sou feito de cinzas
acumuladas em copo plástico de conhaque
acompanhado pelo silêncio
jaz em qualquer lembrança
meu corpo
mar urbano me causa náusea
cotidiana
não tenho tempo para dormir
assolado pelo sol
e por olhos castanhos
nunca vago
sempre presente
dizem que ando bebendo demais
fumando demais
mas faço isso para não atirar
nos homens que enchem as ruas
Schubert arranca meu teto agora
lembra princesa que me abençoou
com inúmeros dias felizes
e que como esses homens da rua
que tantos se suicidam sem ninguém saber
encho a boca para provocar ilusões
em mim mesmo
matando o que sobrou
hipnotizado pela Lua e pedindo a ela
que em vez de me fazer feliz
de me deixar em harmonia
que regue em calmaria a vida da quem tanto me fez feliz
que a faça subir em acrobacias ao céu
que tenha devaneios dentro da felicidade
mesmo que isso custe minha sanidade
minha solidão em mais um bar
repleto de homens solitários
mesmo que só reste baganas e filtros em meu ser
desalojado da vida
imundado
repartido
desfragmentado por minas terrestres nesta terra tropical
que queimem minhas reservas de fulgas da realidade
mas que mantenham
mesmo que lá no fundo
entre destroços de minha carne e pensamento
nas ruínas de minhas esperança
o pequeno jardim que mantenho em seu nome
que ele floresça
não pelo orgulho ou pela solidão
mas pelo seu sorriso
Textos, escolhas, cenas e ações. Eu deveria descrever o blog. Mas necessito de algo mais...
domingo, 16 de novembro de 2014
retorno
fiz a barba como tentado mudar de vida. cara nova, mas feições conhecidas, repetições em desejos e falsetes. no espelho observava a pele vermelha do sol e o cansaço escorrendo pelos olhos. você vai ficando mais resistente. mas ao que? lá fora agora é noite. logo vai ser dia de novo. haverá sol bem cedo, desânimo de sempre e uma tristeza diferente. a tristeza agora que sinto é destonante das outras. uma novo colorido, agora cercado de sol. imagino inúmeras vezes um deserto em minha volta. deserto bíblico. não acho ruela alguma para mim. vejo apenas avenidas. repletas. cheias. nenhuma delas obstruída, mas sim de passagem livre a um sem número de solidões. infinitas em qualidades. todos iguais e decaídos. o mundo se mostra deslizando ralo a baixo. felicidade aqui é um dia de folga. marcada em números: dia 5. o dia do pagamento. não deixa de ser triste não. o problema se mantém nas formas de orgulho que se apresentam. vejo dia a dia a pobreza, o sofrimento, o trabalho quase escravo, a não vida que não se leva em troca de uma camiseta empresarial, tudo isso é motivo de orgulho. o trabalho por horas e horas. inclui feriados, dias festivos, faltas em encontros familiares. tudo jogado ao lado. deslizando avenida a baixo. um sonho mal feito dentro do sacolejo de um ônibus. todos os problemas reunidos ali. sacos de lixo sentados, ratos em pé, porcos se esfregando. a carne mais barata é encontrada ali. apodrecendo em pleno sol, antes mesmo das sete da manhã. dona cida vende espetinho e cerveja. nunca dorme. esta sempre se encontra ali: beira de canal urbano, repleto de asfalto, a ida, a passagem, a volta, todos retornam ali. a vejam, se vejam, se esfregam. o suor diário do rosto ao ânus. senhora ao meu lado está triste desde o início do dia. mãos não aguentam o inchaço do calor. sente dores no joelho e come espetinho de linguiça. tem dificuldade de mastigar o que acontece a volta. deseja apenas dormir bem esta noite. todos querem isso. eu também. virada de esquina faz quase todos caírem ou acordarem no ônibus. queria que chovesse mil dias seguidos. que houvesse barcos e inúmeros feriados. peixes enormes cruzando a avenida brasil. como num sonho uma enorme rede cruzando o céu da cidade. resgatando os sonhos que ficam perto do céu. devemos aceitar que a fé é o pouco que sobrou. que a chuva de insetos faz de todos uma praga perpétua. estátuas ambulantes, autômatos com sangue, máscaras faciais de desengano, suspeita, desinteresse, cansaço, dor, assustado, de espera, desânimo, perda, invasão, roubado, tristeza, ausência, desilusão, não vou falar dos olhares. outra parada. sempre há uma parada. desejo comum aqui, ali, é descer num lugar diferente e ver se a vida muda. se há um outro lugar para morar, para viver. talvez haja depois de duas ou sete quadras uma bela praia. um tempo mais ameno, um lugar onde a pele não resseque e nem se desfaça antes dos quarenta anos. cachaça da boa. companhia da boa. mar do bom. agora, como se existisse em tempos como esse um depois, um breve vento fresco. ele parece acalmar os ânimos. o mundo aqui parece descasar em paz depois de um tempo. todos os dias são felizes. devemos pensar assim.
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
Tempo-choro: fora de si
deflora sem demora
que melhora aquilo que molha
que consola
de mola repouso de cabeça
em espessa cola de dor que não devia ser escola
que de marola em marola nos engloba
nos namora
embora não pareça
como gigante sacola
que rola agora
beira de hora em hora
ao peso de uma tora
explodindo como bola fora
a dor jogada em tom de jangada afora
que em pele branca em pura nau cora
o lábio em amora
em multi cor e dor
de um amor-aurora
1
Minha roupa está grudada em meu corpo. Causando asco higiênico. Num ataque de horror mordi a língua e cuspi um pedaço dela. Saltou da minha roupa no meio da sala que não tenho. No chão que não há um pedaço meu agonizava. Eu olhava, não indiferente. Via como quem vê algo em espreita. Como uma sessão de cinema não paga. Tirei as meias e pouco de pele se foi. Pés em pus. Olhei-os como a parte mais distante fisicamente de mim. Sem-mim. Da janela que já não há um mundo em cantiga para acordar. Misteriosamente tocaram a campainha. Em forma de telepatia abri a porta e o tempo apareceu. Me convenceu de tomar uma dose lá fora. Mas lá fora eu tenho medo. Vivo em tempos de braços presos, eu disse. Nada como trocar a escova de dente, respondeu. Choveu dentro da não sala. Sempre chove, deveria. No resto da língua que sobrou um gosto de cinzeiro revigorou. Nojo de mim eu olhava de fora. Grudado no silêncio, viciado em dizer mil coisas e não dizer nada. Apanhei o pedaço da língua e engoli sem mastigar. Digiro apenas a tristeza na rua, mas apenas para elaborar contos. Nunca digo nada com nada. A minha palavra serva como escape, fumaça negra de cigarro em diesel. Parágrafos em tripas roxas. Clube dos açoitados pela noite não aceitou minha entrada. O tempo parou na porta e disse outra vez que vivo em tempos de secura. Insistia para eu beber. Tempo bandido. Palavras miseráveis, sentidos ladroados, calejo, espuma nos dedos. Ninguém nasceu para mim, pergunto ao tempo. Olhe pro céu, abismo de luz, e pro chão, infinito por qualidade, e me digas: como irás partir. O tempo já passou da hora por ele mesmo. Travessuras por travessuras, melhor trocar de pernas. Arranco-as de mim e as jogo no chão. Digiro a situação. Lembro do ventilador no painel do táxi, da imagem da praia milenar vivendo além de qualquer bobagem minha. Não há olhos que tomem conta de mim. Como irei partir. Minha roupa está grudada em meu corpo.
Outro
esse que fala não sou eu esse que aponta para ali onde aqui parece ser distante não é nada nada esse que lê novamente não tem olhos que vêm algo alguma coisa ponto qualquer pó que me interroga porque qualquer gesto é inútil indiferente perante qualquer miséria riqueza de céu solitário em noite cinza abarrotado meu peito minha voz que não é minha que diz que não vou não estou não ou não fora de mim vejo alguém mexer minhas mãos objeto animal oco alguém grita lá dentro em eco uníssono no lume da faca não sou eu que percebo o gosto da pele na boca de céu gritante chove imunda muda fala que não é minha que me chama por um nome que não sou eu mas que distante de mim escuta aquilo que rebate na parede fria do quarto vazio em tempos de choro
que melhora aquilo que molha
que consola
de mola repouso de cabeça
em espessa cola de dor que não devia ser escola
que de marola em marola nos engloba
nos namora
embora não pareça
como gigante sacola
que rola agora
beira de hora em hora
ao peso de uma tora
explodindo como bola fora
a dor jogada em tom de jangada afora
que em pele branca em pura nau cora
o lábio em amora
em multi cor e dor
de um amor-aurora
1
Minha roupa está grudada em meu corpo. Causando asco higiênico. Num ataque de horror mordi a língua e cuspi um pedaço dela. Saltou da minha roupa no meio da sala que não tenho. No chão que não há um pedaço meu agonizava. Eu olhava, não indiferente. Via como quem vê algo em espreita. Como uma sessão de cinema não paga. Tirei as meias e pouco de pele se foi. Pés em pus. Olhei-os como a parte mais distante fisicamente de mim. Sem-mim. Da janela que já não há um mundo em cantiga para acordar. Misteriosamente tocaram a campainha. Em forma de telepatia abri a porta e o tempo apareceu. Me convenceu de tomar uma dose lá fora. Mas lá fora eu tenho medo. Vivo em tempos de braços presos, eu disse. Nada como trocar a escova de dente, respondeu. Choveu dentro da não sala. Sempre chove, deveria. No resto da língua que sobrou um gosto de cinzeiro revigorou. Nojo de mim eu olhava de fora. Grudado no silêncio, viciado em dizer mil coisas e não dizer nada. Apanhei o pedaço da língua e engoli sem mastigar. Digiro apenas a tristeza na rua, mas apenas para elaborar contos. Nunca digo nada com nada. A minha palavra serva como escape, fumaça negra de cigarro em diesel. Parágrafos em tripas roxas. Clube dos açoitados pela noite não aceitou minha entrada. O tempo parou na porta e disse outra vez que vivo em tempos de secura. Insistia para eu beber. Tempo bandido. Palavras miseráveis, sentidos ladroados, calejo, espuma nos dedos. Ninguém nasceu para mim, pergunto ao tempo. Olhe pro céu, abismo de luz, e pro chão, infinito por qualidade, e me digas: como irás partir. O tempo já passou da hora por ele mesmo. Travessuras por travessuras, melhor trocar de pernas. Arranco-as de mim e as jogo no chão. Digiro a situação. Lembro do ventilador no painel do táxi, da imagem da praia milenar vivendo além de qualquer bobagem minha. Não há olhos que tomem conta de mim. Como irei partir. Minha roupa está grudada em meu corpo.
Outro
esse que fala não sou eu esse que aponta para ali onde aqui parece ser distante não é nada nada esse que lê novamente não tem olhos que vêm algo alguma coisa ponto qualquer pó que me interroga porque qualquer gesto é inútil indiferente perante qualquer miséria riqueza de céu solitário em noite cinza abarrotado meu peito minha voz que não é minha que diz que não vou não estou não ou não fora de mim vejo alguém mexer minhas mãos objeto animal oco alguém grita lá dentro em eco uníssono no lume da faca não sou eu que percebo o gosto da pele na boca de céu gritante chove imunda muda fala que não é minha que me chama por um nome que não sou eu mas que distante de mim escuta aquilo que rebate na parede fria do quarto vazio em tempos de choro
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
Distúrbio em Sol
cansei, pequena, cansei dos restos todos
do acúmulo de sacolas plásticas
de poeira sebosa no chão
da umidade que me impregna
de futuros na prateleira
cansei, pequena, cansei de mim mesmo
peguei as sacolas e comecei a guardar outras coisas
de início coloquei a chuva numa delas
abriu o sol de súbito
coloquei um pouco de esperança no outro
fez-se outra coisa então
cansei, pequena, cansei até de meu silêncio
troquei meus versos de pelada futebolística
por juras verdadeiras de amor a tua coragem presencial
por notas de oboé acima do vão existencial
acima do além do acima
como aqueles acrobatas sexuais
cansei, pequena, de dialogar com o Nada
tendo em memória e tatuado no ventre
a nossa dança de mil amores
sussurrado por astros poderosos
não o sacro, mas o sacro e volúpia
não o mar, mas o veleiro duplo entre as ondas do mar
cansei, pequena, de morrer no verde
como estátuas no porto da felicidade
isso não existe
vamos, pequena, no mesmo bar de sempre
não discutir
não olhar o mundo a volta
não reescrever
nem mesmo fazer plano algum
vamos, pequena, brindar um belo copo de cerveja
velejar nas margens de concreto e de grades enferrujadas
desviar de mendigos e de pombas mortas
como dois deuses antigos
acima dessa podre e brocha realidade
vamos, pequena, acima do tropicalismo
do temperado, do sub-mundo
alojando-nos no quarto mundo, que seja
que eu sei? numa queda infinita que seja
que seja
que seja qualquer absurdo
mas vamos
do acúmulo de sacolas plásticas
de poeira sebosa no chão
da umidade que me impregna
de futuros na prateleira
cansei, pequena, cansei de mim mesmo
peguei as sacolas e comecei a guardar outras coisas
de início coloquei a chuva numa delas
abriu o sol de súbito
coloquei um pouco de esperança no outro
fez-se outra coisa então
cansei, pequena, cansei até de meu silêncio
troquei meus versos de pelada futebolística
por juras verdadeiras de amor a tua coragem presencial
por notas de oboé acima do vão existencial
acima do além do acima
como aqueles acrobatas sexuais
cansei, pequena, de dialogar com o Nada
tendo em memória e tatuado no ventre
a nossa dança de mil amores
sussurrado por astros poderosos
não o sacro, mas o sacro e volúpia
não o mar, mas o veleiro duplo entre as ondas do mar
cansei, pequena, de morrer no verde
como estátuas no porto da felicidade
isso não existe
vamos, pequena, no mesmo bar de sempre
não discutir
não olhar o mundo a volta
não reescrever
nem mesmo fazer plano algum
vamos, pequena, brindar um belo copo de cerveja
velejar nas margens de concreto e de grades enferrujadas
desviar de mendigos e de pombas mortas
como dois deuses antigos
acima dessa podre e brocha realidade
vamos, pequena, acima do tropicalismo
do temperado, do sub-mundo
alojando-nos no quarto mundo, que seja
que eu sei? numa queda infinita que seja
que seja
que seja qualquer absurdo
mas vamos
sábado, 13 de setembro de 2014
te velei no meu colo
te velei no meu colo
pingava qualquer coisa de minha barba
que num corroer de horas estorvei
a mente contorcida
pingava doses de passado
jogada agora
o corpo se tornava animalesco
sorriso passivo de soco
germes ou genes num pequeno papel
embrulhado e posto no lixo
sangue que provavas
o leite que pincelava
o céu
universo bocal
de dentes armados
pulando de treze metros
entre tripas e indecências
insônia plana
numa corrente de poesia feita em várzea
caí finalmente
te velei porque não tive saída
não tenho outra coisa
nem atividade
só impotência
a minha poesia abriu a gaveta
o arquivo estava lá
em pedaços
destruído
apenas o título:
única chance
pingava qualquer coisa de minha barba
que num corroer de horas estorvei
a mente contorcida
pingava doses de passado
jogada agora
o corpo se tornava animalesco
sorriso passivo de soco
germes ou genes num pequeno papel
embrulhado e posto no lixo
sangue que provavas
o leite que pincelava
o céu
universo bocal
de dentes armados
pulando de treze metros
entre tripas e indecências
insônia plana
numa corrente de poesia feita em várzea
caí finalmente
te velei porque não tive saída
não tenho outra coisa
nem atividade
só impotência
a minha poesia abriu a gaveta
o arquivo estava lá
em pedaços
destruído
apenas o título:
única chance
Em busca de um ser fleumático: quase
Jogaram uma pedra de fogo em cima de minha casa, isso foi seu sonho?, sim, Paulo. Quem jogou, não ficava evidente, mas tinha corpos, entendo, um cheiro forte também. Isso acontece comigo às vezes, como assim?, Paulo, essa penumbra do cotidiano esse atraso do porvir, eu devia saber: respirar sempre, sem expectativas. Mas como acabava o sonho?, não acabava e nem acaba, queria um café, acordo antes do fim com a camisa molhada e o vidro da janela suando. Seus olhos estão vermelhos, você já disse isso, duas vezes, mas estão demais, Paulo. Meu nome é, pedi um café para nós dois, eu devia saber: tudo o que eu invento se torna enfadonho para mim logo após. Você não deve dizer isso. Acordei com muito sono, não sonhei nada, não sonho mais, você tem certeza? Vou direto para o banheiro e só me lembro que tenho que cortar o cabelo. Mas e os corpos do sonho? Eu viro o rosto sempre, estou falando do sonho, ah, sim!, se parecem comigo, até os mais velhos, as mulheres também. Se houvesse animais, açúcar?, não, eles, por favor, seriam maiores que os homens. Compreendo: nem sempre quero ouvir um igual a mim.
- Ah, você de novo. Não se incomode com esse balanço. Milimetricamente posto aqui. O raio de Sol não me incomoda nem um pouco. O que? Não quero compromissos.Você não mora no nono andar? Eu acordei com os lábios roxos.
O café está frio; eu sei. Ficasse olhando a rua, estava procurando algo, o que?. Sabes quando alguém o chama, garçom!. exige algo de você, por favor, um prazer barato em troca da estase que se encontra?, meu café está frio e o prefiro quente, que queres dizer com isso?. Eu tenho uma vida melhor do que esta encostada em vidro de café, devias sair, dois, semana por semana amarrado, calibre pequeno. Não entendi. Seu café vai derramar, Paulo, sou um filha da puta com pós-graduação em canalhice, falas isso por que sábado, compreendo: abrir a boca para uma mente vazia é alfinetar com ferrão o estômago em vez de lamber o mel de um Belo-ânus. Você é asqueroso, amigo é para isso isto. Obrigado, quero um doce, todos querem, o que, todos querem queriam, o papel caiu, uma pílula vermelha, vermelha?, ou era azul?, do que se trata?, gozado o café, gozada a vida. não me lembro, não, deslize de imagem ou memória furada, vaza a cor: vermelha ou azul?, Paulo?.
- Está aqui. A verdade. Faça o que você quiser. Estou pelo colarinho. Outra: faz tempos que você não vê. Sei que é óbvio: me tornei obtuso. Mas só um pouco de... Eu tive um sonho: bebíamos algo preto com outra coisa preta recheada de algo gelado. O gosto lembrava que eu havia escrito sobre a morte; Engraçado, eu sei. Minha barba fedia a asco. Me tornei barato sem estar a venda. Claro que você fechou a porta. Tonto.
Acabou?, garçom!, preferia que estivesse chovendo, pronto, agora sim! E se todas as medidas estivessem erradas?, já dissertamos sobre, não há parâmetro para algo: não há parâmetro, medida, relação a nada. O ponto inicial, dois cafés sim, inicial, referência é invenção, cinco?, estamos cercados por um vazio de cor bege. Paulo, vamos? Admiraria demais os outros se tivesse em representação de si mesmos: ontem naquela esquina, sim, homem trajado de verde, ali da farmácia, né?, cala a boca, me perguntou informação irrelevante, idiota, deu!, percebeu depois de um tempo, pega o seu casaco, Paulo, que eu não ouvia o que ele dizia. O pior, como se houvesse algo a ser o contrário, as unhas de minha mão crescem conforme o meu humor, é que eu mantinha um sorriso debochado, você é assim, um olhar tedioso, escrúpulo, tens costume de pintar no rosto dos outros a fisionomia da decadência: isso nunca foi estranho a mim. Ele, o cara?, o homem, eu fecho, tchau, ficou sem chão, sem vontade de seguir, olha o carro, Paulo! Quase. É sempre quase. É sempre quase. Era isso que eu via nele!, o quase?, depois do quase tem o que?, como vou saber?, que pergunta é essa? O quase é defeito nosso, nosso, deles, orgulho, presentificação da fé. Gostei!: o quase é a presentificação da fé. Acabasse comigo, como assim, Paulo, o carro está ali, sou ateu. Era. Mas você morria no sonho?, não, quer dizer, não sei dizer. Havia uma mulher no sonho, não?, sim! Mas dentro de minha cabeça. Ela tinha um ferro no peito, já sei, recheada de sangue. Quase: não.
- Ah, você de novo. Não se incomode com esse balanço. Milimetricamente posto aqui. O raio de Sol não me incomoda nem um pouco. O que? Não quero compromissos.Você não mora no nono andar? Eu acordei com os lábios roxos.
O café está frio; eu sei. Ficasse olhando a rua, estava procurando algo, o que?. Sabes quando alguém o chama, garçom!. exige algo de você, por favor, um prazer barato em troca da estase que se encontra?, meu café está frio e o prefiro quente, que queres dizer com isso?. Eu tenho uma vida melhor do que esta encostada em vidro de café, devias sair, dois, semana por semana amarrado, calibre pequeno. Não entendi. Seu café vai derramar, Paulo, sou um filha da puta com pós-graduação em canalhice, falas isso por que sábado, compreendo: abrir a boca para uma mente vazia é alfinetar com ferrão o estômago em vez de lamber o mel de um Belo-ânus. Você é asqueroso, amigo é para isso isto. Obrigado, quero um doce, todos querem, o que, todos querem queriam, o papel caiu, uma pílula vermelha, vermelha?, ou era azul?, do que se trata?, gozado o café, gozada a vida. não me lembro, não, deslize de imagem ou memória furada, vaza a cor: vermelha ou azul?, Paulo?.
- Está aqui. A verdade. Faça o que você quiser. Estou pelo colarinho. Outra: faz tempos que você não vê. Sei que é óbvio: me tornei obtuso. Mas só um pouco de... Eu tive um sonho: bebíamos algo preto com outra coisa preta recheada de algo gelado. O gosto lembrava que eu havia escrito sobre a morte; Engraçado, eu sei. Minha barba fedia a asco. Me tornei barato sem estar a venda. Claro que você fechou a porta. Tonto.
Acabou?, garçom!, preferia que estivesse chovendo, pronto, agora sim! E se todas as medidas estivessem erradas?, já dissertamos sobre, não há parâmetro para algo: não há parâmetro, medida, relação a nada. O ponto inicial, dois cafés sim, inicial, referência é invenção, cinco?, estamos cercados por um vazio de cor bege. Paulo, vamos? Admiraria demais os outros se tivesse em representação de si mesmos: ontem naquela esquina, sim, homem trajado de verde, ali da farmácia, né?, cala a boca, me perguntou informação irrelevante, idiota, deu!, percebeu depois de um tempo, pega o seu casaco, Paulo, que eu não ouvia o que ele dizia. O pior, como se houvesse algo a ser o contrário, as unhas de minha mão crescem conforme o meu humor, é que eu mantinha um sorriso debochado, você é assim, um olhar tedioso, escrúpulo, tens costume de pintar no rosto dos outros a fisionomia da decadência: isso nunca foi estranho a mim. Ele, o cara?, o homem, eu fecho, tchau, ficou sem chão, sem vontade de seguir, olha o carro, Paulo! Quase. É sempre quase. É sempre quase. Era isso que eu via nele!, o quase?, depois do quase tem o que?, como vou saber?, que pergunta é essa? O quase é defeito nosso, nosso, deles, orgulho, presentificação da fé. Gostei!: o quase é a presentificação da fé. Acabasse comigo, como assim, Paulo, o carro está ali, sou ateu. Era. Mas você morria no sonho?, não, quer dizer, não sei dizer. Havia uma mulher no sonho, não?, sim! Mas dentro de minha cabeça. Ela tinha um ferro no peito, já sei, recheada de sangue. Quase: não.
terça-feira, 2 de setembro de 2014
Em busca de um ser fleumático - o cão
Um escritor existencialista entra no filme e vira o personagem principal. Decadente pensar no Sartre numa dessas situações: transando com uma moça novinha, de pele branca e que quer ser modelo enquanto fuma maconha e canta qualquer coisa em inglês que ninguém entende. Esperta pelos seios. Concordo que são bonitos. Mas repulsivo. Nunca tem gente de verdade trepando na televisão. Talvez a audiência de corpos desconexos não chame a atenção. Um homem barrigudo e peludo, banhado em canha, sem dente, pele cinza de cigarro, no auge de seus cento e poucos quilos prensa sua namorada, de passados cinquenta anos como ele, no tanque de lavar a roupa. Camadas de gorduram se enlaçam como dedos na névoa. Peles não brancas, não negras, embolotadas de gordura, de cansaço, se amam. Suor de texturas descendo pele abaixo. Os pássaros todos cantam. Há espumas de sabão na mão, espumas de amor na boca, espuma de sexo no sexo. O cheiro da coisa toma o ar! Ela na ponta dos pés se contorce enquanto ele a chama de gorda gostosa. Ele a aperta com aqueles dedos cascudos, repletos de fendas e amarelados, escuta o murmúrio baixinho dela: filha da puta! Mas é carinhoso o que dizem entre si.
Volto ao filme. Faz uma meia hora que não vejo. Já procurei um vinho para beber umas três vezes. O céu bebeu a terra hoje por sinal. Escritor de filme sempre tem a barba pro fazer e sempre bebe num bar medonho. Qualquer escritor de filme chuparia o Rubem Alves. Eu já ouvi isso de um filme aliás. Não tem vinho aqui. Eu queria voltar há um princípio. Numa noite tal. Numa em que eu não ficava pensando tudo em forma de conto. Narrador de mim mesmo. Me pergunto: quem sou enquanto escrevo? Pra seguir eu escrevo. Muito de mim sobra. Ando deslizando pelo mundo. Por entre as pessoas. Cada esquina dessa cidade eu vejo um cordal umbilical se formando. Tenho mais de mil umbigos e não tenho cidade mãe. Escritor de filme fica pelado, mas seu pau nunca aparece. Apenas a mulher fica pelada por inteiro. Corpo jovem. A juventude é cara na minha opinião. Mentirosa por um lado e pelo outro suscita a quatro canto toda a história ali. Nem sei. Não confio em jovens. Nem me estigmatismo em qualquer tribo. Nem das alfaces nem do personagem escroto do filme que bebe whisky. Todo escritor de filme bebe cerveja em bar medíocre e whisky barato em casa, numa cadeira fudida, numa sala fudida, em algum bairro fudido. O que eu queria agora? Empinar uma pipa na rua, fumando um cigarro e vendo um moleque correndo atrás de um cão. Em plena noite. Bebendo uma lata. Coçando a barriga e vendo a sujeira no chinelo marcado no peito do pé. Mentira. Queria sair de mim.
quinta-feira, 24 de julho de 2014
Em busca de um ser fleumático - a contraposição
Depois de nadar no mar ele resolveu andar em toda a sua margem. De carro observava todo o mar cinza. Na margem das casas. O mar cinza. Estava escurecendo. Lá no alto do céu um pássaro de peito amarelo plainava em busca de comida. Maria Chorona cantava do outro lado do continente. Nos seus olhos?, todo o mar se agitando aos poucos, antes, abraçava o mar e ele o consumia. Nadava mar a fora e o mar o abraçava a dentro. O pássaro amarelo mirou o bico em direção a pequena duna lá embaixo, rastejava um ser humano desproporcional, havia mais submissão existencial que desejos pingando nas mãos, um pé era maior que o outro também. O carro agora chegava a uma grande velocidade, balançava um pouco por causa do vento. Ventava, imaginava um risco na sombra disforme do Sol que já não havia ou que estava derretido, líquido. O pássaro deu um rasante ao poste morto, agarrou um fio qualquer e olhou o mar. Todos os olhos olharam o mar. O mar crescia delinquentemente, já havia alcançado a estrada, o carro já estava molhando as rodas, o pássaro amarelo não poderia mais ser visto em meio a tantas nuvens que chegavam. O mundo escureceu. Maria Chorona havia avisado lá do outro lado. Eram montanhas moventes que apareciam do mar. Imensas ondas. O pássaro voou em direção ao continente, seu peito amarelo ficou marrom, a fome dele sumiu. O homem, ele, no carro acelerava, a medida que aumentava a velocidade as ondas cinzas aumentavam, a estrada afunilava e de imediato como um sonho, era, pedras e rochas, dois rochedos nasceram. Pássaro ali se escondia, mas ele não existia mais, nunca havia, animal inventado. O homem preocupado acelerou, perna esticada, braço dolorido, peito aberto, a onda aumentou, seis andares, sete, entrou nos rochedos que criavam uma pequena estrada, ele via a sua frente a água entrando, no retrovisor?. a mesma coisa, a água o pegaria, como?, pensou rápido, a onda chegou, ele acelerou o carro num ímpeto irracional. A água levantou o carro através de um redemoinho frio, raspou nas pedras, pairou no ar quando a água começou a baixar, a onda estava indo embora. O carro caiu. O homem havia se segurado numa pedra em alguma lugar no rochedo. Ele estava com medo. Estava tudo cinza e frio. Longe do chão. Os braços iriam cansar. Ele iria enferrujar logo e cairia. Grito inevitável. Ninguém iria escutar. Ele avistou uma sombra disforme no céu. Ela não se mexia. Ele também. Cerrou os olhos e imaginou ser um pássaro que sairia dali. Se soltou da pedra em falso acordando sem saber onde estava.
segunda-feira, 21 de julho de 2014
Contrapontos de um mesmo pampa
Tomo o último gole de café ensopado
de frio, você está bebendo demais, amor. É apenas o café hoje, mesmo que o
pampa-lugar-de-onde-falo não tenha tempo, tento e me mantenho acordado por mais
um momento. Lembro: "eu queria esquecer que existo". Os dois deveriam
ter se encontrado naquela mesma cama de sempre, você está bonita, amor, ele
veria aquele sorriso que tanto dizia de imediato numa leve brisa, teu nome é primavera.
Sutil. Menos travesseiros ou enganos ou presságios e mais embaralho de pernas
ou sonhos ou vergonha na cara. Você, meu caro amigo, nunca aprendeu a lidar com
suas emoções, e eles não se encontraram naquela cama-mar tanto mencionada,
amor. Eu sei disso, companheiro, mas nunca fale sobre isso de novo. Há tanto de
campo entre nós que minha solidão está sendo loteada por fantasmas. Sopro de
vento aumenta na rua e mundo parece entender que muito deixei de existir. Há
algo de entedioso no seu estar, amigo, rompante de pampa amante do inverno se
aprochega em sua varanda úmida, gostaria muito de te ver amanhã, agora mesmo e
romper o espaço que há entre nós e te dar um beijo, amor, ele gostaria de
deixar todas as coisas para trás, mas ainda é fraco. O que lhe passa na cabeça?
Lembro: crescer é fazer escolhas e lidar com as conseqüências. Do lugar onde
ele está não se vê a cidade, não há barulho nenhum a não ser de seu pensamento,
não há tropical, nem beco de Bandeira, não se fala de praia, não se conhece o corcovado,
e cachaça de Itapuã?, nada se encontra onde ele está, deixou de representar
muito, vive agora três personagens cotidianos que vivem e brigam entre si
dentro de sua própria carne ansiosa. Abstêmio e não fumante por seis longos dias
infernais. Metais invocam Ave Maria a pedido do diabo que insiste em morar dentro
da cabeça dele. Ele vai a cozinha e pega a faca e o afiador. Silêncio de
vizinho recorda cotidiano e rompe cerca de seu umbigo-limbo-total, buenas?,
como que está?, sabe o que aconteceu com vizinho, cercado pela morte, como?,
bateu com moto em serra longínqua, torcedor fervoroso da Alemanha morreu antes
de gritar campeão. Comprarei um lugar para ser feliz amanhã, terremoto em
solidão, ele afia a faca pensando poder cortar algum trecho do passado como se tirasse
um pedaço qualquer de um boi, qual?, aquele que ele dividiu a sua vida,
voltemos, neste momento penso que deveria pensar mais naquilo que poderia me
dar mais firmeza no âmbito profissional, amor. Durmo como animal acuado, ele
pensa que alguém entrará na sua casa-que-não-é-sua lhe arrancando de mais um pesadelo
e fazer com que viva em alguma altitude afastada do mar, aquele mesmo que sonho
e já falei. Lembro: sonhei com aranhas e escorpiões de cobre ontem a noite,
senti medo eles estavam por toda parte. Por mim você ficaria todos os dias
aqui, não houve amor no complemento, família dele o olha como albino entre
zebus urbanos que rondam margens de grades enferrujadas de qualquer coisa que se
ensina a muito tempo. Você pode dar aula de que? A massa pobre de humanos coisificados
vivendo vidinha chula lutam cotidianamente por si imaginando qualquer coisa redonda
e em fogos, amigo você procurou emprego hoje?, em fogos cair num átimo do firmamento
queimando todos e tendo longo período de chuva afogando o resto. Ficarei em pé para
descrever tudo. Percebe o mundo estranho que crio sozinho?, você fala como se
tudo existisse na sua volta, amigo, previsão climática anuncia frio estrondoso para
realidade cortante. As pessoas ficarão tapadas de frio. Na casa dele agora não
há ninguém, ele se senta e escreve, pretensão de olhares, se assombra com o
fato de poder ter alguém-invisível o observando, sobe em ônibus, passa por acidente,
por pessoas, ainda bem que cheguei, amor, não digo que cedo, deveria ter estado
aqui muito antes. O silêncio feito na cabeça dele era um eco de esquecimento de
palavras, quais são as melhores?, sempre se torna chato quando tenta agradar alguém,
ele quer agradá-la, havia algo entre o fato de eu não existir antes e sem você
agora, amor, e a relação entre o seu sorriso e minha felicidade. Tremes
delirium no silêncio diário dele. Cachorro com fome de costelas soltadas
percebe senhora que come um pão com mortadela, apartamento de três dormitórios
a alugar no oitavo andar, peso por doze centavos, morrem mais de trezentos
palestinos somente hoje, eu preciso tomar outro café, mantém minha ansiedade
baixa por incrível que pareça, amor, e eu estou ansioso pra caramba. Quando foi
que ele começou a ficar assim? Lembro: te amo mais do que pensava e minha presença
para mim está irritante. Previsão climática de Evandro é fatal: choverá-choro em apenas um
lugar do pampa essa noite.
segunda-feira, 7 de julho de 2014
Dia frio - anotação III - extraído de algo longemente passado
Terceiro dia seguido de frio. A casa suava por todos os
lugares. Acordei com a garganta e a vontade de viver totalmente secas. Meus
olhos ainda não se acostumaram com tamanha luz. A porta estava cada vez mais
longe de minha cama. Sacrifício indolente era sempremente sair. Não escutava
nada-sempre de princípio. Anteontem, ao dormir, percebi que meus pensamentos
estavam altos. Falava comigo mesmo em tom de terceira pessoa tendo no mínimo
quatro espectadores. Eles reagiam a caba réplica. Óbvio. Indo embora logo no começo. Depois de algum tempo,
no cansaço mental, escutei a chuva. Abri a janela a água despejou para dentro
de meu quarto. Havia muita água na rua. Percebi então que chovia há muito
tempo, refletindo sobre o nível de água na rua. Estava fria. Fechei a janela por isso. Abri um buraco no chão com alguma coisa pontiaguda
que achei em algum lugar. Na minha perna talvez. A situação, inédita na minha vida,
não me assustou. Na verdade fiquei um pouco entediado e voltei a falar comigo
mesmo. Meu cachorro forçava a entrada de meu quarto. Fazia um barulho
perturbador. Não me movi e nem pensei. Me fingi como um bom cadáver. Os
cadáveres não pensam. Não pensei. Mas Pisca, assim é o nome dele, é esperto
demais e começou a latir. Me levantei. Novamente molhei as pernas. Água até o
joelho. Estava fria ainda. Espirrei. Previsível. Comecei a sentir frio.
Previsível também. Senti a vida um pouco obsoleta. Por um momento pensei que um
mosquito tinha me picado. Ou algum pássaro dado um rasante e minha cabeça.
Dentro de meu quarto? Mas isso é um pensamento, poderia ter sido uma máquina do
tempo, repleta de cartas do passado, espalhando cinzas de memórias que se perderiam
todas naquela água marrom que me fazia tremer mais. Eu não tenho armário e não
teria como pegar um casaco ou um paletó. Abri a porta de uma vez. Pisca pulou
em meu peito. A água escorreu para a sala-cozinha. Estava calor ali. Fedia.
Pisca me lambeu e percebi que estava sangrando muito. Fiquei com nojo dele e vi
um homem na janela. Vestia vermelho e se dizia dos bombeiros. Mandei ir embora.
Ele gritou outras coisas, mas não entendi. Adormeci logo depois. Havia
imaginado qualquer coisa parecida com isso antes de acordar. Acordei mijado.
Com dor nas costas e com um gato em meus pés. Presumi que o gato havia mijado e
não eu. Tomei a primeira decisão do dia: colocaria a responsabilidade de
qualquer acidente nos outros.
quarta-feira, 2 de julho de 2014
Pequena-flor
I
Chuva-chorada caía na cidade
e no meio de milhões de gotas
uma pequena-flor branca se protegia
Eu, homem-tédio, tocava meu falso trompete
(como manda meu itinerário)
em busca de outro conto imaginário para formular
Tudo ao contrário
Mas fazia o meu tipo
Tudo ardia
Pequena-flor de olhos vivos me desfez
de mil memórias onde saiu o velho desejo
que chuva-chorada caía em prata desta vez
e com meu olhativo tentei te dar um beijo
Rua-poetisa soava música em homenagem
ao nosso encontro de silêncios-filetes
dançando em meio ao nosso humor-boa-viagem
Pequena-flor exaltava perfume em minha tosca face
e eu tentava seduzir com velhos cacoetes
II
Nunca uma estrada vazia se fez tão bela
Nunca tinha sido tatuado
Marca de beleza-rainha em meu andar
Não houve fim, mas um eternizar
III
E hoje a chuva-chorada não está
em seu lugar chove-choro
dias assim não estou de bem com a vida
não passa na alma afogar-me em conhaque
Queria virar borboleta jogada de vez
em vez de fazer votos em versos para aquilo que tanto rasurei
O passado ilumina tudo o que vejo aqui
quarto-mirante de sonhos que me faz lembrar:
"Eu velejava em você!"
Rosto seu aparece em mar e em Lua
Nadando em mar-poema feito a dois
Porém, hoje me afogarei sem renascer
IV
Doses triplas de Aldir Blanc
Penso na miséria da tristeza e da saudade
Como para sentir suas andorinhas em mim
Teu amor-andorinha fez ninho eterno aqui
Canta em meio ao jardim de Pequena-Flor
Onde brincamos de crianças, amantes, acrobatas
Querida querubim molhada de terra branca
Submersa em nuvens a luzir, lembro-me que
Nosso amor nunca foi barato
e que tua ausência é extremamente irritante
Chuva-chorada caía na cidade
e no meio de milhões de gotas
uma pequena-flor branca se protegia
Eu, homem-tédio, tocava meu falso trompete
(como manda meu itinerário)
em busca de outro conto imaginário para formular
Tudo ao contrário
Mas fazia o meu tipo
Tudo ardia
Pequena-flor de olhos vivos me desfez
de mil memórias onde saiu o velho desejo
que chuva-chorada caía em prata desta vez
e com meu olhativo tentei te dar um beijo
Rua-poetisa soava música em homenagem
ao nosso encontro de silêncios-filetes
dançando em meio ao nosso humor-boa-viagem
Pequena-flor exaltava perfume em minha tosca face
e eu tentava seduzir com velhos cacoetes
II
Nunca uma estrada vazia se fez tão bela
Nunca tinha sido tatuado
Marca de beleza-rainha em meu andar
Não houve fim, mas um eternizar
III
E hoje a chuva-chorada não está
em seu lugar chove-choro
dias assim não estou de bem com a vida
não passa na alma afogar-me em conhaque
Queria virar borboleta jogada de vez
em vez de fazer votos em versos para aquilo que tanto rasurei
O passado ilumina tudo o que vejo aqui
quarto-mirante de sonhos que me faz lembrar:
"Eu velejava em você!"
Rosto seu aparece em mar e em Lua
Nadando em mar-poema feito a dois
Porém, hoje me afogarei sem renascer
IV
Doses triplas de Aldir Blanc
Penso na miséria da tristeza e da saudade
Como para sentir suas andorinhas em mim
Teu amor-andorinha fez ninho eterno aqui
Canta em meio ao jardim de Pequena-Flor
Onde brincamos de crianças, amantes, acrobatas
Querida querubim molhada de terra branca
Submersa em nuvens a luzir, lembro-me que
Nosso amor nunca foi barato
e que tua ausência é extremamente irritante
terça-feira, 24 de junho de 2014
Má-fé
substâncias tóxicas preenchem minha solidão
meu corpo realmente vira uma máquina
que funciona sozinha
com apenas uma mão
velhos tapetes se gratinam
e no passar de um mosquito
viro gladiador moderno
astuto
com a lança ainda erguida
mirando a cruz de Caravacca
o presente fica roxo
e abro a janela
pequenos meninos viram soldados de pernas daltônicas
carros são acessos para São João
nenhuma mensagem
coco de cachorro no varal de roupa suja
Lua com cólica
o céu roxo
e fecho o passado
na cabeça passa mundos:
estou pronto para dormir
deixei a semana passada para o mês seguinte
alguém se matou agora
uma mulher acaba de casar de cócoras
uma menina se roça
uma égua copula
matei outro mosquito
noticiário:
gladiador mata mosquito
com uma lança na mão
tempo demodernos
meu corpo realmente vira uma máquina
que funciona sozinha
com apenas uma mão
velhos tapetes se gratinam
e no passar de um mosquito
viro gladiador moderno
astuto
com a lança ainda erguida
mirando a cruz de Caravacca
o presente fica roxo
e abro a janela
pequenos meninos viram soldados de pernas daltônicas
carros são acessos para São João
nenhuma mensagem
coco de cachorro no varal de roupa suja
Lua com cólica
o céu roxo
e fecho o passado
na cabeça passa mundos:
estou pronto para dormir
deixei a semana passada para o mês seguinte
alguém se matou agora
uma mulher acaba de casar de cócoras
uma menina se roça
uma égua copula
matei outro mosquito
noticiário:
gladiador mata mosquito
com uma lança na mão
tempo demodernos
sexta-feira, 20 de junho de 2014
Em busca de um ser fleumático - primeiro estudo
"Vende-se Panácea" era o
que estava escrito em giz no quadro negro na frente daquela antiga casa. Foi
esta imagem que eu vi quando acordei. Antes mesmo de usar o banheiro a primeira
vez no dia já sabia o que iria fazer a tarde. Depois de descansar após o almoço
eu iria. O que não aconteceu. Me deu uma fraqueza e acabei acordando apenas as
cinco da tarde. Chovia. Não lembro se chovia antes. Voltei a dormir. No segundo
dia acordei mais cedo. Relampejo corporal que me acordou: estava grudento na
região solar. Fui obrigado a tomar banho e trocar de roupa. Fazia frio, o que tornou
a atividade de difícil enredo. Enquanto notei a dor que tinha em meu peito, que
se localizava a dois dedos de meu terceiro mamilo, pensamento-frouxo diz para
mim que havia Panácea à venda naquela tal loja. Esquisito. Eu não sabia o que
aquilo significava. Porém, jeito-curioso de minha performance diária me
cutucava para ver o que aquilo era. Isso me fez construir a primeira pergunta do dia:
"vou ter que sair neste frio." Não era bem uma pergunta, mas gerava
comos-de-afazeres tal tarefa. Vai saber?
Coloquei a roupa mais quente que
tinha. Eu me tornei uma pantufa humana. Me tornei um imenso farol andando na
rua para qualquer olhar. Era como se me invadissem, criticavam telepaticamente
minha ignorância em termos de combinações entre cores, texturas, sobreposições
e outras maneirismos técnicos que não decifrei. Sorte minha que logo
chegando a segunda quadra de minha viagem uma longa chuva cobriu tudo. Homens e
mulheres se refugiavam como se tivesse um bombardeio. Triste país-meu; nunca
guerra teve. Não sei o que é. Mas igualizo significado de guerra a
chuva-trompeta. Assim era a chuva que caía: chuva-trompeta. Como uma boa
pantufa que eu estava, nada de água tocou minha pele. Segui viagem. Atrás da
tal Panácea. Lembrei de relampeio que estava perto da casa de meu amigo. Pessoa
séria. Postura-modular; de modelo mesmo. Sempre fez exercício desde de pequeno.
Minhas orelhas, que são favas de Jataí, nunca escutaram reclamação de tal boca
dele referente a problemas nas costas. Abismal. Simplesmente, abismal. Bati na
porta da casa dele e fui entrando. Sua vida se resume a ficar sentado numa
cadeira de rodas. Nunca me falou o que aconteceu a ele. Não perguntei também.
Não sou indigesto. Fiquei com calor ao entrar na casa dele e tirei alguns pares
de roupa. Ele estava parado olhando uma samambaia quando o vi.
- Qualquer coisa de absurdo há nesse
animal. Ele parece de borracha.
Compreendi de imediato que ele não
olhava a planta. Raciocínio meu andava a toda naquele dia. O que me deixou
cansado e com vontade de dormir. Eu vestia camiseta vermelho-caqui.
- Ela estava na porta ontem de noite.
Correu da chuva e agora está ali. Tenho fraco com esses animais. Soube que as
aranhas é o sua comida preferida para comer. Ele parece uma borracha que gruda.
Olhei para a parede. Não achei nada.
Sempre que olho paredes verdes, como aquela de meu amigo, lembro de tartarugas.
O casco da tartaruga é uma parede de tão resistente. Qual seria o gosto de uma
tartaruga? Pensamento-fluxo meu parou no seguinte-segundo; gargalhada afônica
de meu amigo me despertou num susto.
- Ele fez xixi.
Isso sempre me dá vontade de rir.
Quando vou fazer xixi sempre rio. Mas não era pra isso que eu tinha ido até lá.
Eu então abri a boca e depois de uns trinta segundos falei:
- Grande parsa! Vim aqui dizer que o
estimo ainda mais depois de nossa última sessão de descarrego verbal. Agradeço a
sua afasia total em nosso encontro de sábado.
- Que bebedeira! Mas que vens fazer aqui?
- Estou com uma imagem em minha cabeça...
- Você tomando banho com a sua mãe?
- Não.
- Estava brincando.
- O letreiro de uma loja que vende Panácea.
Você sabe me dizer o que é isso?
- Acredito que isso não lhe servirá para
muito.
- Você desconhece, né?
- É uma palavra usada apenas por pessoas
que estudam palavras antigas ou que conhecem algo de medicina medieval. O que não
posso dizer que é um fato consumado. Olhe lá! Ele vai se mexer de novo.
Deixei meu amigo sério ali. Sai pela porta, devo
ter falado alguma coisa após outra gargalhada afásica sempre confundida com um grunhido.
Má-educação de ouvintes ignorantes. Diabos. Eu de pantufa estava na rua. Chuva-trompeta
agora estava em ritmo de Rai argelino. Me exibia com passos de dança. A água estava
na minhas canelas. Mas pouco importava. Até me deu um ponto branco de tristeza no
coração. Lembrei que sempre usei inseticida em vez de amor. Metamorfósico, talvez.
Procurava a tal loja. Mas me divertia pisando forte na calçada que eu não via. A
água pulava pra cima me molhando. Me divertia ainda mais. A água subiu rapidamente até minha
coxa. Naquele momento percebi que estava com frio. A água estava com cor de besouro.
Sacos plásticos nadavam como piabas. O que era estranho, pois não havia piabas naquela
região. Eu seguia vivente naquela água inteira. Quando fiquei cansado; subi numa
árvore. Ela se chamava Diara. Ela me contou que eu não devia andar por ali. Que
o tempo não era propício. Que lugar bom para andar naquela época era Fukushima,
mas que mesmo essa já não estava em seus bons velhos tempos. Contou piadaS de Pica-Pau
misturando seus nomes com o do Quero-Quero. Fiz xixi de tanto ri e ri mais ainda
quando fiz xixi. Olhando a água vi uma placa boiando: "Ven...-se...anác..a...."
Não entendi. Diara me abraçou e no meio do seu tronco dormi. Estava sequinho demais,
quentinho demais, que tirei a pantufa toda. Deu preguiça e eu dormi. No meio do sonho me falei: "Outro dia eu vou atrás da tal coisa que esqueci."
domingo, 15 de junho de 2014
As coisas
Sempre sonho aventuras que me surpreendem
Aprendo muito nessas viagens
Sempre dormindo
Ontem tive um sonho
Vi um rosto que mudava constantemente
Inúmeras pessoas ali se manifestaram
Não conhecia ninguém e eles se multiplicavam sem parar
Todos os olhos, cabelos, rugas
Tudo se fundia
Era impossível saber
Mas acordei sem reconhecer meu rosto
Me vendo apenas em outro
E todas as coisas ficaram afastadas
As árvores
A calma
A música
Ela e ele
E eu com medo
Querendo apenas voltar a dormir
Deixar meus olhos aos cuidados de outro
Voltar ao silêncio, rei da vida
No meio daqueles rostos incompletos e confusos
Eu perguntava:
"As coisas se acalmam em algum momento?"
E tudo se dissipou
Acordei
Sozinho
Aprendo muito nessas viagens
Sempre dormindo
Ontem tive um sonho
Vi um rosto que mudava constantemente
Inúmeras pessoas ali se manifestaram
Não conhecia ninguém e eles se multiplicavam sem parar
Todos os olhos, cabelos, rugas
Tudo se fundia
Era impossível saber
Mas acordei sem reconhecer meu rosto
Me vendo apenas em outro
E todas as coisas ficaram afastadas
As árvores
A calma
A música
Ela e ele
E eu com medo
Querendo apenas voltar a dormir
Deixar meus olhos aos cuidados de outro
Voltar ao silêncio, rei da vida
No meio daqueles rostos incompletos e confusos
Eu perguntava:
"As coisas se acalmam em algum momento?"
E tudo se dissipou
Acordei
Sozinho
quarta-feira, 4 de junho de 2014
3
Rompantes de
trovões no céu se confundiam
Com balas do
tamanho de cabeças de bebês
Perfurando
qualquer zé ninguém de qualquer canto nenhum
Meu país de
origem em cima de uma mesa quebrada
Era servido
como um tomate verde frito com fígado cru
Um príncipe
dinamarquês morde o lábio que não fala mais nada
Entre jontex,
sempre-livre, latas vermelhas, a um deslize da próxima página
O rei nu virou
um grito de gol
Estamos nos
tornando uma imensa periferia
Tirando o
resto
Eu me encontro
diante deste teto de estrelas imaginárias
Vazio e farto
Entre gente chata, oca e
Triste e
faminto
Com água até o
tornozelo e sedado
Tenho que sair
daqui
Tenho que
matar pessoas
Não tenho que
fazer nada
Não tenho
Não gosto de
minha tristeza
E isso não
significada nada
Porém...
Naqueles
mesmos lugares
De
esquinas e canções
Desviava
de conhecidos para sorrir a ela
Ali:
Princesa da Noite
Destruindo
todas a vontades e desejos em mim
Fazendo
deixar apenas uma
Ela
entoava uma canção
Cercada
de muitos
Aos
seus pés
Olhos atentos para qualquer gesto
A
guardavam para o presente
Tornando-a
temível, é claro
Chuva
caia em tom-primavera
Eu,
ser moribundo, imbecil total
Que
nunca almejou algo a mais do que ser atropelado e acabar com
vida-quase-rastejante
Revoltado infantil
Me
fascinava com ela
Dobrava
minha cabeça, alguns graus e observava atraído
Retraído
em meu mundo, como recusa do tal mundo real, andava a esmo e num silêncio.
Conhaque. Muito conhaque. Havia aquele círculo enorme em volta dela, a
pequena lua terrestre. Orgulhosa, mas carente de mimo. Sempre tive
quedas por mimar a lua. Ali estava. Peito meu balançou. Minhas antigas asas,
enferrujadas, se mexeram. Houve música e árvores. Sempre mudei minha paisagem. E com ela ali, o que eu queria enfim apareceu. Desenhei todo o mundo. Mudo paisagens. Cidade cinza é copo vazio. Conhaque demais. Ela ali dançava. Não como outras.
Seu próprio ritmo. Ela mostrava que vinha de outro lugar. Do lado de
lá. Daqueles lugares em que buscamos em pensamentos. Os desejos voavam. Num rompente atômico, criou-se conexões. Acima
fomos. Música e árvores. Sem pensar, como sempre é, estávamos no mar. Tínhamos
certeza de morrer ali no infinito terrestre. Deus aguado. Na água é que ela
gosta de estar. E fundo fomos... Quando em estralo de tempo me acordou.
Deprimido. Acordei em quarto vazio bem longe. Pensei que outra vez havia sonhado
o mesmo. Mas ali estavas. Olhando em meus olhos. A distâncias de dizer qualquer
fonema. Qualquer ruído. Ainda confundo o real. É pura invenção. Carnal. Selamos
beijo de boa vida; eu sei. A transformei numa pequena flor. Plantei aqui dentro. Somos hoje jardim.
Eu sei.
segunda-feira, 12 de maio de 2014
A música
Diante do imenso mar, em plena noite, consigo distinguir as nuvens do mar. Minha visão, desde pequeno, se acostumou com a escuridão. Vejo aquela leve silhueta da nuvem, todas elas se tornaram uma só. Nisso uma bola de luz surge do horizonte, pelo lado esquerdo de minha visão. Ela pula de uma nuvem a outra. Ela me faz crer em outras nuvens ali. Pula de uma em uma iluminando o céu e o mar de laranja. É bonito. Tenho a vontade de ser aquela luz que me hipnotiza e que no segundo momento some em direção ao céu. Lá em cima. Numa abóboda que não vejo mais. Numa cúpula que me engolia quando eu era pequeno. Pra lá a luz foi. Penetrando o firmamento. Destruindo o fio que segura toda essa ilusão chamada de terra-vida. Aonde meus pés descalços estão agora: tocando a areia da praia. É frio e estou deprimido.
O barulho do mar me toma. Sinto o peito afundando no vazio. Diante da escuridão do mar-céu que retorna, percebo o contrário do amor: o eu. A paisagem tenta me extorquir. Me aniquilar. Não deixo por orgulho. Lembro de relance, pegando na orelha do pensamento, daquela terça-feira. Não me lembro o dia mês sequer ano. Mas sei que era terça-feira, havia tormenta. O céu representava seu rosto. Falavas comigo através deles. Meus ossos roíam. Dizias que não gostavas de me ver em silêncio. Escutava em voo o que falavas. Me transformava em outro naquele momento. Como pedra te respondi a tua falsa fala. Casca de kiwi em vez de língua. Choravas em rua. Conseguisse, como agora, transformar céu e terra na mesma cor. Tudo ficou cinza. Lindo. Meu peito se abriu como canto de Urutau. Quando a vi flutuando para baixo lá do céu. Brincavas de pingo. Tentavas amar o chão que a negou no último momento.
O infinito hoje se tornou um sumidouro. Penetro neste velho espelho que me lembra você cravada em mim. Me volto ao carro, ou a bicicleta. Ou simplesmente a estrada. Não lembro. Não sei. Estou com sono. Muito sono.
O barulho do mar me toma. Sinto o peito afundando no vazio. Diante da escuridão do mar-céu que retorna, percebo o contrário do amor: o eu. A paisagem tenta me extorquir. Me aniquilar. Não deixo por orgulho. Lembro de relance, pegando na orelha do pensamento, daquela terça-feira. Não me lembro o dia mês sequer ano. Mas sei que era terça-feira, havia tormenta. O céu representava seu rosto. Falavas comigo através deles. Meus ossos roíam. Dizias que não gostavas de me ver em silêncio. Escutava em voo o que falavas. Me transformava em outro naquele momento. Como pedra te respondi a tua falsa fala. Casca de kiwi em vez de língua. Choravas em rua. Conseguisse, como agora, transformar céu e terra na mesma cor. Tudo ficou cinza. Lindo. Meu peito se abriu como canto de Urutau. Quando a vi flutuando para baixo lá do céu. Brincavas de pingo. Tentavas amar o chão que a negou no último momento.
O infinito hoje se tornou um sumidouro. Penetro neste velho espelho que me lembra você cravada em mim. Me volto ao carro, ou a bicicleta. Ou simplesmente a estrada. Não lembro. Não sei. Estou com sono. Muito sono.
sábado, 19 de abril de 2014
Vou cair na terra
Vou cair na terra.
Ficar quentinho lá dentro.
Mais perto de Júlia, Cecília, Dália.
De todas elas e eles.
Mais perto da beterraba do que do Céu,
Cantarei banhado em formol
Em homenagem ao chão.
Não ao infinito, mas ao finito.
Caído na terra, ao lado de meus amigos,
Mais louco que qualquer dentista em ataque de riso,
Tomarei providências para não fazer nada.
Vou cair na terra.
Já estava se passando da hora.
De ficar quentinho ao lado delas!
Boa viagem a mim!
Ficar quentinho lá dentro.
Mais perto de Júlia, Cecília, Dália.
De todas elas e eles.
Mais perto da beterraba do que do Céu,
Cantarei banhado em formol
Em homenagem ao chão.
Não ao infinito, mas ao finito.
Caído na terra, ao lado de meus amigos,
Mais louco que qualquer dentista em ataque de riso,
Tomarei providências para não fazer nada.
Vou cair na terra.
Já estava se passando da hora.
De ficar quentinho ao lado delas!
Boa viagem a mim!
domingo, 9 de março de 2014
Juma
vou contar a história de uma cultura
ela foi totalmente massacrada
de uma população inteira
sobraram a penas um pai
três filhas e uma neta
ela foi totalmente massacrada
de uma população inteira
sobraram a penas um pai
três filhas e uma neta
domingo, 2 de março de 2014
tempo-choro 10
se tivesse um piano faria um samba-canção
se tivesse uma nave viajaria pra depois de netuno
se tivesse força quebraria minha maior montanha
se tivesse coragem sairia de seus braços
se tivesse poder me tornaria criança e me mataria no balanço
faria um ato paradoxal deixando qualquer juízo para os espectadores
se tivesse uma nave viajaria pra depois de netuno
se tivesse força quebraria minha maior montanha
se tivesse coragem sairia de seus braços
se tivesse poder me tornaria criança e me mataria no balanço
faria um ato paradoxal deixando qualquer juízo para os espectadores
mentiras que o homem conta
poesia em mim cor de rola
sodomiza o universo
em camisa reutilizável
sou filho da puta de hoje
banhado a whisky na sacanagem roxa
que cheiro minha mão exala!
veludo preto
pelego amarelo
capô de fusca
colchão de fogo
perseguida invadida
perdi as horas
ganhei amores
chorei em tom de branco!
sodomiza o universo
em camisa reutilizável
sou filho da puta de hoje
banhado a whisky na sacanagem roxa
que cheiro minha mão exala!
veludo preto
pelego amarelo
capô de fusca
colchão de fogo
perseguida invadida
perdi as horas
ganhei amores
chorei em tom de branco!
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Levi-Brasileiro inventa mentiras para suportar
Tão fino era aquele silêncio que me tornei Rei
Permiti aos todos Eus que sonhassem acordados
Em meio ao decreto que permitia a troca de tempo-espaço sem aviso prévio
Me tornei menino e fiz de minha primeira namoradinha
A mais verdadeira Rainha
Tão cruéis que éramos que imitávamos nós mesmos
Nos matávamos entre imitações de caracóis, fogo e gente grande
Ela inventou a música
Me tornei um senhor velho que voava entre nuvens
E ela uma semente que desapareceu por cinco anos
Renascendo como uma enorme Figueira naquele morro arredondado
Sozinho pensei no que eu acrescentaria a toda a natureza a minha volta
Mas meus filhos apareceram em formato de rios
Era meu mundo e assim se fez
Entediei-me inúmeras vezes
Até que resolvi me expulsar de meu trono
Elegendo o pequeno grilo como mestre maior
Ele riu, negou e me chamou de idiota
Fiquei lisonjeado e parei de brincar.
Permiti aos todos Eus que sonhassem acordados
Em meio ao decreto que permitia a troca de tempo-espaço sem aviso prévio
Me tornei menino e fiz de minha primeira namoradinha
A mais verdadeira Rainha
Tão cruéis que éramos que imitávamos nós mesmos
Nos matávamos entre imitações de caracóis, fogo e gente grande
Ela inventou a música
Me tornei um senhor velho que voava entre nuvens
E ela uma semente que desapareceu por cinco anos
Renascendo como uma enorme Figueira naquele morro arredondado
Sozinho pensei no que eu acrescentaria a toda a natureza a minha volta
Mas meus filhos apareceram em formato de rios
Era meu mundo e assim se fez
Entediei-me inúmeras vezes
Até que resolvi me expulsar de meu trono
Elegendo o pequeno grilo como mestre maior
Ele riu, negou e me chamou de idiota
Fiquei lisonjeado e parei de brincar.
Tempo-choro 9
Era tudo tão suave e azul, calmo e sem insensatez criada ainda. O mundo inteiro estava nascendo. A Terra. Um tempo sem lugar. "Foi um sonho bom!" Acordamos. Ou seria que eu acordei? Quando cheguei ao Sol, nublado de tanto branco, estava em mim, vivo com todas as misérias possíveis. Tentei colori o cenário em minha volta. Mas não. Num jardim em branco e preto queria chorar de tão confuso. Sai andando pelo mundo, na chuva, enquanto tantos dormiam em chão firme.
Meu corpo, meu passado, era um objeto estranho. Sentia coceiras em todo corpo. Parecia que meu corpo estava todo vermelho prestes a se cobrir de feridas.Um grande pus andante foi o que me tornei naquela rua. Cidade inútil me cercava. Andava querendo não querendo chegar em lugar nenhum. Mas que lugar? Que quarto? De quem? Enquanto isso o corpo se transformava. Me tornei um grande nariz. Sentia minha massa epidérmica em formato de um grande pênis, que já não era mais meu, naquela mistura de cigarro e álcool barato crescendo em minha boca. Aquilo não era uma boca. Eu não era nada. Eu-nada. Um nariz desforme que via o seu próprio pênis sair de sua imagem inicial. O mundo fazia-se como uma abismo de luz. Eu via o céu se tornar um infinito azul monstruoso. Me invadia o mundo, enquanto eu notava que nada daquilo lá fora era válido. Percebi o sofrer-esgotado.
Diante daquele caminho que se ia fazendo sem objetivo, meu nariz renegava o meu cheiro inicial. Num piscar percebi meu resto de corpo. Minhas mãos me causavam asco. Fediam! Fediam por demais aquelas inúteis mãos! Cheiro laranja. Lixo tátil. Não podia lavá-las com água. Era necessário sangue, mas sangue não havia mais. Eu queria arrancar todos os membros e vê-los agonizando. Atirá-los naqueles buracos que nasciam naquela terra fria. A chuva-choro, naquele tempo-choro, corroía des-pensamentos. Desejei trocar minha vida pelo silêncio.
Num átimo de força desmaiei. Finalmente voltei a sonhar no oco. A criar o inventado. Misturei todas as minhas nuvens! As costurei num retalho de beijos de paixão. Entre mucosas roxas e rolas longínquas, colossais, inventei os pássaros mais coloridos para além de voar, nadarem! Criei meu novo chão com aquela pele branca tatuada nos meus ossos. Tudo de olhos fechados, cerrados, petrificados e mudos... Queimei todas as minhas esperanças e quebrei minhas pernas para não fazer meu caminho. Não seguir. Morrer em sonho. Desorganizar qualquer vontade. Desmentir a morte. Deixar de ser para não querer. Arrancar minha pele. Ver o mundo nascer e sentir sua dor.
Eu velejava em mares que tinham a areia branca
praia limpa que imitava a Lua como uma atriz de teatro erótico
mar que sempre anunciou o seu fim embora a praia mantinha-se infinita
hoje percebo que meu barco, embora possa nas estrelas chegar,
esta num novo mar, parado, sem vento, sem movimento
crendo apenas no amarelo do Sol
Meu corpo, meu passado, era um objeto estranho. Sentia coceiras em todo corpo. Parecia que meu corpo estava todo vermelho prestes a se cobrir de feridas.Um grande pus andante foi o que me tornei naquela rua. Cidade inútil me cercava. Andava querendo não querendo chegar em lugar nenhum. Mas que lugar? Que quarto? De quem? Enquanto isso o corpo se transformava. Me tornei um grande nariz. Sentia minha massa epidérmica em formato de um grande pênis, que já não era mais meu, naquela mistura de cigarro e álcool barato crescendo em minha boca. Aquilo não era uma boca. Eu não era nada. Eu-nada. Um nariz desforme que via o seu próprio pênis sair de sua imagem inicial. O mundo fazia-se como uma abismo de luz. Eu via o céu se tornar um infinito azul monstruoso. Me invadia o mundo, enquanto eu notava que nada daquilo lá fora era válido. Percebi o sofrer-esgotado.
Diante daquele caminho que se ia fazendo sem objetivo, meu nariz renegava o meu cheiro inicial. Num piscar percebi meu resto de corpo. Minhas mãos me causavam asco. Fediam! Fediam por demais aquelas inúteis mãos! Cheiro laranja. Lixo tátil. Não podia lavá-las com água. Era necessário sangue, mas sangue não havia mais. Eu queria arrancar todos os membros e vê-los agonizando. Atirá-los naqueles buracos que nasciam naquela terra fria. A chuva-choro, naquele tempo-choro, corroía des-pensamentos. Desejei trocar minha vida pelo silêncio.
Num átimo de força desmaiei. Finalmente voltei a sonhar no oco. A criar o inventado. Misturei todas as minhas nuvens! As costurei num retalho de beijos de paixão. Entre mucosas roxas e rolas longínquas, colossais, inventei os pássaros mais coloridos para além de voar, nadarem! Criei meu novo chão com aquela pele branca tatuada nos meus ossos. Tudo de olhos fechados, cerrados, petrificados e mudos... Queimei todas as minhas esperanças e quebrei minhas pernas para não fazer meu caminho. Não seguir. Morrer em sonho. Desorganizar qualquer vontade. Desmentir a morte. Deixar de ser para não querer. Arrancar minha pele. Ver o mundo nascer e sentir sua dor.
Eu velejava em mares que tinham a areia branca
praia limpa que imitava a Lua como uma atriz de teatro erótico
mar que sempre anunciou o seu fim embora a praia mantinha-se infinita
hoje percebo que meu barco, embora possa nas estrelas chegar,
esta num novo mar, parado, sem vento, sem movimento
crendo apenas no amarelo do Sol
Jogo de cartas
Era noite de cachorros engarrafados
Jogatina suja, pois, carcereiros da vida fazem de tudo uma
certa aposta
Na mesa aquela grande-mão-destino estava sendo feita
Dois valetes de espada emperram entre si
Distraídos, como código de vencedores, dentro do choro do
poetinha
Aquela dama apareceu
Não havia sinal nenhum que a identificasse
Como que caindo do céu ou feita ainda do rascunho
Não se via se quer se era preta ou vermelha
“O que seria? Qual é o seu destino” interrogaram-se por
blefe
Aquela dama semelhava-se como aqueles dançarinos coloridos
Que se apropriam até mesmo de trincas para brincar
Embora a moral o julgue fora de um imaginário tabuleiro
A dama insinuava-se para aquela tal trinta com valetes de
espadas
Os valetes, jovens como príncipes, apelaram aos velhos reis
Sábios como aparentam ser, os quatro nórdicos analisaram
A dama seria de longa data de copas, embora tivesse sido de
outro tipo de taça
O seu brasão, ou seu desenho, se aparecia mais um útero
aéreo que outra coisa
Um dos reis, o nórdico dourado, disse que a viu vestida de
prata, de bronze uma vez
E até mesmo em uma festa de bolero, mas toda de roxa
Sobrancelha feita a lápis e uma faixa de Miss Suéter
“Quente! Se é que me entendem?” Terminou o nórdico agora
ouro-rosado
A grande dúvida pairava no ar noturno em meio aquela trinta
Baixado o jogo as cartas voaram para cada canto da
mesa-imaginário
Misturados em meio a muitas cartas, naquela pilha que se
assemelhava a cadáveres
Os valetes sonhavam como qualquer carta solitária sem jogo
feito
A dama sem naipe estava posta do lado de fora do b-aralho
A luz daquele dia desrepleto revelou o jogo falso que foi
feito
Embora a grande-mão-destino houvesse batido
O jogo em seu começo já estava perdido
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Levi Brasileiro - segundo anúncio
Você não precisa fazer isso. O melhor movimento a se fazer é acreditar em uma angústia possível. Criar uma a altura de uma boa verdade. A crença na dor é maior que a da felicidade. Até porque a validade entre eles é totalmente distinta. Mas aqui estou eu: frente ao hospital da cidade. Hospital extremamente antigo, mas não o suficiente para me enganar que eu nasci ali. O máximo é que eu morra ali. Mas minha morte será planejada. Está planejada. Passei minha vida inteira vivendo a favor do acaso. Nunca tomei uma decisão premeditada. Sempre aceitei o caminho daquilo que eu sentia naquele exato momento em que eu não tinha controle de mim. Nunca tive. Repeti a palavra nunca inúmeras vezes na minha vida. Grande parte dela estava relacionada a problemas de saúde. Prefiro morrer do que permanecer em coma ou ligado a uma máquina que me alimente, enquanto agonizo e não faço nada da minha vida. Sem falar nos meus familiares me olhando com aquela cara de compaixão e pena. A semelhança deste estado com o qual estou agora é gritante. Todos nós somos miseráveis. Frágeis ao ponto de sermos animais que querem comer um ao outro. A vida para mim é um eterno afogamento em bando: sempre tem alguém querendo subir em você para ele sobreviver. Não são todos assim. Mas não é um só. Se for ele deve estar matando alguém. Agora mesmo, talvez ele seja aquele homem branco ali na esquina. Sim! Ele mesmo, que sofre de dores agudas no peito. E nesse exato momento ele pensa o mesmo que eu: as dores tem adjetivos musicais. A dele é aguda. A minha é uníssona, bem ao centro do peito. Ou da cabeça. Não sei ao certo. Nunca sei nada. Mas este homem sabe. Ele planeja entrar no quarto de sua ex-esposa. Ela vai estar com a cabeça enfaixada, foi aonde ele bateu com mais força. Ela vai estar sedada, não conseguirá gritar, nem falar nada, já que a faca que ele a atingiu entrou um pouco embaixo de seu peito esquerdo. "Você não precisa fazer isso!" Foi o que ela disse antes dela a atacar. Mas os maridos nunca escutam as mulheres. É o dito popular. Perfeccionista como ele é, assim como todos os seus colegas cobradores de ônibus, ele vai terminar o que não conseguiu. Ele não consegue dormir, coitado. Ninguém consegue dormir. Quem dorme num calor desses? Com todas essas dores que sentimos? Deixo o homem em paz, assim como a mulher dele, ali na terceira janela da esquerda para direta, segundo andar, com a cortina branca. Na frente do hospital me divirto um pouco. Vejo a vetustez em si. Perceberam a palavra que usei? Vetustez! Aprendi uma nova palavra sobre a velhice. Eu gosto da velhice! Gosto destes seres que é visível a qualquer idiota que a morte está muito perto. Olhar uma criança correndo no parque é bonito, mas não passa disso. Não instiga a ninguém a pensar na morte. A velhice é relativa. A sabedoria é relativa. A vida não. Nem a morte. É isso que me intriga. Como aquele sujeito que entra no hospital com uma bala de calibre 38, ou qualquer outra coisa que mata, não entendo de armas, embora seja alvejado todo o dia. Todos nós! A sangue em nossos dentes. Se você ficar de olhos fechados e escutar o mundo, pois nunca há silêncio, você notará o sangue escorrendo na parede do nosso tempo presente. Não quero dizer que o tempo existe! Quero dizer que a vida já está manchada de sangue. É natural. Como tomar chá de sene para peidar ou cagar. Mas aquele sujeito levou um tiro porque disse ao seu sogro que ele seria avô. O homem velho, não, velho não, homem cansado, tinha quarenta e dois anos, mas já está cansado desde os quinze, pegou uma arma e apontou para o sujeito. "Você não precisa fazer isso!" É o que todos repetem. Isso cansa, sabe? Eu vou parar de escrever, embora algo me diz que não devo fazer isso de novo. Mas estou cansado, com dor no peito e nas costas. Luto diariamente com meus pensamentos e ideais. Já deixei a muito tempo de acreditar em mim mesmo. Não aturo mais pensamentos. Quero histórias. Mesmo que sejam curtas. De preferência sonhos, não desejos, mas sonhos, como estes que me dominam e me inventam quando fecho os olhos e durmo. Ontem sonhei que estava fugindo de uma guarnição do exército islâmico. Não sei ao certo o país, mas vestiam roupas de Aladim. Usavam metralhadoras. Conseguia fugir depois de achar uma motocicleta e correr nela pelo campo a caminho da fronteira. Era bonita a imagem. As imagens!
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
Levi Brasileiro - Primeiro anúncio
O futuro morreu, sem esperanças, sem planos. Os meus desejos sobrevivem como princípios de histórias que escrevo em minha cabeça. Pensamentos claros esperando a luz cair do céu. Não vai cair. Nem meus pensamentos são de fato verdadeiros. Eles seguem como rebanhos a serem abatidos. Velha ordem. Velha em relação ao que? A nada. No final tudo isso será revelado no meio do nada. Minhas dores nas costas estão maiores. Mas voltando aquilo que eu comecei a escrever, o meu presente está doente. Estou engordando de tanta fome pelo inverno. Não me encaixarei direito no mundo. Aprendi hoje que não preciso entender como a vida funciona. Posso até mesmo negá-la. Negaria se não falhasse nisso também. Dormirei sozinho querendo acordar cedo. As nuvens estarão baixas e cinzas. Lutarei nas imagens do céu. Acordarei em meio absurdo, sem achando necessidade de dormir.
domingo, 12 de janeiro de 2014
cobra amarela
no meio do verde
entre meus pés descalços
uma cobra amarela de duas cabeças apareceu
ela tinha tatuagens em vermelho e verde
passou por mim em velocidade média
causou medo mesmo não fazendo nada
percebi que em mim um desejo
de matá-la se despertou
mas era um desejo condicionado
aprendi a matar cobras
ainda mais amarelas e tatuadas
qual era o traidor nesta história
quem era o assassino
em meia a tela de informação
onde todos observam este tal real que vivemos
presos decapitam outros presos
cobras atacam cobras
cobras assistem cobras mortas
de todas as cores elas são
porem
no meu sonho
nem eu nem a cobra amarela e tatuada
morrem
entre meus pés descalços
uma cobra amarela de duas cabeças apareceu
ela tinha tatuagens em vermelho e verde
passou por mim em velocidade média
causou medo mesmo não fazendo nada
percebi que em mim um desejo
de matá-la se despertou
mas era um desejo condicionado
aprendi a matar cobras
ainda mais amarelas e tatuadas
qual era o traidor nesta história
quem era o assassino
em meia a tela de informação
onde todos observam este tal real que vivemos
presos decapitam outros presos
cobras atacam cobras
cobras assistem cobras mortas
de todas as cores elas são
porem
no meu sonho
nem eu nem a cobra amarela e tatuada
morrem
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