquele lápis no olho
amarrará o cabelo de forma que a nuca ficará a mostra
deixará aquela hora mais luminosa e sentirei raiva
de todas as tolas bobagens que sou capaz de dizer a você
e notarei que meu perfume é barato demais
lembrarei de uma canção que gosta e cantarei
batucando entre o resto de cerveja barata caída na mesa
e resquícios de memórias sobre nossas vidas
sobre velho planos e outras luas e velhas solidões a dois
e pedirei outra dose enquanto me queimo com esta
você cruzará a perna e tocará a minha fazendo de conta que é sem querer
e os outros não saberão o que estará acontecendo
não irão notar as velhas andorinhas retornando do nosso velho verão
não irão notar aquela tristeza antiga escorrendo as paredes do bar
ou aquelas falhas conjuntas se repetindo entre olhares e sorrisos
e então cantarei uma música triste com o cigarro na boca
mostrando o belo canalha que me tornei sem esforço
irás ao banheiro de novo e então voltarás com o lápis borrado
vai me olhar com remorso por estar ali de novo
fazendo esforço pra entender como se apaixonou por uma mosca de bar
repleto de noites solitárias de memórias piamente confiáveis
carente de qualquer mostra de luz entre tantos desenganos e mentiras
iludido novamente pedirei a sua mão para dançar
porque quanto mais iludido mais feliz me torno
e ao me levantar marejo os olhos por ver que ali não estas
que costumava usar palavras mais aveludadas
enquanto te respondo dizendo que as tuas não passam de bordado de babador
e ficaríamos jogados na mesa do bar, cada qual no seu silêncio
como cinzas esquecidas na mesa de um velho adeus
pedirei naquela rouquidão que ando me acostumando
uma dose de conhaque a mais para poder achar palavras mote
e algum estranho vai se aproximar e me lembrar o quão chato
me torno quando estou seco e como atraio estranhos a meu mundo
você vai rir por que o bom senso impera na minha presença
vou no banheiro dirás e colocarás aquele lápis no olho
amarrará o cabelo de forma que a nuca ficará a mostra
deixará aquela hora mais luminosa e sentirei raiva
de todas as tolas bobagens que sou capaz de dizer a você
e notarei que meu perfume é barato demais
lembrarei de uma canção que gosta e cantarei
batucando entre o resto de cerveja barata caída na mesa
e resquícios de memórias sobre nossas vidas
sobre velho planos e outras luas e velhas solidões a dois
e pedirei outra dose enquanto me queimo com esta
você cruzará a perna e tocará a minha fazendo de conta que é sem querer
e os outros não saberão o que estará acontecendo
não irão notar as velhas andorinhas retornando do nosso velho verão
não irão notar aquela tristeza antiga escorrendo as paredes do bar
ou aquelas falhas conjuntas se repetindo entre olhares e sorrisos
e então cantarei uma música triste com o cigarro na boca
mostrando o belo canalha que me tornei sem esforço
irás ao banheiro de novo e então voltarás com o lápis borrado
vai me olhar com remorso por estar ali de novo
fazendo esforço pra entender como se apaixonou por uma mosca de bar
repleto de noites solitárias de memórias piamente confiáveis
carente de qualquer mostra de luz entre tantos desenganos e mentiras
iludido novamente pedirei a sua mão para dançar
porque quanto mais iludido mais feliz me torno
e ao me levantar marejo os olhos por ver que ali não estas
os pés
os pés vão se entrando. encurvados ao caminharem. tateiam o chão desde sempre e desde sempre acham aquilo esquisito demais para se tocar. o chão para aqueles pés não era sinônimo de algo firme. não entendia porque a terra não caída de fato como todas aquelas células ligadas em si. penetravam na idade daquelas pequenas partículas. monstras! diziam pois não os faziam esquecer de que tinham vindo de algum lugar. lugar que não existia que agora aqui está mas que depois não. isso em parcelas de bilhões de anos. o que parecer ser balela pura para se preocupar mas justamente essa balela fantasiosa era porque máximo para não ligar nada. nem um ponto a outro. nem um laço sequer. nada de nós nessa terra. nada de se ater, se apegar, por isso o curvamento daqueles pés e dedos. sozinhos. abandonados pernas que não entram na memória deles. visto de dois centímetros de altura o mundo se parece com uma imensidão tenebrosa. pés murchos de lágrimas. não há porque das lágrimas. memória não lembra certo o que fazer e porque. gatilho de explosão emocional é antiga demais. aquelas pequenas partículas que caem fazem tudo ficar mais tarde e almejar destino fatal o mais cedo que puder. o vir a ser é piada de mau gosto aqui. aqui aonde. nada de espaço. perdidos no tempo negam o espaço que o dão sentido ao ser. ao persistir. ao falhar ininterrupto. o eterno adeus. e os pés tateiam em qualquer sentido. acima ou abaixo a esquerda ou direita. quem sabe. vai saber. segue esfriando mais anoitecendo cada vez mais. e o barulho vai diminuindo. não há rastros de som. não há rastros deles na memória de ninguém. os pés vão se entrando formando uma massa epidérmica feia. uma bola mal feita como o que circunda. aquilo tudo ali visto a dois centímetros de altura. onde a queda é mais fatal aos olhos. onde o horizonte é mais que tanto mar e neblina. eles se esconde em si de unhas encravadas e longas. rasgando o senso. rasgando o ato. se furam e se acabam em minúsculas partículas. que entram terra úmida a dentro. vivendo para sempre sem saber.
quando os outros vão dormir
os velhos mortos me seguem
me puxam a terra enquanto a borboleta
anda em pleno m-ar
eu em terra firme
ela na chuva dançando ao longe
ganhando em infinito
o que perco em dor navegante
do outro lado da rua
braços agitam-se
trovoada mecânica
metais em coração
o pedido de socorro
a negação ao agora
a indesejada ronda os passos ritmados
decepando os necessitados de sopro vital
carnificina em emendas soldadas
a borboleta dança em seu azul-maior
diante daqueles que não estão mais
a cima do m-ar do todo
e como o último a ficar antes do próximo
e possível
nascer do sol
tendo achar um nome
um apelido
mas não dá
nada aparece
sexta-feira, 6 de março de 2015
desvida
retalhei aos poucos as lembranças. joguei em pedaços de lençóis limpos. ali vi aquele resto de batom, você deveria ter ficado, eu sei. juro que não foi mal. olhando aquela tela vazia me recriei em traição. contra mim mesmo. sim, a conheci, mas ela não mora aqui, ela esta do outro lado. tingida de azul. então voltei a normalidade. lembrei que havia chuva na tarde. as janelas ficaram abertas. todas. não por esquecimento. do parapeito da janelo, diante do quintal fechado, a água entrou e alagou o pequeno cinzeiro. escorria cinza quando cheguei em casa. tomado de proporção inimaginável, uma poça se criou em minha sala. então percebi que era, como sempre, um bom tempo para tudo mudar. mas me deparei a semelhança do espelho. fundo como um lago. um estranho mais corado no reflexo. suor, como hegemonia nessa terra. como primeira vez da minha vida percebi meus ossos. olhei aquela pele que ali não havia. olhei aqueles olhos tristes.
queria tingir o mundo de azul escuro. montei minha sala em móveis de papelão. deixei as portas e janelas abertas: para a próxima chuva derreter tudo. caminhei numa rua que queria estar. atravessei o sinal fechado a mim para entrar naquela porta gradeada. como pequeno ser entre os buracos. labirintos que criamos, entende?,mas te ofereci a chave de minha casa, eu sei, chorei na despedida não anunciada e me deixaste, eu sei, e agora? ligo o chuveiro e fico embaixo. só. o corpo encharcado pela solidão. andei tanto para pensar que minha vida se passou em uma semana. ilusão. e ainda sim tento reinventar.
trocados por nós. saudade de mim. sorrindo. invento um canto azul no meio de um sol escaldante. imagino urubus gigantes em cima da cidade. sacolejo de trovões falsos. abóboda celeste em dó maior. caindo em ré sustentado em vinho. copo roxo. percebo nele, no balanço da mesa em escrita, que não estou em casa. meu corpo é um veículo mau utilizado. ali, do outro lado do portão, ninguém passa. o tempo me responde. não entendo. nunca entendi. e de argumentos me faço raso. profetizo em blasfêmias gerando brisas que sequer move uma simples folha velha. já não penso no azul. já me perco nas cores. aquilo lembra a árvore. ali um tijolo jogado. de imagem infantil um poço enorme onde tinha medo de jogar uma pedra. o silêncio iria comê-la. como a mim. aqui.
me aprisiono. chá de coragem aqui não se vende. de preces me agarro. mas o caminho é tortuoso. eu simples criança olho tudo como se fosse sempre novo. na memória, nessa sala embaçada, esforço a lembrar um gesto inaugural. sem saber se a última dose irá chegar revejo vaga-lumes em minha frente. diante daqueles brilhos do raso do rio vejo uma queda no presente. o futuro é o mesmo de sempre, repleto em faltas que não entendo. e irá alvorecer. irá chegar o sol e sei que ele não depende de mim. e sigo iludido. ilusão. chegamos as duas da manhã e queria que cruzasse a sala aquele pequeno corpo. estranho a tantos olhares e para os meus. e sem saber o que fazer, de maneira maquinal meus olhos observam o velho conhaque sozinho no armário. me chamando. e desse grito pra compor uma sonata triste, a chuva se presentifica fazendo pequenos ruídos atrás de mim. tudo acontece longe do meu alcance. sinto que algo acontece, mas como saber? você não tem como saber, mas gostaria, deve estar aberto, não racionaliza, mas e daquele lado? pássaros cruzam, de cor plástica, mostram que estou mal, isso é fato. e sei que o retrato continua lá. aquele sorriso, tendo como pano de fundo um manto de rosas.
quando começo a escrever sem parar parece que nasci para isso. viver é narrar, inventar. desejo a morte no próximo ponto. não digo nada. não necessito. resguardo nada. me completo naquelas ondas de gotas que caem pelo telhado sujo. aquelas ondas curtas que formam desenhos que passam. o coro de algo imperecível. atrás de mim pessoas que comentam quadros. que revelam pinceladas, misturam de cores. qual o que. sonhador de verdade sai do mundo. tenta capturar aquele brilho no escuro. e quando você descobre que é um vaga-lume, um simples vaga-lume, você pensa que não há nada além daquilo. que é de fato um presente da natureza, mas o que faço dele? para onde vou? guardo a imagem nítida em minha mente, que brilha tanto quanto a lua, que irradia mais que aquele piercing no nariz da menina nova que vi. nada além daquilo. e não posso dormir por causa das cobras. elas preenchem o chão que tento manter limpo. minhas mãos perdem a pele. cada gole de conhaque é injeção do soda cáustica. corrói o delírio de achar que sou feito de esperanças. dizer que quero algo soa falso a mim. não acredito que tenho controle. tanteio sombras. ingeri em pílulas descrenças. e o copo roxo se torna dourado barato. maestro de meus choros que se identificam com o réquiem pessoal.
não me calo. tagarela total. me calarei. me suicidarei ainda no primeiro tempo. revolta primeira. marca aqui não deixa negar. nada a minha volta. deserto não bíblico. não entro em mim. não tenho memória. tenho o peito nu diante do vento frio que vem da rua. quero colapso real. ser atingido por bala guiada. e aquela que me apareceu rejeite os destroços da minha pele. do sangue coagulado. aquele cheiro que penetra. cheiro de vida vazada. cheiro que não suporto. e ele esta aqui. sentado na mesa ao meu lado. das nove as sete. fazendo da vida uma droga. chata. monótona. uma nó só. alfinetando. de perdido de mim sou desde miúdo. quanto já falei? seria uma manifesto. já pensei. você não sabe. para o bem devo matar. aquele ali. camisa em gola v de jeito suspeito. todo suspeito deveria morrer. e deveríamos saber que mataremos. pelo menos um gato. um rato. uma pequena menina. entrando lá dentro dela. como se cortasse um lindo bosque. não é uma mente doentia. sã. esse desejo é o mesmo que liga a lembrança da mãe com a pequena mão do bebê recém nascido. vou morrer, mas levarei você comigo. eu sou perdedor de mim. como razão a ser. vejam. olhem. minha pequena mão se desfazendo. agindo como tolos atrás de uma melancia que cai morro abaixo. triste e débeis. e o cinzeiro se enche. transborda a falta que mencionei.
o amigo diz que é o fim. o assassino sou eu. deitado na minha própria cama. usando minha roupa. tendo o meu cheiro. cercado de loucura. emplastado de loucura. com apenas uma coragem: de por o ponto final.
queria tingir o mundo de azul escuro. montei minha sala em móveis de papelão. deixei as portas e janelas abertas: para a próxima chuva derreter tudo. caminhei numa rua que queria estar. atravessei o sinal fechado a mim para entrar naquela porta gradeada. como pequeno ser entre os buracos. labirintos que criamos, entende?,mas te ofereci a chave de minha casa, eu sei, chorei na despedida não anunciada e me deixaste, eu sei, e agora? ligo o chuveiro e fico embaixo. só. o corpo encharcado pela solidão. andei tanto para pensar que minha vida se passou em uma semana. ilusão. e ainda sim tento reinventar.
trocados por nós. saudade de mim. sorrindo. invento um canto azul no meio de um sol escaldante. imagino urubus gigantes em cima da cidade. sacolejo de trovões falsos. abóboda celeste em dó maior. caindo em ré sustentado em vinho. copo roxo. percebo nele, no balanço da mesa em escrita, que não estou em casa. meu corpo é um veículo mau utilizado. ali, do outro lado do portão, ninguém passa. o tempo me responde. não entendo. nunca entendi. e de argumentos me faço raso. profetizo em blasfêmias gerando brisas que sequer move uma simples folha velha. já não penso no azul. já me perco nas cores. aquilo lembra a árvore. ali um tijolo jogado. de imagem infantil um poço enorme onde tinha medo de jogar uma pedra. o silêncio iria comê-la. como a mim. aqui.
me aprisiono. chá de coragem aqui não se vende. de preces me agarro. mas o caminho é tortuoso. eu simples criança olho tudo como se fosse sempre novo. na memória, nessa sala embaçada, esforço a lembrar um gesto inaugural. sem saber se a última dose irá chegar revejo vaga-lumes em minha frente. diante daqueles brilhos do raso do rio vejo uma queda no presente. o futuro é o mesmo de sempre, repleto em faltas que não entendo. e irá alvorecer. irá chegar o sol e sei que ele não depende de mim. e sigo iludido. ilusão. chegamos as duas da manhã e queria que cruzasse a sala aquele pequeno corpo. estranho a tantos olhares e para os meus. e sem saber o que fazer, de maneira maquinal meus olhos observam o velho conhaque sozinho no armário. me chamando. e desse grito pra compor uma sonata triste, a chuva se presentifica fazendo pequenos ruídos atrás de mim. tudo acontece longe do meu alcance. sinto que algo acontece, mas como saber? você não tem como saber, mas gostaria, deve estar aberto, não racionaliza, mas e daquele lado? pássaros cruzam, de cor plástica, mostram que estou mal, isso é fato. e sei que o retrato continua lá. aquele sorriso, tendo como pano de fundo um manto de rosas.
quando começo a escrever sem parar parece que nasci para isso. viver é narrar, inventar. desejo a morte no próximo ponto. não digo nada. não necessito. resguardo nada. me completo naquelas ondas de gotas que caem pelo telhado sujo. aquelas ondas curtas que formam desenhos que passam. o coro de algo imperecível. atrás de mim pessoas que comentam quadros. que revelam pinceladas, misturam de cores. qual o que. sonhador de verdade sai do mundo. tenta capturar aquele brilho no escuro. e quando você descobre que é um vaga-lume, um simples vaga-lume, você pensa que não há nada além daquilo. que é de fato um presente da natureza, mas o que faço dele? para onde vou? guardo a imagem nítida em minha mente, que brilha tanto quanto a lua, que irradia mais que aquele piercing no nariz da menina nova que vi. nada além daquilo. e não posso dormir por causa das cobras. elas preenchem o chão que tento manter limpo. minhas mãos perdem a pele. cada gole de conhaque é injeção do soda cáustica. corrói o delírio de achar que sou feito de esperanças. dizer que quero algo soa falso a mim. não acredito que tenho controle. tanteio sombras. ingeri em pílulas descrenças. e o copo roxo se torna dourado barato. maestro de meus choros que se identificam com o réquiem pessoal.
não me calo. tagarela total. me calarei. me suicidarei ainda no primeiro tempo. revolta primeira. marca aqui não deixa negar. nada a minha volta. deserto não bíblico. não entro em mim. não tenho memória. tenho o peito nu diante do vento frio que vem da rua. quero colapso real. ser atingido por bala guiada. e aquela que me apareceu rejeite os destroços da minha pele. do sangue coagulado. aquele cheiro que penetra. cheiro de vida vazada. cheiro que não suporto. e ele esta aqui. sentado na mesa ao meu lado. das nove as sete. fazendo da vida uma droga. chata. monótona. uma nó só. alfinetando. de perdido de mim sou desde miúdo. quanto já falei? seria uma manifesto. já pensei. você não sabe. para o bem devo matar. aquele ali. camisa em gola v de jeito suspeito. todo suspeito deveria morrer. e deveríamos saber que mataremos. pelo menos um gato. um rato. uma pequena menina. entrando lá dentro dela. como se cortasse um lindo bosque. não é uma mente doentia. sã. esse desejo é o mesmo que liga a lembrança da mãe com a pequena mão do bebê recém nascido. vou morrer, mas levarei você comigo. eu sou perdedor de mim. como razão a ser. vejam. olhem. minha pequena mão se desfazendo. agindo como tolos atrás de uma melancia que cai morro abaixo. triste e débeis. e o cinzeiro se enche. transborda a falta que mencionei.
o amigo diz que é o fim. o assassino sou eu. deitado na minha própria cama. usando minha roupa. tendo o meu cheiro. cercado de loucura. emplastado de loucura. com apenas uma coragem: de por o ponto final.
quinta-feira, 5 de março de 2015
sobre as coisas que direi ontem
necrose no meu órgão da esperança
consigo apenas amarrar um pequeno cordão na porta da frente
fechando a porta com meu dente do futuro preso
e o sangue não escorre
pela parede alta
num desses dias suados que canta tristeza
amarelo desencantamento
num sopro a minha casa
a primeira
de portas e janelas azuis
me vejo caído na frente
entre pedras enormes com o joelho estourado
sem sangrar
parece que não sangro
somente internamente
mas mesmo lá
sou acompanhado por essa necrose congênita
e mesmo assim
sigo bebendo com estranhos de vidas passadas
cada qual com sua dor pessoal
demais para mim
consigo apenas amarrar um pequeno cordão na porta da frente
fechando a porta com meu dente do futuro preso
e o sangue não escorre
pela parede alta
num desses dias suados que canta tristeza
amarelo desencantamento
num sopro a minha casa
a primeira
de portas e janelas azuis
me vejo caído na frente
entre pedras enormes com o joelho estourado
sem sangrar
parece que não sangro
somente internamente
mas mesmo lá
sou acompanhado por essa necrose congênita
e mesmo assim
sigo bebendo com estranhos de vidas passadas
cada qual com sua dor pessoal
demais para mim
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